Reguladores impõem mais controle sobre empresas expostas a riscos climáticos
Mudanças no clima podem fazer a economia mundial encolher quase 30% ao longo dos próximos 25 anos e empresas começam a ser pressionadas para medir e divulgar o tamanho do risco a que estão expostas
Por Alexandre Inacio
As mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças à economia global. Ainda que uma série de medidas tenham começado a ser implementadas e a transição energética seja cada vez mais palpável em todo o mundo, algumas estimativas dão conta que, dado o ritmo atual de ações, os danos causados pelas mudanças climáticas seriam equivalentes aos provocados por uma guerra permanente.
O estudo Comprometimento Econômico das Mudanças Climáticas, publicado pela revista Nature neste ano, indica que o PIB mundial poderá encolher 29% nos próximos 25 anos dada a queda na produtividade da economia do mundo que as mudanças climáticas irão provocar.
O estudo da Nature nem está entre os mais pessimistas. Pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha, apostam que a retração na economia mundial poderá chegar a 29% nas próximas duas décadas e meia. No ano passado, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial estimou que as mudanças climáticas custarão entre US$ 1,7 trilhão e US$ 3,1 trilhões ao ano, até 2050, levando em consideração os dados provocados à infraestrutura, agronegócio e saúde humana.
29%
É o tamanho da queda que a economia mundial poderá ter até 2049, resultado da mudança climática
Diante de números superlativos, empresas do mundo todo terão que reportar o tamanho da exposição aos riscos climáticos. O IASB (International Accounting Standards Board) já atualizou os padrões internacionais de relatórios financeiros (IFRS), exigindo que as empresas divulguem ao mercado financeiro informações sobre riscos e oportunidades relacionados ao clima a que estão expostas, indo além das informações sobre sustentabilidade.
O Brasil foi o primeiro país a adotar tal norma oficialmente. As empresas listadas em bolsa poderão utilizar os novos padrões a partir de 2025 de forma voluntária. Em 2027, a divulgação será obrigatória para todas as companhias listadas das classes 1 e 2. Porém, as empresas com operações nos Estados Unidos e Europa já precisam se adequar aos novos parâmetros.
“Diante da urgência, as empresas começam a demandar novas soluções que permitam medir a exposição tanto aos riscos físicos das mudanças climáticas quanto aos riscos de transição, que envolvem aspectos regulatórios, tecnológicos e políticos”, disse Henrique Pereira, co-fundador e diretor de operações da WayCarbon. A consultoria brasileira teve 80% do seu capital adquirido pelo grupo Santander, em 2022.
“Ainda não existe um setor que esteja mais preparado que outro para os impactos e riscos das mudanças climáticas para os negócios.”
Melina Amoni, gerente de Risco Climático
Pouco mais de dois anos após a venda para o banco espanhol, a WayCarbon quer agora medir o tamanho da exposição das empresas brasileiras aos riscos climáticos. A consultoria acaba de lançar uma plataforma desenhada para calcular as perdas financeiras decorrentes de riscos climáticos que afetam empresas e cidades.
A WayCarbon investiu R$ 10 milhões nos últimos 2 anos no desenvolvimento de soluções digitais voltadas à transição para a economia de baixo carbono. A nova plataforma, que quantifica as perdas financeiras geradas por crises climáticas, como inundações, ondas de calor, seca meteorológica e incêndios florestais, considera diferentes cenários de aquecimento em projeções até 2100.
“Diante da urgência, as empresas começaram a demandar novas soluções que premitam medir a exposição aos riscos das mudanças climáticas.”
Henrique pereira diretor de operações
Para Melina Amoni, gerente de risco climático e adaptação da WayCarbon, todos os setores econômicos do Brasil estão expostos em alguma medida. Em sua avaliação, os mais críticos são aqueles que ameaçam de alguma forma a segurança e a economia nacional, como portos, aeroportos, rodovias, geração de energia e abastecimento. “Ainda não existe um setor que esteja mais preparado. Talvez, o setor financeiro esteja mais adiantado dada a pressão que existe historicamente sobre o risco de suas carteiras”, disse.
Apesar dos riscos, a WayCarbon considera que sua nova plataforma é capaz de identificar oportunidades para M&As. No caso do setor elétrico, por exemplo, Pereira lembra que as geradoras estão buscando diversificar cada vez mais suas fontes de geração. Seja para avaliar riscos ou oportunidades, as empresas estão de olho em como mensurar os riscos. Afinal, uma das máximas da gestão corporativa diz que só é possível gerenciar aquilo que se pode medir.