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Volvo eletrifica as máquinas pesadas e aposta no Brasil

Com investimentos de US$ 3 bilhões em descarbonização, marca sueca traz para o Brasil sua linha de equipamentos elétricos para construção, mineração e agronegócio

Crédito: Claudio Gatti

O CEO para América Latina, Luiz Marcelo, sobre um modelo de carregadeira 100% elétrica que a fabricante está trazendo para o mercado brasileiro (Crédito: Claudio Gatti)

Por Allan Ravagnani

Os produtos da multinacional sueca Volvo são reconhecidos mundialmente por sua segurança e eficiência. A companhia, que foi a inventora do cinto de segurança de três pontos, lá nos anos 50, e a primeira a aplicar airbags em seus veículos, vem atuando agora com grande afinco na frente ambiental, produzindo veículos e equipamentos cada vez menos poluentes, na busca pela meta de ter 35% de seus veículos vendidos sem emissão de gases efeito estufa até 2030, e de chegar a 100% até 2040.

Os investimentos da Volvo para a descarbonização somam quase US$ 3 bilhões, e a unidade latino americana é uma das mais comprometidas com a meta. Além do lado romântico de quando se fala em sustentabilidade, a companhia se adianta à concorrência no mercado de linha amarela, que movimenta US$ 250 bilhões por ano, segundo o ranking Yellow Table. O presidente da Volvo CE para a América Latina, Luiz Marcelo Daniel, recebeu a DINHEIRO na sede da companhia em Curitiba (PR), para apresentar a linha elétrica de equipamentos pesados para construção, mineração e agronegócio que está chegando ao continente latino americano.

Entre as maiores vantagens, além da menor poluição, as máquinas elétricas possuem:
uma autonomia de cerca de 8 horas, o tempo do turno de um operador.
função de carregamento rápido, que pode ser acionado nas pausas, recarregando de 15% a 80% da bateria em uma hora,
opção de operar cabeadas diretamente na rede, em casos de curtas distâncias.

“Elas também não fazem barulho, já imaginou uma obra na cidade sem fumaça nem ruídos?”, apontou Luiz Marcelo.

“Nós apostamos na energia limpa. Teremos, até 2040, todos os nossos equipamentos movidos por fontes que não poluam.”
Luiz Marcelo Daniel, presidente Volvo CE, América Latina

A transição para a eletrificação da Volvo CE foi planejada para começar pelos centros urbanos, onde causaria maior impacto, no entanto, já começou a ir para lugares mais isolados, como os campos do agro e sítios de mineração. O diretor de Eletromobilidade da empresa, Rafael Nieweglowski, afirmou que a boa recepção das cidades acelerou o avanço para o campo. “Agora vamos ampliar fronteiras, máquinas de maior porte, que transportam grãos, minério, pelotas, que escavam”, afirmou. A meta da companhia é que 30% do total das vendas sejam para o agronegócio até 2030.

Em relação ao custo dessas máquinas, Nieweglowski apontou que ele tende a cair conforme se aumenta a produção, mas que, hoje em dia, as máquinas têm um payback de 3 anos, contando a redução de 40% na manutenção, nos gastos com combustível e no preço da energia. “Ainda não é o cenário perfeito, mas estamos trabalhando para que uma máquina elétrica não seja mais de 50% mais cara do que uma a diesel. Hoje, ela custa o dobro”, completou.

Rafael Nieweglowski e Luiz Marcelo Daniel ao lado de uma escavadeira compacta e elétrica, cuja bateria consegue ser 100% carregada em
uma hora (Crédito: Claudio Gatti)

É importante ilustrar ao leitor que a Volvo é uma companhia de quase 100 anos de história, com mais de 100 mil funcionários, dividida em quatro grandes unidades de negócios.
A Volvo CE (Linha Amarela), Volvo Trucks (Caminhões), Volvo Buses (Ônibus) e a Penta, com foco em motores marítimos e industriais.
A unidade produtora de carros da marca foi vendida no início dos anos 90 para a Ford e hoje pertence à gigante chinesa Geely.
Já a história da Volvo CE é bem mais antiga, de 1832, tendo atuado na fabricação de trens, dos primeiros submarinos torpedeiros no mundo, em 1880, e do primeiro motor à combustão da Suécia, em 1893.

HIDROGÊNIO

Parte do investimento na descarbonização também passa por explorar o potencial do combustível de hidrogênio, o elemento mais abundante na natureza. “Eu acho que talvez esse seja o capítulo mais apaixonante de todos, em termos de engenharia, a transformação da indústria de hidrogênio”, afirmou Daniel, engenheiro de formação.

Ele aponta que o hidrogênio usado ainda não é limpo, pois necessita-se de combustíveis fósseis em sua produção. “Nós estamos apostando na transição para o hidrogênio verde, a partir da eletrólise, que irá alimentar as células, sem emissões de carbono”, disse.

2,9 bi de dólares foram investidos em na transição energética
10 bi de dólares foi a receita com as vendas da linha amarela em 2023

E nesse campo do hidrogênio, a Volvo CE tem uma grande participação. Há três anos, a companhia investiu 600 milhões de euros (R$ 3,7 bilhões) para criar a Cellcentric, uma joint venture com a Daimler – dona da Mercedes Benz – que produz células de hidrogênio para movimentar caminhões, ônibus e máquinas. “A produção do hidrogênio verde está acelerada no planeta Terra. Com várias iniciativas importantes, inclusive o Brasil faz parte dessa iniciativa. No Nordeste, nós temos um polo de produção de hidrogênio verde”, completou.

A fábrica da Volvo CE em Pederneiras (SP) (abaixo) é referência em qualidade e produtividade, exportando suas máquinas pesadas para 19 países, incluindo os EUA
(Humberrto Michaltchuk)

PÓS-VENDA

A Volvo CE confia tanto na linha elétrica que está em fase de “emprestar” essas máquinas para grandes clientes testarem por até seis semanas. No momento, a companhia está com alguns equipamentos operando em uma grande pedreira de Caxias do Sul (RS). “Eles estão trabalhando no limite, testando as máquinas no ritmo mais intenso de trabalho, colocando o máximo de carga, e é isso mesmo que nós queremos, que a máquina seja utilizada ao máximo”, disse Nieweglowski.

Entre as garantias oferecidas, a principal é a de seis anos para a bateria, que tem uma estimativa de vida de 10 anos. “A bateria é o principal ponto de dúvida do cliente na hora de comprar”, segundo o presidente. “Isso é uma segurança a mais para ele, que pode acompanhar a saúde da bateria do equipamento, igual é no celular, e se essa saúde baixar de 80%, a Volvo CE já troca a bateria”, completou.

Mas e depois dos 10 anos de uso da máquina? Para isso, a Volvo comprou o negócio de baterias da Proterra, por US$ 210 milhões, para manejar as baterias usadas. “Essa unidade tem uma série de projetos para transformar essas baterias em outros produtos”, disse Daniel.

No pós-venda, a companhia tem um centro avançado de monitoramento das máquinas em operação, chamado Uptime, do conceito de tempo de atividade disponível, onde observam todas as máquinas em uso pelo País e fornecem relatórios detalhados sobre o estado do equipamento – da Volvo e de outras marcas – para que o cliente possa fazer a manutenção preventiva e tenha maior controle de segurança do sítio.

A sala de operações é repleta de monitores que acompanham, em tempo real, diversas operações. A empresa oferece também suporte remoto, por vídeo, onde um técnico consegue fazer pequenos reparos ou diagnosticar algum defeito, chegando ao local com a peça certa de reposição. “Isso evita gasto com viagens e economia de tempo, especialmente em locais mais isolados, onde o distribuidor mais próximo está há 300, 400 quilômetros de distância”, afirmou diretor da área, Alexandre Flatschart. Segundo ele, hoje, o faturamento da Volvo CE em pós-vendas é da ordem de US$ 100 milhões, e o alvo é dobrar até 2030, em um mundo mais limpo e seguro.

INOVAÇÃO

O DNA de segurança traz consigo a necessidade de se aumentar o investimento em inovação na organização, que aplica cada vez mais tecnologia em seus produtos e nas soluções no pós-venda. Para trazer novas ideias de fora para dentro da companhia e fomentar cultura inovadora, a Volvo criou uma incubadora de startups em Gotemburgo, na Suécia, chamada CampX. “São selecionadas diversas startups com boas ideias que fazem sentido para as necessidades da companhia, e elas recebem investimentos e incentivos para prosperar. É um projeto que deu muito certo e agora será criado um CampX nos Estados Unidos, na Carolina do Norte”, afirmou Daniel.

Olhando para dentro, em sua sede brasileira, a Volvo CE fomenta a inovação através de uma plataforma digital, onde os funcionários são incentivados a dar ideias e propor soluções para melhorar seus processos de trabalho. “Há duas semanas nós selecionamos os trabalhos dos grupos que se inscreveram, e a gente se surpreendeu tanto com a qualidade deles, que ao invés de escolhermos cinco, como era previso, escolhemos doze ideias para serem trabalhadas na incubadora, por isso é tão importante aproveitar a criatividade das pessoas, elas têm um background diverso, visões diferentes, tudo isso é muito enriquecedor”, completou o executivo.

RESULTADOS

No dia 18 de julho a companhia divulgou seus resultados referentes ao segundo trimestre de 2024, mostrando uma leve retração nos números na comparação com 2023. Segundo o CEO Global da Volvo, Martin Lundstedt, o mercado total de máquinas encolheu, em grande parte devido a uma desaceleração na Europa, Ásia e Estados Unidos. Já a América do Sul e a China cresceram.

“Na América do Sul, o mercado cresceu impulsionado pelo Brasil e Peru”, apontou o presidente global, que salientou a nova e ambiciosa linha de produtos lançados, como uma gama modernizada de escavadeiras máquinas elétricas, incluindo a primeira escavadeira elétrica sobre rodas. “Continuamos impulsionando a inovação para permanecer na vanguarda da transformação das indústrias, com soluções mais sustentáveis para a sociedade em geral”.