Turnaround: o momento da virada
Por César Souza
A vida se compõe de uma sucessão, nem sempre linear, de etapas. No entanto, a maioria das pessoas acaba se esquecendo disso e repete, automaticamente, a velha fórmula, como se a jornada tivesse um único tempo. Como se a existência de uma pessoa se resumisse a um só ato, marcado por um roteiro rígido, que nos leva a insistir em atitudes conhecidas para não corrermos risco de cometer novos erros. E, assim, muitas de nossas escolhas recaem em soluções desgastadas e rituais nos quais desperdiçamos oportunidades e tempo preciosos.
O icônico dramaturgo William Shakespeare afirmou que o ser humano tem “sete idades” e a vida “sete atos”.Já o imaginário popular credita “sete vidas” ao gato. Porém esse número cabalístico ignora o fato que cada pessoa pode ter tantas chances na vida quantas estiver disposta a viver.
O melhor momento para mudar é quando tudo vai aparentemente bem. Entretanto, há alguns momentos nos quais somos forçados a nos reinventar. Precisamos sempre estar com o radar ligado, captando o momento mais adequado para avirada. Este peculiar e turbulento momento que estamos atravessando é um deles.
Precisamos acreditar na capacidade de mudar e criar uma nova chance. Podemos aprender a relevância dessa atitude através do relato de turnarounds de sucesso tanto de empresas quanto de carreiras. Em ambas as situações, a decisão mais importante é a de assumir as rédeas da própria história, em vez de confiar sua trajetória ao destino. Souberam perceber alternativas e construir um novo momento rumo a um outro patamar. Tiveram coragem de tomar decisões e agir na transformação da própria realidade.Fizeram acontecer. Renasceram!
Um ponto relevante no turnaround bem sucedido tanto de empresas quanto de pessoas é o fato de não se limitarem a mudar depois de serem atingidas por problemas insuperáveis. Percebem, em algum momento, a necessidade de criar a próxima chance. Compreendem as circunstâncias, não negam a realidade, acreditam em si, cavam oportunidades, têm coragem de tomar decisões difíceis e implantam ações para atingir o próximo patamar. Deste modo, inauguram um novo ato nas suas vidas. Normalmente, sobram dúvidas sobre esse processo. Como enfrentar a hora da verdade? Como fazer acontecer?
Chegou a hora de várias empresas em diversos negócios criar circunstâncias favoráveis, tomar decisões corajosas e produzir ações que as direcionem ao próximo patamar de suas histórias. Ficar esperando que situações inesperadas ou indesejadas forcem mudanças, quando não tiver mais jeito, não pode mais ser visto como opção.
A grande maioria dos líderes e dirigentes empresariais continua sem querer olhar para o somatório de circunstâncias que poderá afetar suas empresas. Precisamos de coragem para executar as mudanças que precisam ser enfrentadas
As empresas precisam se reinventar, para aumentar o seu prazo de validade e garantir o seu manhã. O novo patamar pode significar “pivotar” seu produto ou serviço, para utilizar um termo bastante moderno do jargão das startups, passando a atender novas necessidades de consumo conquistando novos nichos de clientes; criando outros modelos de negócios.
Para chegar lá, as organizações podem criar inúmeras alternativas, incluindo investir em tecnologia; atrair um novo sócio; promover fusão ou aquisição de outra empresa; abandonar uma linha de produtos; monetizar ativos não relevantes; criar novos serviços, diversificar os negócios, alterar a forma de se relacionar com clientes, renegociar dívidas, zelar pelo retorno no capital investido, desenvolver parcerias estratégicas, investir no desenvolvimento de um novo perfil de pessoas etc.
Em qualquer circunstância permanece válida a “regra de ouro” em qualquer projeto de mudança organizacional: os líderes e gestores precisam mudar pelo menos na mesma intensidade e ritmo com que desejam promover mudanças nas suas empresas. Precisamos dar o exemplo e ser a mudança que desejamos implementar nas nossas organizações.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda