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Engie e dinamarquesa Vestas prometem empurrão na energia eólica

Em meio às incertezas do setor, Vestas investe R$ 130 milhões para desenvolver nova turbina e firma acordo de R$ 2,5 bilhões com Santander; Engie Brasil injeta R$ 13,6 bilhões em renováveis

Crédito: Philippe Turpin

A energia produzida pelos ventos é abundante no Brasil, além de ser a mais barata e a que gera maior retorno financeiro para a economia do País (Crédito: Philippe Turpin)

Por Letícia Franco e Allan Ravagnani

Se na última década, sobretudo a partir de 2012, quando a energia eólica no Brasil cresceu exponencialmente com novos parques, demanda em leilões e o interesse de indústrias em uma nova fonte renovável e competitiva, desde 2022 o setor vem desacelerando com a redução significativa na demanda por energia. Com a crise no ar, a Vestas, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, e a Engie Brasil, empresa líder em energia renovável no País, sopram a favor do fortalecimento da fonte.

Entre as medidas:
a Vestas vai investir R$ 130 milhões para fabricar novos modelos de turbinas, além de ter firmado um acordo com o banco Santander, que garante R$ 1 bilhão em financiamento para fornecedores.
Já a Engie vai desembolsar R$ 13,6 bilhões em geração de energia renovável entre 2024 e 2025, contemplando projetos eólicos e solares.

As medidas prometem turbinar novamente a maior fonte de energia renovável para a matriz elétrica nacional e acelerar a transição energética.

Na última sexta-feira (9), a Vestas detalhou seu pacote de iniciativas para desenvolver a modalidade no Brasil, com aporte da ordem de R$ 130 milhões. Com isso, a companhia dinamarquesa passará a produzir uma turbina de última geração, a V163-4,5, em sua fábrica em Aquiraz, no Ceará.

Mais de 80% dos materiais devem ser produzidos no Brasil, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento de tecnologias nacionalmente. O novo modelo, considerado mais eficiente para velocidades de vento médias a baixas, será produzido paralelamente às turbinas V150, já desenvolvidas pela empresa no País. “Vemos um potencial riquíssimo e estamos confiantes com a transição energética no Brasil. Precisamos investir e assegurar uma indústria nacional forte”, disse Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para a América Latina, durante o evento de anúncio do pacote.

Além disso, a companhia fechou um acordo com o Banco Santander, firmado inicialmente em R$ 1 bilhão, mas que pode ser ampliado para até R$ 2,5 bilhões, para disponibilizar condições competitivas de liquidez aos fornecedores do setor eólico.

O programa busca aumentar as estratégias financeiras para a cadeia de suprimentos do setor de atuação da Vestas, com a possibilidade de antecipar recebíveis com vantagens progressivas. O critério estipulado é a performance ESG de cada empresa.

A Vestas também anunciou a assinatura de um Protocolo de Intenções com o Governo do Ceará para incentivar o desenvolvimento de novos projetos de geração de energia eólica no estado.

(Divulgação)

“Vemos um potencial riquíssimo e estamos confiantes com a transição energética no brasil. precisamos assegurar uma indústria nacional forte e aumentar a segurança energética.”
Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para América Latina

Já a Engie Brasil, que atua em geração, transmissão e comercialização de energia elétrica, transporte de gás e soluções energéticas, vai investir R$ 13,6 bilhões em geração de energia renovável no Brasil entre 2024 e 2025.
Na geração, foi concluído o comissionamento dos 70 aerogeradores do Conjunto Eólico Santo Agostinho (RN), totalizando 100% da capacidade instalada (434 MW), sendo que, destas, 69 já estão em operação comercial e uma em teste.
Além disso, entraram antecipadamente em operação comercial 15 unidades geradoras do Conjunto Eólico Serra do Assuruá (BA). O projeto, com conclusão prevista até o final de 2025, terá 846 MW de capacidade instalada.
Também foram registrados avanços nas obras do Conjunto Fotovoltaico Assú Sol (BA), que totalizará 752 MWac (895 MWp) após seu término, estimado para 2025.

Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, esteve no Ceará para o lançamento do projeto da Vestas, ressaltando a pluralidade de fontes de energias limpas no Brasil (Crédito:Tauan Alencar)

O Conjunto Eólico Serra do Assuruá, na Bahia, está operando comercialmente desde 6 de agosto, após autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esta primeira ativação comercial representa 8% da capacidade instalada total. Ele será composto por 24 parques eólicos, com 188 aerogeradores e capacidade instalada total de 846 MW.

O projeto recebeu investimentos de R$ 6 bilhões e vai gerar 3 mil empregos diretos e indiretos. “O início antecipado da operação comercial de Serra do Assuruá é um marco na implantação de um dos maiores projetos de energia eólica já construídos em fase única pelo Grupo Engie no Brasil e no mundo, com conclusão prevista até o final de 2025”, afirmou o presidente da companhia, Eduardo Sattamini.

Em consonância com sua estratégia de crescimento, a Engie Brasil finalizou o primeiro semestre de 2024 com volume recorde de investimentos em geração renovável. Com R$ 2,1 bilhões alocados no trimestre, a companhia já soma R$ 5,6 bilhões investidos nos primeiros seis meses do ano, sendo R$ 3,1 bilhões para novos projetos, R$ 2,4 bilhões para a aquisição de conjuntos fotovoltaicos operacionais, além de investimentos complementares na modernização de usinas hidrelétricas e na manutenção e revitalização do parque gerador.

SETOR

Durante o anúncio da Vestas, o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira disse que “o Brasil aposta na compatibilidade da sua pluralidade energética para crescer” e que serão feitos mais investimentos na busca pela transição energética. A matriz elétrica brasileira está em ritmo de crescimento em 2024.

Em julho, a expansão obtida no ano chegou aos 6,5 gigawatts (GW), com a entrada em operação de 183 usinas, segundo os dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no dia 8 de agosto. Somente em julho, a ampliação da oferta foi de 0,87 GW, diante do início da operação de 10 centrais solares fotovoltaicas (0,49 GW) e de 17 usinas eólicas (0,38 GW). As usinas que passaram a operar em 2024 estão instaladas em 15 estados nas cinco regiões do País.

Elbia Gannoum Presidente da Abeeólica está otimista com a aprovação do PL das offshore, que vai ampliar a oferta dessas usinas (Crédito:Flavia Valsani)

VANTAGEM

Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), afirmou à DINHEIRO estar confiante no crescimento da fonte para os próximos anos, por ser a mais abundante e mais barata. “É a fonte que mais cresceu nos últimos 10 anos, e que mais vai crescer nos próximos 15”, disse.

Além disso, há ainda o fator econômico. Segundo a executiva, o Brasil produz 80% dos materiais utilizados nas unidades geradoras. “Para cada R$ 1 investido, é devolvido R$ 2,9 ao PIB, gerando emprego e renda no Brasil, diferente da Solar, que gera empregos na China”, completou.

Também há uma expectativa pela aprovação, pelo Senado, do PL que regulamenta as Eólicas Offshore (no mar). Atualmente, as usinas eólicas no Brasil são todas no continente (onshore), e têm uma capacidade instalada de 32,4 GW, e 55,2 GW de capacidade total. “As offshore já somam mais de 200 GW de pedidos de licenças para o IBAMA. As petroleiras serão as grandes investidoras nessas unidades geradoras, diante da necessidade de transição energética, o que também fará o Brasil ser o maior produtor do mundo de hidrogênio verde. Além disso, essas usinas no mar têm potencial para ser instaladas ao longo de toda a costa brasileira, não somente no Nordeste”, completou.