Economia

“Profissionais de TI brasileiros são vistos como valiosos para a indústria tecnológica global”, diz Loreto Montoya, da Korn Ferry

Humildade, mentalidade de aprendizado e humanidade são algumas das competências exigidas para obter talentos, diz a líder da consultoria global de organização

Crédito: Divulgação

A líder global de tecnologia na Korn Ferry, Loreto Montoya (Crédito: Divulgação )

Por Allan Ravagnani

O mercado de trabalho nos Estados Unidos tem demonstrado um interesse crescente por profissionais de TI brasileiros, especialmente na região do Vale do Silício e nos estados mais tecnológicos, impulsionado pela qualidade técnica, adaptabilidade e eficiência de custos que esses trabalhadores oferecem. Essa procura reflete a demanda pelas habilidades específicas e o reconhecimento do valor que esses profissionais levam ao ambiente multicultural e de inovação presente nas big techs. A partir dessa perspectiva, a DINHEIRO conversou com a líder global de tecnologia na Korn Ferry, Loreto Montoya, que falou sobre como essa tendência se desenvolve, qual o perfil desejado pelas grandes corporações, treinamentos de adaptação cultural e o papel da consultoria em apoiar essas grandes empresas na integração e na retenção de talentos.

A Korn Ferry é uma consultoria multifacetada. Como você costuma descrever o que a empresa faz quando perguntada?
Quando descrevo a Korn Ferry, geralmente destaco sua abordagem abrangente de gestão de talentos e consultoria organizacional. Nós chamamos de “Consultores de Negócios e Construtores de Carreiras”. Somos uma consultoria global de organização e trabalhamos com nossos clientes para projetar estruturas organizacionais ideais, funções e responsabilidades. Ajudamos a contratar as pessoas certas e orientamos sobre como recompensar e motivar a força de trabalho enquanto desenvolvem profissionais à medida que navegam e avançam em suas carreiras.

Como os profissionais de TI brasileiros são percebidos no mercado global, particularmente nos Estados Unidos?
No geral, os profissionais de TI brasileiros são vistos como valiosos para a indústria tecnológica global, trazendo uma combinação de expertise técnica, eficiência de custos e adaptabilidade cultural. Brasileiros são geralmente bem vistos no mercado global, incluindo nos EUA, por serem adaptáveis e ter habilidade de trabalhar bem em equipes diversas. Suas habilidades de comunicação e sensibilidade cultural os tornam ativos valiosos em multinacionais. Eles são conhecidos por serem proativos, inovadores e comprometidos com o aprendizado contínuo.

O mercado americano de talentos tecnológicos está em expansão. Como você vê a demanda por desenvolvedores brasileiros evoluindo nesse contexto?
São várias razões, uma delas é o alto nível de habilidade. Os profissionais brasileiros são conhecidos por fortes habilidades técnicas, especialmente em desenvolvimento de software, IA e análise de dados. Muitos possuem diplomas avançados e certificações, o que os torna competitivos no mercado global. Outro ponto é o custo-benefício, pois contratar talentos brasileiros pode ser mais econômico para empresas americanas. Os salários para cargos seniores semelhantes no Brasil podem ser 30% mais baixos do que nos EUA.

Como as diferenças culturais impactam a integração de talentos internacionais nas empresas americanas?
Culturas diferentes têm normas de comunicação distintas, o que pode levar a mal-entendidos. Por exemplo, algumas culturas valorizam a comunicação direta, enquanto outras preferem uma abordagem mais indireta. Isso também envolve normas e expectativas de ambiente de trabalho, pois as diferenças culturais podem influenciar percepções sobre hierarquia, trabalho em equipe e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.

Como é feita a adaptação cultural?
São diversos programas de treinamento cultural para ajudar os funcionários internacionais a entender e se adaptar às normas de trabalho dos EUA. Isso inclui trabalhar estilos de comunicação, processos de tomada de decisão e expectativas no ambiente de trabalho. Também temos programas de desenvolvimento de liderança que enfatizam a inteligência cultural e a liderança inclusiva, que ajudam os líderes a gerenciar equipes diversas de forma eficaz e criar um ambiente de trabalho inclusivo.

Com sua experiência, como você vê a IA influenciando o futuro do recrutamento e da gestão de talentos na indústria de tecnologia?
Primeiro, ela melhora a eficiência automatizando tarefas demoradas como busca de candidatos, triagem de currículos e entrevistas iniciais, permitindo que os profissionais de RH se concentrem em atividades mais estratégicas. Segundo, melhora o alinhamento de candidatos ao analisar grandes volumes de dados para alinhar com os papéis mais adequados com base em suas habilidades, experiência e compatibilidade cultural, levando a decisões de contratação mais assertivas e reduzindo riscos. Além disso, a IA utiliza análises preditivas para usar dados históricos para prever quais candidatos têm maior probabilidade de sucesso em funções específicas, ajudando a tomar decisões de contratação baseadas em dados e refinar estratégias de gestão de talentos. Por fim, apoia o aprendizado contínuo e o desenvolvimento ao identificar lacunas de habilidades e recomenda programas de treinamento personalizados para os funcionários.

Que tipo de educação em TI está mais em demanda pelos recrutadores dos EUA?
Os recrutadores estão valorizando cada vez mais uma combinação de educação e habilidades práticas. Um mix de prática, certificações relevantes e um compromisso com o aprendizado contínuo. Há uma tendência crescente em direção à contratação baseada em habilidades [não apenas em tecnologia], particularmente em funções como desenvolvimento de software, ciência de dados e cibersegurança. Mas certificações reconhecidas na indústria são altamente valorizadas. Certificações de organizações como AWS, Microsoft, Cisco e CompTIA podem aumentar a empregabilidade de um candidato, pois demonstram proficiência em tecnologias específicas e são frequentemente vistas como um indicador confiável das capacidades de um candidato.

Quais são as principais razões pelas quais as empresas procuram a Korn Ferry, especialmente na indústria de tecnologia?
Muitos clientes pedem talentos com um novo conjunto de habilidades. A indústria de tecnologia mudou profundamente nos últimos 5 ou 8 anos em termos das competências necessárias, especialmente nas equipes de liderança. Habilidades como humildade, mentalidade de aprendizado, ser mais humano, acessível e próximo das equipes são algumas das competências exigidas para reter talentos e alcançar resultados rapidamente. Ajudamos a atrair, recrutar, treinar e também em reter os talentos de alto nível em diversos níveis funcionais, incluindo dados/analítica, nuvem, cibersegurança e desenvolvimento de software.

Como sua função na Microsoft moldou sua abordagem para gestão de talentos e estratégia na Korn Ferry?
Ter uma mentalidade centrada no cliente e focar em entender e atender suas necessidades foi e continua sendo primordial, além do uso de dados e análises para orientar decisões. É extremamente valioso na criação de estratégias e soluções baseadas em evidências, inovação, agilidade, liderança, desenvolvimento de equipes e uma perspectiva global, pois trabalhar em uma empresa global proporciona insights sobre mercados e culturas diversas.

Qual será o próximo grande passo para a Korn Ferry em termos de expandir sua influência ou serviços?
Recentemente adquirimos empresas especializadas em treinamento e desenvolvimento de liderança, como o Miller Heiman Group [desenvolvimento de vendas], AchieveForum e Strategy Execution. Esse movimento tem nos ajudado a fortalecer nossas capacidades. Em tempos em que líderes devem desenvolver novas habilidades para lidar melhor com mudanças constantes, novas gerações e as disrupções nos negócios, posso dizer que isso é altamente necessário. Mas também continuamos aprimorando as pesquisas para ajudar empresas a navegar no cenário em evolução do trabalho. Isso inclui abordar desafios como engajamento de talentos, construção de cultura, trabalho remoto, transformação digital, adaptabilidade da força de trabalho, entre outros.