Gigante de chips, Nvidia quer disparar no Brasil na carona de educação e pesquisa
Com parcerias com universidades e laboratórios, companhia de chips e data centers quer crescer no Brasil e se tornar imprescindível para toda cadeia de tecnologia global
Por Letícia Franco
A mensagem “Play the game, the score will come” (em português, “jogue o jogo, o resultado virá”) é um mantra corporativo de Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia. Significa que, com trabalho duro, foco e determinação, coisas boas vão acontecer naturalmente. Seguindo esse lema, a companhia de chips e data centers fechou o segundo trimestre com receita global recorde de US$ 30 bilhões. O valor representa crescimento de 122% em relação ao ano mesmo período do ano anterior. Enquanto o lucro cresceu 168%, totalizando US$ 16,6 bilhões. No cenário brasileiro, a companhia trabalha na área de educação e pesquisa como uma das estratégias para disparar na região. “Poucas empresas focam nesse segmento. É um trabalho que a gente faz há muito tempo e vamos fortalecer porque é onde tudo começa. É o futuro”, disse à DINHEIRO Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para América Latina, durante o IT Forum, na Bahia. É assim que a Nvidia busca se tornar protagonista de todo o ecossistema tecnológico mundial.
Entre desenvolver e consumir tecnologias, o Brasil historicamente tem consumido muito mais onde há condições para se tornar provedor. Isso pode ser atrelado ao fato de o País formar menos engenheiros do que poderia, um dos gargalos na formação de capital humano. Um relatório divulgado pelo BTG Pactual aponta que, após um período em que as matrículas em engenharias dobraram entre 2010 e 2015 (de 500 mil para 1 milhão), houve sete quedas consecutivas, resultando em 242 mil estudantes a menos de 2015 a 2022, redução de 23%.
Nesse sentido, a Nvidia atua no País em parcerias com universidades e laboratórios, como a Unicamp, USP, LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e o LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron). Além disso, há cerca de 82 mil cientistas de dados que desenvolvem em plataformas da empresa e o programa Inception, que ajuda mais de 450 startups a evoluírem rapidamente com o acesso à tecnologia de ponta e especialistas da Nvidia.
US$ 30 bilhões
Foi a receita da Nvidia no segundo trimestre, aumento de 122% em relação ao mesmo período do ano anterior
US$ 16,6 bilhões
Lucro líquido registrado no segundo trimestre, crescimento de 168% sobre o mesmo período do ano passado
US$ 32,5 bilhões
Projeção de receita para o terceiro trimestre
Se a educação é o ponto de partida para evolução do ecossistema, no qual a empresa norte-americana quer se integrar cada vez mais, há outros setores importantes para a Nvidia no Brasil. Um deles é a indústria de energia, dividida em óleo e gás. A Petrobras, por exemplo, tem utilizado soluções da empresa desde os anos 2000. “Em termos de receita, o mercado de petróleo se destaca, demanda muito poder computacional, principalmente na parte de exploração”, disse Aguiar. O mercado financeiro, o varejo e a indústria de telecomunicações, a qual passa por modernização, também são segmentos em que a Nvidia atua e quer expandir seus negócios.
IA
No concorrido jogo da tecnologia, especialmente da Inteligência Artificial (IA), o tática da Nvidia é marcada pela “coopetição”, junção das palavras cooperação e competição. Isso porque a companhia é parceira e tem como clientes as gigantes de tecnologia, como a Microsoft e a Amazon, ao atender a demanda por chips usados em IA. Em alguns momentos elas são concorrentes e em outros, parceiras.
Esse mercado de IA, um dos principais condutores da jornada da Nvidia ao topo, que foi de US$ 300 bilhões a US$ 3 trilhões em valor de mercado em dois anos, ainda é volátil. Prova disso foi a queda de 9,5% das ações da Nvidia na terça-feira (3), no maior declínio em um único dia no valor dos papeis de uma empresa dos Estados Unidos. O derretimento foi pressionado por realização de lucros por investidores que reduziram o otimismo sobre a IA.
Segundo Aguiar, o Brasil está crescendo no segmento de IA e tem muito potencial para se desenvolver ainda mais nos próximos anos. “O governo, inclusive, tem investido na tecnologia”, afirmou o executivo, ao citar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), lançado pelo governo federal no fim de julho, que envolve investimentos de R$ 23 bilhões até 2028.
Além de seguir com investimentos em IA no País, a Nvidia também aposta no seu lançamento mais recente, a nova geração de GPUs da companhia, chamada Blackwell. A tecnologia é uma das apostas para aumentar a receita no terceiro trimestre, estimada em US$ 32,5 bilhões. É disputando o jogo com suas tecnologias de ponta e em áreas como a educação e pesquisa que a Nvidia espera seus bons resultados no Brasil – e no mundo.