Diversidade perde força nos EUA
Seja de forma silenciosa ou explícita, grandes marcas americanas estão revisando suas políticas de diversidade, equidade e inclusão, após serem pressionadas por ativistas conservadores
Por Alexandre Inacio
Quando o policial americano Derek Chauvin estrangulou até a morte George Floyd, em maio de 2020, na cidade de Minneapolis, não imaginava que sua ação brutal daria início a um movimento sem precedentes no mundo corporativo. Pressionadas pelas manifestações organizadas pelo movimento Black Lives Matter – nascido em 2013 após o policial George Zimmerman ter sido inocentado pela morte a tiros do adolescente afro-americano Trayvon Martin – muitas empresas iniciaram ou mesmo aceleraram a implantação de políticas que ficaram conhecidas pela sigla DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão).
Depois de investimentos vultosos na estruturação de departamentos, patrocínios, apoio a programas de inclusão e diversidade, contratação de pessoas, entre outras iniciativas, muitas dessas empresas estão passando por uma reviravolta em suas políticas DEI. Agora pressionadas por ativistas conservadores da direita americana, grandes nomes de diferentes setores da economia americana começaram a rever a filosofia implementada nos últimos quatro anos.
A mais recente iniciativa nesse movimento revisionista foi tomada pela Brown-Forman, fabricante da tradicional marca de uísque Jack Daniel’s.
• No fim de agosto, a empresa enviou uma carta a seus funcionários informando que deixaria de vincular a remuneração variável de seus executivos ao progresso de seus programas de DEI.
• A comunicação ainda dizia que Brown- Forman deixaria de participar de um ranking anual que avalia o ambiente de trabalho de empresas em relação a questões LGBTQIAN+.
• A carta também revelou uma mudança na estratégia comercial, com a decisão de não mais buscar fornecedores de origens minoritárias.
“Com essas novas dinâmicas em jogo, precisamos ajustar nosso trabalho para garantir que continue a gerar resultados comerciais, reconhecendo adequadamente o ambiente atual em que nos encontramos”, disse o documento.
Mas a fabricante de bebidas não está sozinha nesse movimento.
Dias antes da carta da Brown-Forman, a icônica Harley Davidson anunciou o encerramento de iniciativas de diversidade que vinham sendo aplicadas pela empresa.
• Em um comunicado, a HD informou que vai revisar seu programa de patrocínios, sinalizando que deixaria de apoiar festivais LGBTQIAN+ e que encerraria seu relacionamento com a Human Rights Campaign, um importante grupo de defesa LGBTQIAN+.
• “Continuamos comprometidos em ouvir todos os membros da nossa comunidade”, conta a empresa, indicando que concentraria seus esforços no motociclismo.
Na lista de companhias que, de alguma forma, revisaram suas políticas DEI aparecem:
• John Deere (máquinas agrícolas),
• Molson Coors (bebidas),
• Lowe’s (varejo de construção),
• e Tractor Supply (varejo agrícola).
No centro da nova rota está Robby Starbuck, um influenciador digital e ativista de direita, que iniciou uma verdadeira guerra anti-DEI. A estratégia consiste em pressionar empresas a recuarem de seus compromissos de diversidade e inclusão, expondo suas ações e programas e gerando reação negativa de parte dos clientes. Até o momento, seus alvos acusaram o golpe.
NO BRASIL
Por aqui, as empresas ainda não perceberam uma ação coordenada para revisão de suas políticas DEI. Ao que parece, a tendência vai no sentido oposto. Um estudo realizado no Brasil com empresas que faturam acima de R$ 1 bilhão por ano, conduzido pelo Insper, em parceria com a Assetz – consultoria especializada em recrutamento e seleção – mostra que a responsabilidade social, onde estão inseridos os programas de diversidade e inclusão, é a prioridade para 31% dos entrevistados.
O tópico fica à frente da governança, que tem a primazia para 30% das empresas, e fica atrás apenas do pilar ambiental, em que 39% dos participantes do estudo dizem ser a prioridade nas preocupações ESG da empresa.
“Os resultados do relatório mostram como as empresas brasileiras têm um compromisso crescente com práticas de ESG e reconhecem como elas podem trazer benefícios tanto para a reputação corporativa quanto para a performance financeira das empresas”, afirma Carlos Caldeira, professor do Insper e um dos responsáveis pela pesquisa.
De forma mais global, David Plink, CEO do Top Employers Institute, reconhece que algumas empresas americanas têm recebido uma reação negativa de seus clientes fieis, que as acusam de terem se tornado “woke” e estarem ficando diversificadas demais. “Aquelas que optarem por não promover essas práticas [diversidade e inclusão] podem enfrentar uma reação negativa dos clientes e, eventualmente, isso pode afetar suas vendas. No entanto, o impacto exato disso pode variar dependendo de muitos fatores, como o tipo de produto que oferecem e o perfil dos seus clientes.”