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O futuro da aviação nos céus da França

Aeronaves elétricas para decolagem e pouso vertical roubam a cena da 54ª edição do evento Paris Air Show e a brasileira Eve fecha contratos para venda de 150 aparelhos do tipo

Crédito: Stephane Mouchmouche

Paris Air Show: mais importante feira aeroespacial mundial (Crédito: Stephane Mouchmouche)

Por Wagner Matheus

Pode não ter sido um êxito histórico como o pioneiro voo de Santos Dumont com o 14-Bis no Campo de Bagatelle, em 1906, mas a aviação brasileira teve outro momento de destaque em Paris. Durante sete dias, milhares de participantes do principal evento aeroespacial do mundo tiveram acesso aos mais recentes avanços na indústria da aviação, muitos deles apresentados em 152 exibições aéreas sobre o centro de exposição. E o Brasil não só marcou presença como fez grandes negócios.

Os números do evento encerrado no domingo (25) são impressionantes e mostram o potencial do setor: cerca de 300 mil visitantes, negócios estimados em US$ 150 bilhões, 2,5 mil expositores e 150 aeronaves de todos os tipos expostas em uma área de cerca de 150 mil m2 no Aeroporto de Paris-Le Bourget, nos arredores da capital francesa.

Entre aviões de uso militar, helicópteros e jatos comerciais produzidos pelas gigantes do setor, o popularmente chamado carro voador (eVtol) foi o principal foco de curiosidade e atenção dos expositores e do público e geral.

Atendendo pela sigla para a expressão em inglês electric vertical take-off and landing, o eVtol pode ser comparado a um helicóptero elétrico, mas se tornou bem mais que isso.

É a grande aposta do setor para o futuro da mobilidade aérea urbana, e sua tecnologia inovadora tem potencial para revolucionar o conceito de deslocamento em todo o mundo.

E não se trata de um futuro distante. O Volocopter 2X, fabricado pela alemã Volocopter, realizou seis voos de demonstração durante o evento.

Grande aposta para mobilidade aérea, o eVetol se tornou mais acessível e deve ganhar espaço nos céus nos próximos anos (Crédito:Hans Lucas via AFP | divulgação)

“Pretendemos acelerar a adoção da tecnologia eVtol e criar um ecossistema sustentável, integrado e completo para viagens aéreas urbanas.”
Andre Stein, CEO da Eve Air Mobility

O Brasil foi destaque no evento com apresentação do eVtol da fabricante de aeronaves elétricas Eve Air Mobility, controlada pela Embraer. No estande da empresa, os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer o protótipo do futuro modelo.

A experiência de circular no carro voador brasileiro, com baixo ruído e emissão zero de carbono, ficou restrita à tecnologia de realidade virtual por meio de um headset especial, que dava aos usuários a sensação de voar no eVtol da Eve.

A empresa anunciou no evento ter assinado cartas de intenção para vendas de seus carros voadores para a brasileira Voar Aviation e para as companhias Nordic Aviation, fundada na Dinamarca, e Wideroe Zero, da Noruega.

Para a CEO da Voar Aviation, Alessandra Abrão, que participou pela primeira vez do Paris Air Show, o evento foi um grande marco. “Estamos fazendo parte de um novo campo de mobilidade aérea no Brasil e no mundo”, afirmou. “A carta de intenção que assinamos com a Eve Air Mobility prevê a compra de 70 eVtols”.

Segundo ela, as primeiras cidades a receber a infraestrutura de operação para essas aeronaves serão Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Natal, Recife, Goiânia, Ribeirão Preto, Florianópolis e Balneário Camboriú.

Nascida em Goiânia e já com três décadas de atuação no mercado aeronáutico brasileiro, a Voar Aviation atende a cerca de 25% da frota de aeronaves executivas do País, com operações em 16 hangares e quatro centros especializados de manutenção.

A empresa se expandiu nacionalmente ao adquirir a Icon Aviation, que pertencia a Michael Klein, ex-controlador das Casas Bahia. Com a encomenda de 70 unidades, a Voar se tornou a maior cliente da Eve. Os outros pedidos somas 80 veículos, dos quais 50 para a Wideroe Zero e 30 para a Nordic.

Na visão do CEO da Eve, Andre Stein, a colaboração com a Voar é fundamental. “Ao combinar nossa experiência e alavancar a infraestrutura estabelecida da Voar, pretendemos acelerar a adoção da tecnologia eVtol e criar um ecossistema sustentável, integrado e completo” ,afirmou Stein.