Revista

Expectativa e realidade

Crédito: Diogo Zacarias

Reunião do presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, agências de classificação de risco: sem pressão (Crédito: Diogo Zacarias)

Por Marcos Strecker

Entre as várias agendas em Nova York na última semana, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniram-se na segunda (23) e terça (24) com representantes das agências de classificação de risco Moody’s, Standard & Poor’s (S&P) e Fitch. Os encontros teriam acontecido a pedido do próprio mandatário, segundo Haddad. A ideia foi transmitir otimismo sobre a economia brasileira e tentar pavimentar o caminho para o País reconquistar o selo de bom pagador. Ao fim, Haddad declarou que “o prognóstico é bom”. Mas, diplomaticamente, tentou descaracterizar qualquer pressão. Para ele, a nota de crédito do Brasil deve voltar a melhorar “nos próximos anos”. O gesto foi importante, mas dificilmente o charme dos dois vai reverter a desconfiança das agências e dos investidores com as contas públicas, que estão no vermelho sem que o governo convença que manterá o déficit zero neste ano. No dia 20, por exemplo, a liberação de R$ 1,7 bilhão que havia sido congelado do Orçamento deste ano pegou todos de surpresa, apesar da melhora na projeção de arrecadação neste ano. A reação negativa irritou o Ministério da Fazenda, que ainda precisa defender dia sim, outro também, a viabilidade do Arcabouço Fiscal. Afinal, o rombo em 2024 nas contas públicas será de R$ 68,8 bilhões, levando em conta os R$ 40,5 bilhões que ficarão fora da meta por gastos autorizados para socorrer o Rio Grande do Sul e combater as queimadas, além de despesas não programadas do Judiciário.

No Ceará
Ford transfere fábrica da Troller para estado

Divulgação

A Ford informou na segunda-feira (23) que assinou um acordo com o governo do Ceará para transferir ao estado a sua fábrica no município de Horizonte, antiga linha de montagem do utilitário Troller. O governo divulgou que deseja produzir veículos eletrificados e híbridos sob encomenda nessa planta, em um “modelo inédito de fábrica multimarcas”. O estado quer investir R$ 400 milhões e gerar 255 empregos diretos na fase inicial. Já a montadora americana, que eliminou toda a sua produção no País em 2021, se desfaz de um ativo que não se encaixava mais em seu modelo de negócios global, mas tinha valor regional. A Ford havia adquirido a fábrica da Troller em 2007. Depois de vender as plantas históricas de Camaçari (BA) e São Bernardo do Campo (SP), foca atualmente no fortalecimento do Brasil apenas como um hub de desenvolvimento de tecnologia.

Impostos
O whisky e a reforma

(Divulgação)

A pressão dos diversos setores para evitar o aumento dos impostos com a Reforma Tributária prossegue em Brasília. Desta vez, a mobilização veio dos segmentos de cachaça e de whisky escocês, incluindo o presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), Carlos Lima, e representantes do governo do Reino Unido e da Scotch Whisky Association, que se reuniram com o secretário extraordinário do Ministério da Fazenda para a área, Bernard Appy, no dia 18. Nos bastidores, o que está em jogo é a queda de braço entre o setor de destilados e as cervejeiras, que podem se beneficiar escapando da parte do leão na taxação via imposto seletivo. A equipe de Appy saiu pela tangente e não deu nenhuma sinalização de que vai interferir nessa briga.

(Vanessa Carvalho)

“Lula não gosta os juros subam. Quando o Gabriel Galípolo assumir a presidência do Banco Central, ele vai aprovar. Termina a briga.”
Henrique Meirelles, ex-presidente do BC , em entrevista ao Estadão

Vai sair?
Futuro da Ferrogrão no STF

(Ministério da Infraestrutura)

A disputa em torno de um dos projetos mais estratégicos para o agronegócio pode ter um desfecho muito em breve. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, recebeu da União os documentos que podem levar à queda da liminar que ele mesmo concedeu em 2021 suspendendo o projeto da Ferrogrão, ferrovia estratégica de 933 km de extensão entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) que deve escoar grãos até os portos do Norte do País. Ambientalistas tentam até hoje barrar a construção, que ameaçaria comunidades indígenas. O governo Lula é a favor da obra, que pode movimentar até R$ 28 bilhões. A decisão final está nas mãos de Moraes, que aparentemente não deve mais adiar sua decisão. Para a ANTT, o leilão do empreendimento pode ocorrer já em 2025.