Tecnologia

Microsoft quer turbinar nuvem e IA no Brasil, diz CEO; especialistas comentam

Gigante americana investe R$ 14,7 bilhões no desenvolvimento e infraestrutura tecnológica no País e capacita 5 milhões de pessoas em habilidades de Inteligência Artificial

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Desenvolvimento em infraestrutura em nuvem e IA pode ter impacto direto na democratização da tecnologia (Crédito: Freepik)

Por Aline Almeida

Convenhamos: não é todo dia que o CEO de uma empresa colossal de tecnologia, de âmbito global, desembarca no Brasil para anunciar investimento bilionário. Mas acontece. O indiano Satya Nadella, CEO da Microsoft, detalhou o aporte de R$ 14,7 bilhões que a empresa fará no País pelos próximos três anos. É o maior valor aplicado pela empresa no mercado brasileiro em seus 35 anos de atuação por aqui. O montante será destinado a projetos de infraestrutura de nuvem e Inteligência Artificial. Essa iniciativa faz parte do programa Microsoft Mais Brasil, lançado em outubro de 2020, que visa reforçar o compromisso da companhia com o desenvolvimento local, promovendo crescimento inclusivo por meio de tecnologia, capacitação profissional e sustentabilidade.

Em evento realizado em São Paulo no dia 26 de setembro, que integra o Microsoft AI Tour, Nadella celebrou o aniversário de três décadas e meia da empresa no Brasil. Segundo o executivo, a companhia está comprometida em apoiar a transformação da IA no País, e vislumbrou que a tecnologia beneficie a todos. “Nossos novos investimentos em infraestrutura de nuvem e IA e em capacitação no Brasil ajudarão a garantir um amplo acesso tanto à tecnologia quanto às habilidades necessárias para que a população e a economia brasileira prosperem nesta era de IA”, disse o CEO da empresa que encerrou o ano fiscal de 2024 em 30 de junho com faturamento de US$ 245,9 bilhões (+16%), com US$ 88,1 bilhões de lucro (+22%).

No plano da Microsoft para terras tupiniquins está a ampliação da sua infraestrutura de nuvem e IA em diversos campi de datacenters no Estado de São Paulo.
Esse novo investimento está alinhado com o objetivo da corporação de impulsionar a inovação e fortalecer a competitividade do Brasil e também vai ao encontro da visão do governo de, a partir da tecnologia, aprimorar a eficiência do setor público, fortalecer a resiliência nacional e promover a sustentabilidade.
Atualmente, a Microsoft já conta com duas regiões do Azure (plataforma de computação em nuvem) no País: a Brasil South, localizada em São Paulo e inaugurada em 2014, e a Brasil Southeast, no Rio de Janeiro, lançada em 2020.

(Divulgação)

“Nossos novos investimentos em infraestrutura de nuvem e IA e em capacitação no Brasil ajudarão a garantir um amplo acesso tanto à tecnologia quanto às habilidades necessárias para que a população e a economia brasileira prosperem nesta era de IA.”
Satya Nadella, CEO Global da Microsoft

A estratégia inclui ainda a qualificação de brasileiros na área de tecnologia. A empresa planeja oferecer treinamento em habilidades de IA para 5 milhões de pessoas, visando preparar a força de trabalho para as mudanças impulsionadas pela IA e garantir um futuro mais equitativo, proporcionando fluência na tecnologia em larga escala por meio do programa ConectAI.

Segundo a presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, a Microsoft está comprometida em apoiar o crescimento econômico e inclusivo em solo brasileiro. “Estamos empoderando indivíduos, empresas e a sociedade para aumentar a inovação e democratizar o uso da IA por meio do desenvolvimento de habilidades”, pontuou.

ANÁLISE

Para Daniel Marques, presidente da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), esse investimento bilionário terá um impacto significativo no PIB (Produto Interno Bruto), com a criação de milhares de novos empregos, posicionando o Brasil na vanguarda da oferta de infraestrutura e fortalecendo o ecossistema de startups e o setor de tecnologia. Para o especialista, a expectativa é de que seja mais um passo para atrair mais empresas a investirem no Brasil. “Somos referência em energia renovável e, com o advento da IA generativa, as big techs precisam mais do que nunca de regiões que ofereçam energia sustentável e mais acessível”, afirmou Marques. “O Brasil pode aproveitar essa oportunidade para atrair mais investimentos e estabelecer pactos de transferência de tecnologia em troca de incentivos para as empresas”, completou.

Apesar do otimismo, há desafios a serem enfrentados, ponderou o engenheiro de computação e sócio-proprietário da Frank Fox Informática, Allan de Alcântara. A falta de infraestrutura adequada, qualificação profissional e políticas públicas eficientes são alguns citados por ele.

O especialista acredita que o investimento da Microsoft pode ajudar a superar esses obstáculos ao fornecerem os recursos e o conhecimento técnico necessários para acelerar o desenvolvimento da Inteligência Artificial no País.

A expansão dos data centers e da infraestrutura tecnológica no Brasil, segundo ele, também fortalece a resiliência nacional e a segurança de dados, essenciais para o funcionamento seguro e eficiente de empresas e órgãos públicos. “Isso promove uma maior capacidade de resposta a ameaças cibernéticas e oferece uma base sólida para o crescimento dos negócios digitais”, analisou Alcântara.

Lucas Galvão, CEO da Open Cybersecurity e especialista em cibersegurança, governança corporativa e desenvolvimento de lideranças, destacou que a escolha do Brasil faz sentido neste momento devido às recentes iniciativas do governo para promover a digitalização e a inovação. Para ele, a Microsoft vê o mercado brasileiro como um ambiente propício para a implementação de novas infraestruturas, que são fundamentais para integrar o País ao cenário global de tecnologia.

Galvão apontou ainda que a expansão da infraestrutura em nuvem e IA tem um impacto direto na democratização da tecnologia, pois pequenas e médias empresas (PMEs), que muitas vezes carecem de recursos técnicos e financeiros para adotar tecnologias de ponta, podem acessar esses serviços e competir em condições mais equilibradas. “Esse movimento traz melhorias substanciais em eficiência e inovação, fomentando o surgimento de startups e viabilizando novos modelos de negócios, tanto em setores tradicionais quanto emergentes”, avaliou.

Do ponto de vista macroeconômico, a ampliação dessa infraestrutura aumenta a produtividade e posiciona o Brasil estrategicamente para atrair novos investimentos. “Tornando o País um protagonista na revolução tecnológica”, frisou Galvão. Em meio à nova era da Microsoft no Brasil.