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Impacto transformador da liderança feminina

Inclusão e desenvolvimento de mulheres em cargos de comando nas empresas não é apenas questão ética ou de justiça, mas estratégia de negócios

Impacto transformador da liderança feminina

Patrícia Frossard: "Empresas que promovem a diversidade experimentam um aumento de 10% a 15% na receita e registram melhorias na retenção de talentos e na reputação pública"

Por Patrícia Frossard

A luta por igualdade de gênero e respeito à mulher, especialmente no ambiente corporativo, apesar de debatida há décadas, ainda enfrenta obstáculos. A busca por equidade em oportunidades de trabalho, remuneração e tratamento continua sendo um desafio em muitos setores. Mesmo com tantos debates e iniciativas, episódios de machismo, discriminação e até feminicídio ainda são realidade. Empresas que exigem teste de gravidez para contratação ou que demitem mulheres após a licença-maternidade mostram que o caminho para a igualdade de gênero ainda é longo.

A liderança feminina, por outro lado, tem provado ser crucial para o sucesso organizacional. Desde que assumi a posição de Country Manager na Philips do Brasil, percebi que o crescimento e a permanência das mulheres na empresa não é algo linear – é um processo que sobe e desce, com avanços e retrocessos. É fundamental que as empresas não apenas monitorem a presença de mulheres em cargos de liderança, mas também entendam por que elas eventualmente deixam a organização. Esse entendimento pode levar a uma abordagem mais eficaz na retenção e promoção de talentos femininos, permitindo que se identifiquem as causas que possam estar relacionadas à saída dessas profissionais, como falta de suporte, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal ou até pressões familiares.

O relatório “Mulheres nos Negócios e na Gerência: Por que a Mudança é Importante para os Negócios”, divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), reforça que a presença feminina em cargos de liderança traz benefícios. Empresas que promovem a diversidade experimentam um aumento de 10% a 15% na receita e registram melhorias na retenção de talentos e na reputação pública. Além disso, o relatório “The Ready-Now Leaders”, da ONG The Conference Board, destaca que empresas com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chances de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.

Outro aspecto relevante são as práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança). Uma pesquisa realizada por Monique Cardoso, mestre em gestão para competitividade pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que 72% das empresas brasileiras com alto desempenho em sustentabilidade possuem pelo menos uma mulher em seus conselhos administrativos. Entretanto, apesar dos progressos, a presença feminina em cargos de liderança ainda é baixa. Na pesquisa “Women in Business”, de 2024, apenas 33,5% dos cargos de liderança no mundo são ocupados por mulheres. Embora esse número venha crescendo, o ritmo ainda é lento. Se assim persistir, a equidade em cargos de alta gestão só será atingida em 2050.

Para as empresas que realmente desejam a igualdade de gênero, é essencial entender que a inclusão e o desenvolvimento de mulheres em cargos de liderança não é apenas questão ética ou de justiça, mas estratégia de negócios. Empresas com ambientes inclusivos, onde a diversidade é valorizada e incentivada, desenvolvem uma vantagem competitiva. Mulheres em cargos de liderança podem não apenas melhorar a performance financeira, mas contribuir para uma cultura organizacional mais inovadora, colaborativa e ética. Para maior clareza, é preciso ouvir diretamente as estratégias das executivas e os desafios de suas carreiras. Essa contribuição a Fenalaw traz em outubro em uma de suas plenárias, voltada sobre o papel das mulheres no mundo corporativo e no setor jurídico.

Os desafios permanecem. Um dos principais obstáculos é o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Além disso, estereótipos de gênero e preconceitos inconscientes ainda são barreiras que dificultam o avanço das mulheres para posições de liderança. Para superá-los, as empresas precisam promover flexibilidade no trabalho, mentorias e treinamentos sobre vieses inconscientes. Também é importante estabelecer metas claras para a inclusão de mulheres em cargos de liderança e monitorar o progresso regularmente.

O caminho para a igualdade de gênero ainda é longo, mas os benefícios de ter mulheres em cargos de liderança são inegáveis: as empresas se tornam mais lucrativas, inovadoras e responsáveis, e a sociedade avança em direção a um futuro mais justo e equitativo. Exige esforço contínuo, mas vale a pena, pois a diversidade de gênero não é apenas questão de justiça, mas também estratégica para o sucesso e a sustentabilidade das organizações.