O PayPal tem o que os outros querem descobrir com IA

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Norberto Zaiet: "Transformar o PayPal de meio de pagamentos eficiente em plataforma de venda de anúncios eficaz e direcionada, e aproveitar os efeitos de rede que isso proporciona, é o que vai se tornar o novo PayPal" (Crédito: Divulgação)

Por Norberto Zaiet

Por muito tempo, o PayPal foi um gigante adormecido. Dona de uma penetração superior a 80% no mercado norte-americano e processando mais de um quarto de todo o e-commerce mundial, a empresa sofreu um processo de estagnação criativa muito comum em companhias que se tornam incumbentes. Quando a empresa é dominante e para de inovar, o “moat” (fosso) que tinha sido capaz de criar vai, aos poucos, se transformando em uma poça d’água.

O curioso no caso do PayPal é que, mesmo tendo ficado parado no tempo e sofrendo reclamações, tanto os mais de 35 milhões de negócios ligados à plataforma quanto os mais de 400 milhões de usuários continuaram conectados ao serviço. Outros provedores apareceram e tomaram parte do mercado sem conseguir, entretanto, acabar com o gigante soberano.

O mercado, como sempre, não perdoou. Antecipou o definhamento e imaginou que a empresa não seria levada necessariamente à morte, mas abandonada em uma esquina pouco movimentada do mercado. Apple Pay, Google Pay, Amazon Pay, Square e muitos outros similares oferecem um produto melhor, de mais fácil utilização, tão seguro quanto e sem a bagagem de ter sido o primeiro e, portanto, ter sofrido as dores da evolução na frente de todo o mundo. Depois de ter sido negociada a mais de US$ 300 no auge da pandemia, sua ação sofreu uma queda vertiginosa em 2022, junto com todo o setor de tecnologia, sem conseguir se recuperar. Até agora.

A posição de dominância do PayPal permite que ele saiba quem compra o quê, de quem e quando. É o tipo de informação que empresas estão gastando rios de dinheiro para descobrir. Transformá-lo de meio de pagamentos em plataforma de venda de anúncios é o que vai se tornar o novo PayPal

Há quase um ano na posição, o CEO Alex Chriss entendeu os problemas com o produto e vem, de maneira consistente, implementando melhorias que tornam a experiência do cliente e do consumidor bem mais fácil, como o Fastlane. Incorporou criptoativos na plataforma e estabeleceu parcerias que fortalecem ainda mais sua posição de incumbente. Uma dessas parcerias, anunciada recentemente, foi com a Amazon Prime.

Aperfeiçoar o produto, entretanto, é torná-lo melhor em um mercado já muito competitivo. Chriss está indo além, o que justifica o despertar do preço da ação nos últimos meses.

A posição de dominância do PayPal permite que ele saiba quem compra o quê, de quem e quando. É o tipo de informação que empresas como a Meta Platforms estão gastando rios de dinheiro com tecnologia e chips da Nvidia para descobrir. Transformar o PayPal de meio de pagamentos eficiente em plataforma de venda de anúncios eficaz e direcionada, e aproveitar os efeitos de rede que isso proporciona, é o que vai se tornar o novo PayPal.

Há muita cobertura institucional do papel. Segundo a Bloomberg, são 53 analistas, dos quais 25 têm recomendação de compra, 26 de “hold” e 2 de venda. O maior preço objetivo é US$ 125, e o menor é US$ 60. Em média, os analistas enxergam o preço a US$ 80, que é onde o papel negocia neste momento, após ter ficado meses a fio entre US$ 50 e US$ 70.

Do ponto de vista de value investing, ainda dá tempo de pegar essa transformação a preços camaradas. Como sempre, nada é garantido, mas a evolução parece clara. O PayPal não precisa de IA para saber o que o mercado quer – ele já sabe.

Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York