É a Pennsylvania, stupid
Por Norberto Zaiet
Segundo as últimas pesquisas, a eleição presidencial norte-americana do próximo dia 5 de novembro será uma das mais disputadas na história recente. Nacionalmente, Kamala Harris e Donald Trump seguem virtualmente empatados, apesar de Trump ter apresentado uma melhora marginal nas intenções de voto. Entretanto, as pesquisas nacionais importam menos, uma vez que a eleição é decidida pelo número de votos obtidos no colégio eleitoral.
O colégio eleitoral é composto por 538 eleitores, sendo que cada estado – além do Distrito de Columbia – indica o número de delegados correspondentes ao seu respectivo número de senadores e deputados. Assim, estados mais populosos indicam um maior número de eleitores, e estados menos populosos indicam menos, observando um mínimo de três delegados. O que faz das eleições americanas um fenômeno interessante é que, à exceção de Maine e Nebraska, o candidato que ganha as eleições em determinado estado leva todos os votos daquela região: the winner takes all ou, em tradução livre, o ganhador leva tudo.
Tradicionalmente, alguns estados tendem a votar massivamente no candidato do partido democrata, como Nova York e Califórnia. Da mesma maneira, os estados do sul do país tendem preferir os candidatos do partido republicano. Ao final, a eleição é decidida por um punhado de estados em que a população às vezes vota democrata, às vezes, republicano: são os chamados swing states, ou estados que balançam de um lado para o outro em cada eleição. Caso nenhuma zebra aconteça em estados tradicionalmente democratas ou republicanos, o presidente americano será escolhido pelos cidadãos do Arizona, Georgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Wisconsin e Pennsylvania.
Desses, a Pennsylvania representa 19 votos no colégio eleitoral. Em seguida vem Georgia e Carolina do Norte, com 16 cada, Michigan com 15, Arizona com 11, Wisconsin com 10 e Nevada com 6. Dada a composição de votos para cada candidato, quem ganhar a Pennsylvania tem grande chance de ser eleito presidente.
O Commonwealth of Pennsylvania, nome oficial do estado, é o quinto mais populoso do país e desde 1992 elegia presidentes democratas até que, em 2016, Trump venceu o estado por margem apertadíssima. Biden ganhou em 2020 e, neste ano, as últimas pesquisas indicam Harris e Trump virtualmente empatados. James Carville, o polêmico estrategista democrata que, à época da eleição de Clinton em 1992 cunhou a frase “it’s the economy, stupid”, descreve o estado como “Filadélfia no Leste, Pittsburgh no Oeste e Alabama no meio”, ilustrando que tradicionalmente as regiões metropolitanas votam com os democratas, mas o meio do estado, mais rural, vota no partido republicano.
As duas campanhas estão gastando rios de dinheiro no estado, mas chama a atenção, em especial, a estratégia de Trump. Elon Musk, ferrenho apoiador do ex-presidente, tem passado a maior parte do seu tempo na Pennsylvania e uma super PAC bancada por ele está sorteando, diariamente, US$ 1 milhão para eleitores registrados que assinarem uma petição pública apoiando a Constituição e o direito de possuir armas de fogo. Trump passou boa parte do final de semana no estado e, numa jogada política brilhante, trabalhou por algumas horas em um McDonald’s operando a fritadeira de batatas e atendendo a clientes no drive thru.
• De um lado, Musk distribuindo dinheiro à lá Silvio Santos cria um ambiente de euforia com a campanha ao mesmo tempo que, trabalhando em um McDonald’s, Trump passa a imagem de líder simpático, agradável e acessível em contraponto à persona do Trump vilão e mal-encarado apresentado pelos democratas.
• Já Kamala Harris tem como vantagens um governador democrata, uma excelente estrutura de campanha de rua e o casal Obama engajadíssimo na reta final.
Ao final, o cargo mais importante do mundo será escolhido pelos poucos moradores de sete estados. A vitória pode ser apertada, mas uma coisa parece certa: a decisão de quem vai ou não ocupar a cadeira presidencial no número 1600 da Pennsylvania Avenue passa justamente… pela Pennsylvania.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York