Os pontos cegos da liderança
Por César Souza
Ao dirigir nossas empresas nem sempre percebemos seus inúmeros pontos cegos. São aqueles fatores pouco notados que tanto podem fazê-las sucumbir quanto podem ser oportunidades inusitadas se devidamente descobertas em tempo hábil.
Esses pontos cegos às vezes se encontram do lado de fora da empresa, na forma de concorrentes invisíveis, nichos de clientes desprezados, tendências na tecnologia, no mercado, nos hábitos dos consumidores e até mesmo parceiros ignorados. Podem também existir dentro da própria empresa um conjunto de fatores que inibem o desenvolvimento do negócio — estrutura inadequada, sistemas gerenciais obsoletos, atitudes inoportunas dos líderes, processos e sistemas improvisados, falta de controles na operação, resultados contraditórios, riscos negligenciados, dentre vários outros.
Os concorrentes invisíveis constituem, de forma bastante recorrente, um desses pontos cegos. Por exemplo, se perguntarmos qual o maior concorrente de um banco certamente as primeiras marcas que vêm à mente são as de outras instituições financeiras. Será mesmo? Na realidade, novas soluções tecnológicas de meios de pagamento, como o pix, tornaram-se os maiores competidores dos bancos tradicionais nas transações diretas com os seus clientes. Um erro pensar que os concorrentes da nossa empresa são apenas quem fabricam os mesmos produtos ou quem prestam os mesmos serviços. Quais os concorrentes ainda não percebidos que também podem afetar a sobrevivência da sua empresa?
Outro possível ponto cego são os nichos de clientes adjacentes ignorados pela empresa. Uma distribuidora de produtos de determinada indústria pode “descobrir” que seria possível maximizar sua capacidade logística oferecendo outros tipos de produtos complementares na mesma região onde já opera. Quais são os nichos de clientes ainda não mapeados ou produtos adicionais que poderiam colocar sua empresa em outro patamar? Mas também existem inúmeros pontos cegos no exercício da liderança.
O mais comum deles reside na autogestão: o baixo grau de conhecimento dos líderes sobre si mesmo e sobre seu nível de inteligência emocional, a incapacidade de ouvir com profundidade os necessários feedbacks, a arrogância e a incoerência entre seus discursos e a prática muitas vezes são formas de, inadvertidamente, boicotarem seus próprios objetivos.
Muitos líderes também fracassam na gestão de equipes por não perceberem os talentos que fazem parte do patrimônio humano da empresa onde atuam. Ou não identificam os detratores às suas ideias e não conseguem entender que neste fato pode residir uma das possíveis causas das suas decisões nem sempre serem implementadas.
Outros se confundem na gestão de resultados: olham certos indicadores que se habituaram a analisar numa realidade que já não existe mais e negligenciam a relevância da Rentabilidade, Retorno no Capital Empregado e Geração Líquida de Caixa que se não encarados com profundidade podem destruir valor da empresa.
A maioria dos líderes se dedica ao dia a dia, mergulha no operacional e não percebe o estratégico, o divisor de águas do negócio. Não investem o tempo necessário para desenvolver o seu capital relacionamento, o ativo que pode ser o diferencial decisivo na hora de obter um importante financiamento ou de conquistar um cliente especial ou até mesmo de garantir a fidelidade de um fornecedor imprescindível.
Quais os fatos ou circunstâncias que você não está percebendo e que podem se tormar em pontos cegos da sua liderança?
Se você ficou inquieto com essa breve lista de “pontos cegos”, comece a pensar nos fatores que podem se constituir tanto em uma ameaça como também em uma bela oportunidade para o posicionamento da sua empresa e da sua carreira para garantir o lugar que julga merecer no futuro.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda