Finanças

A volta dos ativos estressados: volatilidade faz aumentar apetite por risco

Cresce o interesse de investidores brasileiros em ativos de maior risco em meio à busca por retornos atraentes

Crédito: Divulgação

Por Jaqueline Mendes

Com o aumento da volatilidade econômica global e as perspectivas de crescimento moderado no Brasil, investidores locais têm demonstrado um interesse renovado em ativos estressados, considerados uma oportunidade para obter retornos mais elevados em comparação com investimentos convencionais. Esses ativos, que incluem desde dívidas de empresas em dificuldades financeiras até imóveis inadimplentes e ativos ilíquidos, vêm atraindo tanto grandes fundos de investimento quanto investidores individuais, que vislumbram potencial de valorização na recuperação dessas empresas ou reestruturação dos ativos.

Um exemplo disso é a JiveMauá, fruto da fusão entre a Jive Investments e a Mauá Capital, que se consolidou como uma das principais gestoras de crédito alternativo no Brasil, especializada em ativos estressados — investimentos que envolvem ativos em situações financeiras difíceis, inadimplentes ou litigiosos.
A gestora surfou a onda dos últimos anos, quando a pandemia e o aumento das taxas de juros deixaram muitas empresas endividadas e disparou o número de recuperações judiciais.
O plano é destinar pelo menos R$ 2,8 bilhões nos próximos dois anos para o segmento.
Com mais de 18 anos de experiência e R$ 19 bilhões sob custódia, a gestora tem multiplicado seus resultados com produtos como o Jive Distressed FIM CP, voltado a investidores qualificados com apetite ao risco.

Entre outras opções da JiveMauá estão o CSHG Jive Distressed Allocation III FIC FIM CP, que aposta na valorização de cotas por meio de ativos distressed e não permite resgates — uma característica comum a fundos fechados —, e o Jive Distressed & Special Sits IV Advisory (Profissional), focado em crédito corporativo, com um período de investimento de três anos e resgates indisponíveis, prometendo rentabilidade acima do CDI.

2,8bi de reais
é o valor que a JiveMmauá quer investir em dois anos

475 milhões de reais
é o patrimonio do fundo Itaú Algarve Legal Claims II

19 bi de reais
sob custódia é o total de ativos sob gestão da JiveMauá

A atratividade dos ativos estressados está diretamente ligada ao risco.
Esses ativos costumam ser adquiridos a preços muito descontados, mas sua valorização depende de uma análise criteriosa e, frequentemente, de medidas de reestruturação para viabilizar uma recuperação financeira.
Esse perfil de investidor é mais sofisticado, com apetite para riscos calculados e compreensão dos desafios econômicos que tornam os ativos estressados uma oportunidade rentável.

No Brasil, onde a Selic retomou a trajetória de alta, as taxas de juros geraram dificuldades financeiras para diversas empresas. Muitos desses ativos resultam de processos de recuperação judicial, inadimplência ou falta de liquidez, tornando-se alvo de investidores dispostos a explorar essas brechas. “A oportunidade em ativos estressados vem do potencial de aquisição a um valor mais baixo e da eventual recuperação econômica da empresa ou setor”, afirmou o analista financeiro Eduardo Souza, especializado em reestruturação de ativos. “Entretanto, o investidor precisa estar ciente dos riscos inerentes e da complexidade desse tipo de aplicação.”

No cenário brasileiro, gestores como a Vinci Partners, JiveMauá e Itaú Asset vêm se destacando na captação de recursos e aquisição de ativos problemáticos, especialmente nos setores de varejo e construção civil, áreas que enfrentaram crises severas nos últimos anos. A Itaú Asset lançou, no primeiro semestre deste ano, seu segundo fundo focado em créditos ligados a processos judiciais públicos e privados, segmento conhecido como Legal Claims.

Assim como o primeiro fundo, criado em 2022, o Itaú Algarve Legal Claims II é voltado a investidores profissionais e será composto principalmente por cessão de direitos creditórios com deságio e instrumentos de dívida lastreados por direitos creditórios. Segundo a gestora, boa parte dos ativos já está em fase de due diligence, ou seja, em estágio avançado de negociação. A expectativa é captar mais do que o primeiro fundo, que, na época de seu lançamento, levantou R$ 300 milhões e hoje reúne R$ 475 milhões em ativos.