Motor Show

BMW e Mercedes travam a batalha do futuro elétrico premium; entenda

Apesar das incertezas em relação aos elétricos, os projetos dos superesportivos da BMW M e da Mercedes-AMG avançam: ambos serão inovadores, sobretudo na motorização

Crédito: Divulgação

A BMW já registrou o nome oficial – BMW iM3 – no Instituto Europeu de Propriedade Intelectual. O arquirrival Mercedes-AMG tera um motor Yasa de 25 kg e... potência de cerca de 500 cv (Crédito: Divulgação)

Texto Flávio Silveira
Reportagem Fabio Sciarra
Projeções Marcelo Poblete

RESUMO

● Vale começar por um esclarecimento: o BMW iM3, segundo os últimos rumores, não substituirá o M3 a combustão
● Deve se juntar a ele, mas superá-lo em desempenho, graças aos 1.360 cv dos quatro motores elétricos
● Já o cupê de quatro portas da AMG é o rival natural do supersedã da BMW
● Ele chega em 2025 com dois motores elétricos de fluxo axial muito leves, que podem somar mais de 1.000 cv de potência. A bateria terá soluções vindas da F-1 (Crédito: Divulgação)

 

Em meio à turbulência no mercado, o número de fabricantes que estão revendo seus planos para a eletricidade cresce a cada dia. Modelos aposentados, programas atrasados, fábricas em risco de fechar, plataformas canceladas. E o setor do luxo não é poupado: o comando da Mercedes-Benz tem suas dúvidas, e o desenvolvimento da plataforma MB.EA, inicialmente destinada a automóveis a bateria no topo da gama. Mas, nessa tempestade perfeita, certos projetos parecem protegidos das intempéries – os de esportivos de altíssima performance, que se protegem em seu papel de porta-estandartes tecnológicos, se tornam imunes por serem os embaixadores do melhor que os veículos elétricos podem oferecer em termos de desempenho.

Deste grupo de “sobreviventes” de alto desempenho e emissão zero, o mais ilustre representante que está por chegar é certamente a próxima geração do BMW M3. Não há dúvidas sobre seu lançamento, pois algumas pistas recentes chegaram para confirmá-lo: em primeiro lugar, o registro do nome oficial – BMW iM3 – no Instituto Europeu de Propriedade Intelectual. O caminho está claro, mas não será curto: a estreia do que promete ser uma das criações mais inovadoras da engenharia da marca está marcada para 2027, cerca de um ano após o lançamento do novo Série 3, que adotará a plataforma Neue Klasse.

Essa base é o elemento-chave para definir a personalidade do iM3: como declarou Frank Weber, diretor de pesquisa e desenvolvimento da marca alemã, a nova arquitetura poderá ter uma “unidade de controle” muito mais potente do que as que são usadas hoje na plataforma CLAR: o “heart of joy” (coração de alegria), como é conhecido internamente, terá que mediar o diálogo entre os quatro motores elétricos que moverão o modelo. “Nele estarão condensados 20-30 anos da nossa experiência em eletrônica de controle”, explicou Weber: “Todo o nosso know-how sobre desempenho, controle de chassi e gerenciamento de powertrains fluirá para aquela única centralina”. A unidade terá que gerenciar nada menos que um megawatt de energia – ou 1.360 cv de potência, se assim preferir.

Mas a arquirrival Mercedes-AMG não vai ficar parada observando. E se, como dito, por um lado decidiram manter a atual plataforma EVA II para o topo da gama (congelando o desenvolvimento da mais cara MB.EA), o caminho industrial da arquitetura AMG.EA, para modelos esportivos a bateria, não parou. Pelo contrário: muito em breve dará frutos, na forma de um cupê de quatro portas que tomará o lugar do atual GT 4-Door Coupé (cuja carreira termina em 2025) e desafiará o Porsche Taycan.

25 Quilos
É quanto pesa um motor Yasa, e, mesmo assim, ele deve ter potência de cerca de 500 cv. Duas unidades serão colocadas no esportivo elétrico Mercedes-AMG

1.360 CV
A nova centralina “heart of joy” será capaz de gerenciar o complexo diálogo entre os quatro motores elétricos do iM3, que fornecerão uma potência total de 1 megawatt

(Divulgação)

Antecipado por um carro-conceito futurista em 2022, o novo esportivo será visto em versão de produção já no próximo ano: protótipos com a carroceria final estão em estágio avançado de testes e as especificações do projeto não são mais segredo.

A arquitetura desenvolvida pela AMG explorará inovadoras unidades de fluxo axial produzidas pela britânica Yasa, especializada em motores elétricos de alto desempenho e adquirida pela Mercedes em 2021. Sua vantagem, em comparação aos clássicos propulsores de ímã permanente, é serem mais leves e compactos: “Um motor com cerca de 25 kg pode ter mais de 500 cavalos”, explica o fundador da Yasa, Tim Woolmer. Basta instalar um par deles, como fará a empresa, para ter uma potência de quatro dígitos e baixíssimo impacto na relação peso-potência. Mas e a bateria? Mesmo neste aspecto, espera-se algo pouco comum, comparado aos modelos mais utilizados: não há informação oficial, mas a AMG deve aproveitar o know-how derivado da F-1 – em particular, para os perfis de controle de ciclos de carga e descarga, refrigeração e recuperação de energia.

(Divulgação)
(Divulgação)

Origens do mito

● A AMG foi fundada como uma desenvolvedora independente em 1967, e a BMW Motorsport nasceu em 1972.
● Mas, em ambos os casos, a década em que sua fama se consolidou foi a de 80: a apresentação do primeiro M3 (acima), o E30, progenitor de seis gerações, remonta a 1985. É considerado um fundamental na definição do conceito de sedã esportivo médio, segundo os padrões da marca.
● Ao contrário do próximo iM3, o cupê de quatro portas da Mercedes-AMG não tem ancestrais diretos, mas os genes de sua linhagem podem ser rastreados até o furioso Hammer (em preto).
● Resultado de uma profunda transformação do Classe E W124, adotou primeiro um V8 5.6 com 360 cv, que garantia 0-100 km/h em cinco segundos, passando no ano seguinte (1987) a ter motor 6.0 de 380 cv: a corrida por entre as superpotências alemãs começou a partir daí

Um toque de nostalgia

Um excêntrico crossover-cupê da marca bávara surgiu do nada e suscitou comparações com o M1 de 1978 (carro vermelho). Fotos recentes da Alemanha mostram que a BMW está trabalhando, outras vez, em um modelo excepcional – um cupê no mínimo inusitado, com linha de cintura fortemente ascendente e, consequentemente, uma traseira particularmente alta, e bem distante da icônica forma desenhada por Giorgetto Giugiaro em 1978 (que projetamos em branco, abaixo).

Sendo um modelo ainda mais de nicho, poderá ter ainda mais inovações: “As possibilidades de gestão das unidades elétricas são imensuráveis: dá para fazer coisas malucas”, diz Weber.

A família Neue Klasse terá seis membros no espaço de três anos.
● Tudo começa em 2025, com o iX3 e sua variante de entre-eixos longo pra China.
● No ano seguinte, chegam um sedã médio equivalente ao Série 3 seu congênere semelhante ao Série 4 Gran Coupé.
● Há também dois modelos para 2027, o i3 Touring e a nova geração do SUV compacto iX1.

(Divulgação)