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Petz incorpora atacarejo, se recupera, mas mercado segue reticente

Depois de oito trimestres com resultados desanimadores, gigante do setor registra uma guinada em seu desempenho financeiro, impulsionada pela performance no on-line

Crédito: Claudio Gatti

Sérgio Zimerman, presidente da Petz, prepara o terreno para a conclusão do processo de fusão com a Cobasi, onde será presidente do conselho (Crédito: Claudio Gatti)

Por Allan Ravagnani

A virada nos números da Petz no terceiro trimestre de 2024 simbolizou mais do que uma recuperação, mas a transformação estratégica desenhada para enfrentar o competitivo mercado pet. Em uma ação pouco convencional para uma marca que sempre valorizou a exclusividade, a Petz ampliou sua linha de produtos com itens mais acessíveis, abrindo espaço para uma operação de atacarejo e expandindo sua presença em nichos de mercado que antes evitava. A nova abordagem gerou impacto e expectativas no mercado — mas não sem levantar dúvidas e opiniões divergentes entre analistas e investidores.

● O grupo registrou um lucro líquido de R$ 11,8 milhões no terceiro trimestre, alta de quase oito vezes comparado ao mesmo período do ano anterior.
● No mesmo trimestre, a receita líquida somou R$ 848,8 milhões, com aumento de 6,9% em base anual.
● A companhia também fortaleceu sua presença física ao inaugurar cinco novas lojas, alcançando um total de 257 unidades em operação, das quais mais da metade ainda está em processo de maturação.

Além da expansão física, a empresa observou um aumento de 20% nas vendas on-line em comparação ao ano passado. Essa combinação de digital e físico contribuiu para um crescimento de 3,4% nas vendas mesmas lojas, indicador relevante para o varejo. Sergio Zimerman, presidente-executivo da Petz, destacou em sua análise de resultados que, “mesmo em um mercado altamente competitivo, fomos capazes de apresentar uma margem bruta consistente, em linha com o resultado apresentado no primeiro semestre”, afirmou.

Apesar dos resultados, o mercado reagiu com ceticismo. No dia da divulgação, as ações da Petz caíram 14,5%, registrando a maior queda entre as empresas do Ibovespa. O desempenho refletiu a percepção de que, embora a empresa tenha tido uma recuperação em alguns indicadores, as expectativas de crescimento foram frustradas, especialmente em termos de faturamento bruto, que ficou 2% abaixo das expectativas do Santander e 5% abaixo do consenso de mercado.

A XP Investimentos apontou que a Petz apresentou um crescimento de receita moderado, embora tenha demonstrado melhorias na rentabilidade, com uma margem bruta mais elevada. A corretora vê uma tendência positiva na margem bruta, que aumentou 0,6 ponto percentual, mas observa que o canal digital é o principal impulsionador, enquanto as lojas físicas continuam a enfrentar dificuldades para crescer no ritmo esperado.

As principais casas de análise apontam que o varejo físico cresceu menos do que o esperado nos últimos meses ante o digital (Crédito:Divulgação)

16,6%
foi a queda no valor das ações PETZ3 desde a divulgação do balanço do 3T24

257
é no número de lojas físicas que a Petz tinha ao fim do terceiro trimestre

O Goldman Sachs destacou o crescimento da margem bruta, resultado das novas políticas comerciais implementadas no segundo trimestre, que contribuíram para um equilíbrio melhor entre crescimento e lucratividade.

O BTG Pactual também avaliou os números com cautela, considerando-os ligeiramente abaixo do esperado, embora tenha destacado o desempenho positivo da margem bruta. A análise do BTG apontou que, enquanto as vendas digitais se mantêm fortes – representando 44% do total de vendas da Petz –, o desempenho das lojas físicas apresenta estabilidade, o que reforça o cenário desafiador no curto prazo.

A Ativa Research foi uma das mais críticas em relação ao desempenho no trimestre. Para eles, as lojas físicas continuam sendo ponto sensível, e a dependência do crescimento digital coloca a empresa em uma posição de vulnerabilidade, já que o canal físico ainda não alcançou o desempenho esperado.

FUSÃO

O processo de aprovação da fusão com a Cobasi pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) está em andamento, e a Petz prevê que o fechamento da transação ocorra nos próximos meses.

Em paralelo, a empresa trabalha com uma consultoria internacional para planejar a integração, garantindo que as operações se alinhem às melhores práticas do setor de varejo omnicanal.

Entre as principais frentes da integração estão o desenvolvimento de um plano diretor para mapear os processos relevantes das duas companhias, além do refinamento das sinergias operacionais e a cultura organizacional. A fusão deve resultar em um aumento significativo de mercado para ambas as marcas, fortalecendo a atuação conjunta e ampliando o alcance de consumidores no varejo físico e digital.