Dinheiro Rural

La Niña e seus impactos no agronegócio

O fenômeno climático deve se intensificar neste fim de ano, trazendo desafios e incertezas nas principais regiões produtoras do país

Crédito: Sebastian Lopez Brach

A regularidade das chuvas é um fator determinante no sucesso de culturas como a soja e o milho, e qualquer variação pode comprometer o calendário agrícola (Crédito: Sebastian Lopez Brach)

Por Allan Ravagnani

O mundo se prepara para mais um ciclo do fenômeno climático La Niña, que estava previsto para iniciar em outubro. Após um período de influências do El Niño, que trouxe chuvas excessivas ao Sul do Brasil e secas ao Norte, o cenário muda novamente. Com o retorno do La Niña, uma nova série de desafios pode se impor ao agronegócio brasileiro, em especial nas regiões Sul e Centro-Oeste, áreas que já vêm sofrendo com secas prolongadas.

O La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico na região tropical, o que altera padrões climáticos ao redor do mundo.
● Este fenômeno pode intensificar chuvas em algumas áreas e causar longos períodos de estiagem em outras.
● No Brasil, os principais impactos estão diretamente ligados às colheitas, especialmente nas culturas de soja, milho e algodão.
● Segundo a meteorologista Nadiara Pereira, da Climatempo, havia uma previsão de que o fenômeno, desta vez, fosse mais ameno e de curta duração, com menor impacto na primavera, mas seus efeitos podem ser mais visíveis durante o verão, especialmente no Sul.

O Sul do Brasil já lida com uma estiagem prolongada, que afeta diretamente a produção agrícola. As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul durante o El Niño causaram danos significativos em algumas áreas, mas o que preocupa agora é a falta de água para a próxima safra. O La Niña tende a agravar essa situação, já que o fenômeno está associado a secas mais intensas nessa região.

O cenário é preocupante para os agricultores gaúchos, que precisam de volumes regulares de chuva para garantir uma safra de qualidade. Estima-se que o Rio Grande do Sul, que tem grande importância na produção de soja e milho, possa enfrentar uma queda na produtividade, caso as previsões de estiagem se confirmem.

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“Efeitos como Invernada e Veranico são esperados ao longo desse período, mas
calor não deve ser tão intenso.”
Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo

No Centro-Oeste, a situação também exige atenção. Essa região é o coração do agronegócio brasileiro, respondendo por uma grande parte da produção de grãos. A soja, por exemplo, que estava no caminho de uma safra recorde, já apresenta sinais de dificuldades devido ao atraso no plantio, reflexo do clima seco. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já revisou suas projeções de produção, que passaram de 150 milhões para 147,38 milhões de toneladas. Esse ajuste reflete as dificuldades climáticas enfrentadas pelos agricultores, que podem se intensificar com o avanço do La Niña.

Por outro lado, algumas áreas do Norte e Nordeste do Brasil podem ser beneficiadas pelo fenômeno, já que ele tende a trazer chuvas mais regulares para essas regiões. Essa melhora nas condições hídricas pode aumentar a produtividade agrícola em áreas que costumam enfrentar dificuldades com a falta de água. Em especial no Nordeste, que historicamente sofre com a seca, o La Niña pode representar um alívio, proporcionando um ambiente mais favorável ao plantio de culturas como feijão e mandioca.

A Conab já revisou suas projeções de produção de grãos, que passaram de
150 milhões para 147,38 milhões de toneladas com a chegada do La Niña

Ainda assim, o La Niña não é um fenômeno totalmente previsível. O geólogo Marco Morais alerta para a complexidade desse evento climático, especialmente diante da interação entre o La Niña do Pacífico e um possível La Niña no Atlântico, algo pouco estudado até agora. Segundo Morais, as águas do Atlântico Equatorial estão apresentando um resfriamento anômalo, o que pode criar um efeito combinado imprevisível com o La Niña do Pacífico. Essa sobreposição de fenômenos climáticos é algo que ainda precisa ser acompanhado de perto por meteorologistas e cientistas, pois pode gerar impactos inesperados em várias regiões do Brasil.

Essa incerteza é um dos maiores desafios para os produtores rurais, que dependem de previsões precisas para planejar suas safras. A regularidade das chuvas é um fator determinante no sucesso de culturas como a soja e o milho, e qualquer variação pode comprometer o calendário agrícola. Por exemplo, atrasos no início das chuvas, uma característica comum durante os períodos de La Niña, podem encurtar a janela de plantio, o que afeta diretamente a colheita. No caso do milho, que já apresenta dificuldades no planejamento da segunda safra, esse encurtamento pode ser determinante na redução de produtividade.

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O verão também promete ser de monitoramento constante.
● Embora o fenômeno não seja esperado com a mesma intensidade de anos anteriores, os efeitos prolongados da seca no Sul e Centro-Oeste podem continuar prejudicando as safras.
● No Rio Grande do Sul, há preocupação com a possibilidade de uma redução significativa das chuvas, agravando o cenário de estiagem.
● A soja, que já sofre com o atraso no plantio, pode ser uma das mais afetadas, especialmente se as chuvas necessárias para o desenvolvimento das plantas não vierem de forma adequada.

Além disso, o risco de queimadas aumenta significativamente com a combinação de altas temperaturas e falta de umidade no solo. Essa é uma realidade que o Brasil enfrenta há alguns anos e que pode se agravar com o retorno do La Niña. A vegetação mais seca, em combinação com as queimadas, representa uma ameaça não só para o meio ambiente, mas também para a produção agrícola. Ainda que chova mais do que o previsto, a distribuição irregular das precipitações ainda é um fator de preocupação.

Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de adaptação dos produtores rurais a essas variações climáticas. Técnicas de irrigação, manejo adequado do solo e a escolha de culturas mais resistentes à seca são alternativas que vêm sendo adotadas por alguns agricultores, mas essas medidas nem sempre são suficientes para mitigar os impactos de fenômenos como o La Niña. A busca por soluções que garantam a sustentabilidade do agronegócio, mesmo diante de mudanças climáticas imprevisíveis, é um dos grandes desafios para o setor.

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“Há um risco de termos La Niña também nas águas do Atlântico Sul, um fenômeno inédito, que ainda não sabemos no que pode acarretar”
Marco Morais, Geólogo

Nadiara Pereira alerta para os principais riscos a serem enfrentados. O primeiro é o atraso no início e um encerramento precoce do período de chuvas, levando a um encurtamento da estação chuvosa. Além disso, fenômenos como a invernada, períodos de chuva e tempo úmido durante o verão, e veranico, janelas de tempo seco e forte calor, que podem impactar plantações em seus desenvolvimentos e colheita. A meteorologista, no entanto, não é tão pessimista. Segundo ela, é esperado que as chuvas sejam intensas no Norte e Nordeste, aumentando a navegabilidade dos rios e a umidade dos solos. Outro fator é que não se espera um calor tão intenso como o dos últimos anos.

-0,5 grau Celsius, ou resfriamento anormal nas águas do Oceano Pacífico, configura o fenômeno La Niña

O ano de 2025 será decisivo para avaliar o impacto completo do La Niña no agronegócio brasileiro. Se algumas regiões do País podem se beneficiar com o aumento das chuvas, outras enfrentarão desafios significativos devido à seca prolongada. O futuro da produção agrícola brasileira está diretamente ligado à capacidade do setor de se adaptar e responder a essas mudanças climáticas de forma eficaz e inovadora.