Dinheiro Rural

Blockchain e tokenização: o futuro das commodities digitais

A transformação digital no agronegócio com a criação de ativos digitais a partir de produtos agrícolas traz mais segurança, eficiência e novas oportunidades de mercado

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As novas tecnologias permitem acompanhar, em tempo real, o trajeto de commodities desde o plantio até o mercado consumidor (Crédito: Divulgação)

Por Allan Ravagnani

A revolução digital avança em ritmo acelerado no agronegócio, com o blockchain e a tokenização de ativos emergindo como soluções de destaque para transformar a maneira como commodities agrícolas são comercializadas e gerenciadas. Com a capacidade de rastrear cada etapa do ciclo produtivo e criar contratos inteligentes (smart contracts), essas tecnologias oferecem maior transparência e segurança para os negócios, além de facilitar a negociação de ativos no mercado digital.

A rastreabilidade é um dos principais benefícios que o blockchain proporciona ao agronegócio. Por meio dessa tecnologia, é possível acompanhar, em tempo real, o trajeto das commodities, como soja e milho, desde o plantio até o mercado consumidor. Essa visibilidade aumenta a confiança de compradores e investidores, além de diminuir o risco de fraudes e adulterações.

Para Eduardo Novillo Astrada, CEO da Agrotoken, empresa pioneira na tokenização de commodities, “a rastreabilidade é o diferencial do blockchain, permitindo que cada unidade de soja ou milho tokenizada seja vinculada ao ativo físico de forma transparente e segura”. Para ele, essa inovação garante a origem do produto e melhora a competitividade do agronegócio brasileiro, um dos mais importantes do mundo.

MAIS LIQUIDEZ, MENOS BUROCRACIA

A tokenização de ativos agrícolas já está mudando o jogo para produtores e investidores.
● Ao converter uma commodity em token, cria-se um ativo digital que pode ser facilmente negociado em plataformas blockchain.
● Essa conversão digital permite a negociação de frações de commodities, o que amplia o acesso ao mercado para pequenos e médios investidores, além de aumentar a liquidez desses ativos.

Ariel Scaliter, CTO da Justoken, empresa focada em infraestrutura de blockchain, destaca: “Com a tokenização, uma saca de soja pode ser fracionada em tokens e negociada instantaneamente em qualquer lugar do mundo. Isso reduz os custos de transação e elimina intermediários, resultando em maior eficiência operacional”. A tokenização também facilita o acesso ao crédito. Em muitos casos, os tokens lastreados em commodities podem ser usados como garantia para financiamentos, oferecendo aos produtores uma nova ferramenta para obtenção de capital. “A digitalização dos ativos simplifica o processo de constituição de garantias, tornando o crédito mais acessível e ágil”, afirmou Scaliter.

Além de aumentar a liquidez das commodities, a tokenização também abre espaço para a utilização de ativos agrícolas como moeda de troca. Com o avanço das stablecoins, moedas digitais que mantêm um valor estável em relação a ativos físicos, produtores podem utilizar tokens de soja, milho ou café para realizar transações cotidianas ou adquirir insumos. Uma das iniciativas mais comentadas nesse sentido é o cartão de crédito lastreado em commodities agrícolas tokenizadas. Esse cartão permite que o produtor utilize seus tokens como forma de pagamento, aproveitando a indexação dos preços a índices de mercado, como os da Esalq e CEPEA/B3. Scaliter explica que essa forma de pagamento “oferece uma moeda de baixa volatilidade, essencial para negócios em setores com margens apertadas, como o agronegócio”.

“A rastreabilidade é o diferencial do blockchain, permitindo que cada unidade de soja ou milho tokenizada seja vinculada ao ativo físico de forma transparente e segura.”
Eduardo Novillo Astrada, CEO da Agrotoken

CONTRATOS INTELIGENTES

Contratos inteligentes são também inovações que o blockchain traz para o campo. Esses contratos são autoexecutáveis e ativados automaticamente quando as condições previamente estabelecidas são cumpridas, dispensando intermediários. O processo representa maior agilidade e segurança para as operações envolvendo commodities. “Os smart contracts permitem que as negociações sejam realizadas de forma automática e sem risco de inadimplência, pois o pagamento é liberado apenas quando o produto é entregue conforme combinado”, detalhou Astrada.

Essa automação diminui os custos operacionais e a burocracia, tornando o processo mais ágil. Além disso, os contratos inteligentes podem ser aplicados em diferentes etapas da cadeia produtiva, como o transporte e o armazenamento, assegurando que cada etapa siga os parâmetros acordados.

Embora o potencial das tecnologias blockchain e de tokenização seja vasto, ainda há desafios a serem superados para sua plena adoção no agronegócio.
● Um dos principais é a necessidade de uma infraestrutura tecnológica robusta nas áreas rurais, que permita a conectividade e o uso dessas soluções em larga escala.
● De acordo com dados da ConectarAgro, apenas 19% das áreas agrícolas produtivas no Brasil possuem cobertura 4G ou 5G adequada para atividades operacionais.

A expansão dessas tecnologias abre portas para novos modelos de negócios e maior eficiência no campo. Com a digitalização dos ativos, produtores podem negociar diretamente com compradores internacionais, ampliando suas margens de lucro. Scaliter ressalta que “a tokenização de commodities cria um mercado global para os produtos do agronegócio, eliminando barreiras geográficas e facilitando o acesso a novos compradores”. Além disso, o blockchain proporciona um nível de transparência que atende às demandas dos consumidores por produtos com origem comprovada e métodos de produção sustentáveis. A rastreabilidade trazida por essa tecnologia permite que os compradores finais saibam exatamente de onde vêm os produtos que consomem, valorizando os decorrentes de boas práticas agrícolas e ambientais.

INOVAÇÃO

A digitalização do agronegócio, impulsionada pelo blockchain, também contribui para práticas mais sustentáveis. A rastreabilidade garante o controle sobre o uso de insumos, como defensivos agrícolas, e permite uma melhor gestão dos recursos naturais. Isso é particularmente importante em um momento em que a pressão por uma produção agrícola mais sustentável está crescendo globalmente. “O blockchain não só torna as transações mais seguras e eficientes, como também ajuda a garantir que práticas sustentáveis sejam seguidas ao longo de toda a cadeia produtiva”, observa Astrada. Com as tecnologias emergentes, o agronegócio brasileiro se posiciona na vanguarda de um movimento que busca unir eficiência, transparência e sustentabilidade.

O agro, que já é um dos pilares da economia nacional, tem tudo para se beneficiar da adoção do blockchain e da tokenização de ativos.
● A digitalização das commodities traz ganhos significativos em termos de liquidez, segurança e eficiência operacional, ao mesmo tempo em que abre novas oportunidades de mercado para pequenos e grandes produtores.
● À medida que mais empresas adotam essas soluções, o setor se torna mais competitivo e preparado para os desafios do futuro.
● A rastreabilidade, combinada com a possibilidade de utilizar tokens como moeda de troca e garantir crédito com mais facilidade, coloca o agronegócio em uma posição estratégica no cenário global.
● Assim, a revolução digital do campo já está em andamento.
● O blockchain e a tokenização, impulsionados pelo avanço das tecnologias de conectividade e infraestrutura, oferecem novas perspectivas para o agronegócio, que poderá crescer de forma ainda mais ágil, transparente e sustentável nos próximos anos.