A covardia protecionista de uma empresa
Por Carlos José Marques
Foi um show de resistência diplomática e empresarial – setores do governo e da iniciativa privada nacional irmanados – para responder a um golpe baixo, vil e covarde de uma organização francesa que tentou, na base da desinformação, desacreditar um dos principais produtos brasileiros tipo exportação, reconhecidamente de alto valor agregado e qualidade. A rede de Supermercados Carrefour, através de seu CEO na região, Alexandre Bompard, atendendo ao lobby protecionista de fornecedores gauleses, incitou alegações e dúvidas contra a carne brasileira (e, de resto, de toda a América Latina), defendendo que ela não atendia aos padrões de qualidade da organização. Mera balela para dar respaldo e espaço claramente não competitivo à mercadoria “Made in France”. O tiro saiu pela culatra.
O boicote ocorreu às avessas com fornecedores daqui e mesmo consumidores reagindo de pronto ao que poderia ser caracterizado como uma prática de “dumping” ou de reserva de mercado infame. Logo, a rede Carrefour teve de recuar. Buscou se retratar. Emitiu mensagem reconhecendo “a grande qualidade” da proteína verde-amarela. Pediu desculpas. Não convenceu. Na verdade estava temendo a esmagadora ofensiva dos frigoríficos daqui que não deram a afronta por barato e ameaçaram interromper todo o fornecimento, o que seria um caos em termos logísticos e financeiros para o grupo francês. O inconsequente executivo deveria ter caído e não se pode descartar que isso venha em breve a ocorrer. Foi um dos maiores desastres de marketing já verificados por uma companhia da iniciativa privada e, por incrível que pareça, não o primeiro advindo do Carrefour.
A rede também já ficou célebre no Brasil por casos explícitos de racismo, chegando ao homicídio de meros consumidores provocado por seguranças que acoitaram até a morte um deles em frente a familiares. Um horror sem fim. Parece que a empresa não sabe lidar muito bem com esses assuntos, digamos, que beiram a xenofobia. Contra a carne latina, não deixa de ter mais esse componente. Notoriamente considerada como uma das melhores do mundo, de um padrão que certamente não se encontra nem no País natal do Carrefour. A carne bovina, suína e de frango nacional é o que se pode chamar de produto de excelência. Queria o planeta ter a abundância e qualidade que se encontram aqui. É fato, a tensão que se verifica hoje entre a União Europeia e o Mercosul vai prosseguir. Percebe-se que o aumento da competição e resistência entre os dois blocos virou realidade depois do malfadado acordo de livre-comércio, que não saiu justamente por motivo de desproporção comercial. No formato que estava posto, até mesmo a Polônia se opôs aos termos sugeridos.
Protestos de agricultores e de simpatizantes do controle de fronteiras, que são contra a globalização, tomam vulto e agravam o clima. No caso do Carrefour, em meio a esse estado de beligerância, ficou evidente que seu pretenso impulso nacionalista representou um passo maior que as pernas na direção de prejuízos dos negócios do próprio grupo. Que aprenda com a lição.