Negócios

A tropicalização da BYD: chinesa vai produzir motor híbrido flex no Brasil

Com investimentos de mais de R$ 5 bilhões na Bahia, montadora chinesa dobra meta de empregos, para 20 mil vagas, e lança seu inédito motor híbrido flex

Crédito: Elif Ozturk

Para Stella Li, CEO da BYD para as Américas, com essa expansão na Bahia a empresa quer transformar Camaçari no Vale do Silício da América Latina (Crédito: Elif Ozturk)

Por Hugo Cilo

Maior fabricante de carros elétricos do mundo, a chinesa BYD decidiu tropicalizar seus motores com uma inédita tecnologia: o motor híbrido plug-in flex. Isso significa que alguns modelos da marca poderão recarregar a bateria na tomada e, ao mesmo tempo, utilizar um tanque de etanol — combustível limpo que quase já se tornou marca registrada da indústria energética brasileira.

Na última segunda-feira (2), a empresa revelou novidades sobre seus planos para o Brasil, que vão além do novo motor.
● A fábrica, que será a maior da BYD fora da China, promete transformar o estado da Bahia em um polo estratégico de inovação.
● A BYD também aumentou sua meta de contratações para o projeto: serão 20 mil postos de trabalho diretos e indiretos, sendo 10 mil deles gerados em 2025.

As contratações ocorrerão em três etapas: 2 mil vagas serão abertas em janeiro, 3 mil em maio e 5 mil em agosto. Os profissionais atuarão em áreas variadas, alinhados ao compromisso da empresa com a geração de empregos e o crescimento da economia local. “Com essa expansão, estamos transformando Camaçari no Vale do Silício da América Latina. Nosso foco é desenvolver tecnologias verdes e formar engenheiros e técnicos que liderarão a inovação na região”, afirmou Stella Li, vice-presidente global da BYD e CEO para as Américas e Europa.

O anúncio de megainvestimentos e de geração de empregos gerou euforia, mas o grande destaque do evento foi a apresentação do motor híbrido flex, que será usado inicialmente no BYD Song Pro, o primeiro modelo da marca fabricado no Brasil. “Essa tecnologia combina o uso de etanol, combustível sustentável amplamente produzido no País, com energia elétrica, oferecendo eficiência energética superior e redução de emissões”, disse Stella.

O projeto envolveu mais de 100 engenheiros brasileiros e chineses, reforçando a cooperação entre os dois países na criação de soluções adaptadas ao mercado local. “Essa inovação é um marco para a mobilidade sustentável, garantindo desempenho e eficiência em condições diversas”, acrescentou Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD no Brasil.

Com ajuda do Dolphin Mini (abaixo), o novo motor híbrido flex (mais abaixo) e a construção da fábrica, a BYD quer liderar no segmento de mobilidade limpa

(Divulgação)
Divulgação
(Divulgação)

As obras do complexo avançam em ritmo acelerado.
● A primeira fase inclui galpões para montagem no sistema SKD (Semi Knocked Down), pistas de teste e áreas de inspeção.
● Após o Carnaval de 2025, começa a segunda fase, voltada à produção completa de veículos híbridos e elétricos.
● Quando concluída, a planta terá capacidade para fabricar até 300 mil veículos por ano.

Além do Song Pro, o BYD Dolphin Mini, carro 100% elétrico mais vendido no Brasil, será o segundo modelo produzido na unidade. A escolha reforça o compromisso da empresa com a expansão de sua linha de produtos sustentáveis e acessíveis ao mercado brasileiro.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, destacou a relevância do projeto. “A instalação da BYD simboliza geração de empregos, avanço tecnológico e desenvolvimento sustentável. Estamos construindo um futuro promissor para a Bahia e para o Brasil”, declarou.

A presidente da BYD também apresentou o motor híbrido flex ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. Durante o encontro, Lula conheceu o YangWang U8, modelo de luxo da marca equipado com tecnologia inovadora, como o sistema de flutuação que permite navegação em áreas alagadas.

70%
É a atual participação da BYD no mercado brasileiro de elétricos 

MERCADO

Em novembro, a BYD alcançou números recordes no Brasil, com 12.308 veículos vendidos e 8.037 emplacamentos — o maior já registrado pela marca no País. Desde janeiro, as vendas somam 66 mil unidades, um crescimento de 272% em relação ao mesmo período de 2023.

Globalmente, a BYD vendeu 504.003 veículos apenas em novembro, acumulando mais de 3,7 milhões de unidades em 2024. No Brasil, a empresa já lidera o mercado de híbridos e domina o segmento de 100% elétricos, com sete de cada 10 carros vendidos no país pertencentes à marca.

“Nosso objetivo é estar entre as três maiores montadoras do Brasil nos próximos cinco anos, consolidando nosso papel na transição para a mobilidade sustentável”, reforçou Baldy. Atualmente, a BYD conta com mais de 150 concessionárias no país, com previsão de expansão para atender à crescente demanda.

Fundada em 1995, a BYD lidera o mercado global de veículos eletrificados e aposta na transição para fontes renováveis. Seu ecossistema abrange geração de energia solar, armazenamento em baterias e produção de veículos híbridos e elétricos de alta performance. “O investimento em Camaçari é mais um passo da empresa rumo à sustentabilidade e ao desenvolvimento regional, com a criação de um polo industrial inovador que posicionará o Brasil como referência na mobilidade do futuro”, afirmou Baldy.

A BYD integra um movimento sem precedentes no setor automotivo no Brasil, que prevê investimentos de cerca de R$ 100 bilhões até 2029 — o maior patamar da história desse segmento da indústria. A expectativa do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, é que, se forem confirmados todos os anúncios feitos por montadoras, além de autopeças, que também entram nessa conta, será o maior ciclo de aporte de recursos já visto no país pela indústria automobilística.

Na avaliação dele, o ambiente econômico mais estável, favorecido por reformas estruturais, como a tributária, e as diretrizes trazidas pelo programa Mover, que visa à descarbonização da frota brasileira, começaram a destravar os investimentos na indústria automobilística. Novos carros híbridos a etanol vão marcar a entrada das montadoras no Brasil na era da eletrificação.

Entre os maiores investimentos já anunciados, além dos R$ 5,5 bilhões da BYD, estão:
● Stellantis (R$ 30 bilhões até 2032),
● Volkswagen (R$ 16 bilhões até 2028),
● Toyota (R$ 11 bilhões até 2030),
● Great Wall Motors (R$ 10 bilhões até 2032),
● GM (R$ 7 bilhões até 2028),
● Hyundai (R$ 5,45 bilhões até 2030),
● Renault (R$ 5,1 bilhões até 2027),
● Caoa Chery (R$ 4,5 bilhões até 2028),
● Nissan (R$ 2,8 bilhões até 2025),
● e BMW (R$ 500 milhões).