Especial

O prazer de dirigir na mais completa (e talvez mais cara) tradução: Pagani Utopia

Crédito: Divulgação

Pagani Utopia: "artesanato" de R$ 40 milhões (Crédito: Divulgação)

Texto Marco Pascali
Tradução e edição Flávio Silveira
Fotos Enzo Petrucci

É uma enorme responsabilidade estar ao volante de um Utopia. E isso vai além dos 864 cv e 1.100 Nm do seu potente 12 cilindros biturbo, da sua velocidade máxima ou do preço impressionante (cerca R$ 20 milhões na Itália). Noto o significado dessa responsabilidade quando entendo que tenho em mãos uma peça de artesanato que já faz parte da história do automóvel, um modelo no qual a velocidade e a dirigibilidade excelente são aspectos cruciais, mas não centrais, da história. Após quatro horas ao volante entre as estradas de Futa e Raticosa, na Itália, visito a ampla fábrica da Pagani para ver em primeira mão como deve ser construído um carro exclusivo.

É altíssima manufatura, digna deste pedaço de terra onde Horacio Pagani veio buscar a sorte inventando suas máquinas, buscando inspiração nos fabricantes da região a partir do século passado – quando, primeiro a Maserati, e, depois, a Ferrari e a Lamborghini, começaram a explorar o know-how local para gerar maravilhas do que viria a ser o “Motor Valley”, onde grandes homens trabalham com metalúrgica e mecânica.

Com portas e capôs abertos, dá para notar bem como é a estrutura de compostos de carbono, que alia enorme rigidez torcional à leveza necessária para o esportivo apresentar relação peso/potência imbatível (Crédito:Divulgação)
(Divulgação)

Tudo ganha forma no Modena Design, centro de altíssima precisão que foi recentemente adquirido pela Pagani e de onde nascem os mais de 700 detalhes que compõem (e adornam) os acabamentos de cada unidade do carro.
● A escrita Utopia na traseira e outras pequenas peças que compõem o console central (controles dos vidros, pisca-alerta, ar-condicionado etc.), o painel de instrumentos, a base da fabulosa transmissão de sete velocidades e o volante.
● O chassi é de Carbo-Triax e Carbo-Titanium (patentes da Pagani), e as peças são de metais nobres ultraleves: para cada unidade do Utopia que é fabricada, cerca de 700 quilos de sobras de material são descartados pelos cortadores.
● Para criar o volante, usa-se um disco de alumínio de 43 quilos, mas a peça final tem apenas 1,7 quilo. É algo único!
● No ateliê também vemos como engenheiros e artesãos projetam e montam o Utopia, que tem como objetivo ser totalmente personalizado e ter peso (seco) de apenas 1.280 quilos, para se lançar nas estradas e nas pistas com uma relação peso/potência recorde, de 1,48 kg/cv.

Impressionante, assim como é observar de perto as encantadoras linhas de montagem da mecânica e das peças de carbono; esta última, verdadeiro trunfo na manga (para a precisão de montagem) da Pagani.

Debaixo da pele

O desenvolvimento do Utopia começou em 2018, integrando aos volumes algumas características icônicas dos carros dos anos 50 e 60, mas com vislumbres dos antecessores Zonda e Huayra, que deram notoriedade à marca.

Neste caso, formas e funções coincidem:
● o fluxo de ar definiu a forma da parte inferior da carroceria.
● Do Huayra, herda a aerodinâmica ativa: a grande elipse na traseira esconde dois aerofólios móveis.
● Não há apêndices extras porque sua função foi integrada pelo design do revestimento de carbono, bem como pelo chassis e pela parte inferior da carroceria (por meio dos splitters dianteiros, do uso dos fluxos de ar das caixas de roda, do extrator traseiro e da suspensão ativa que reduz a distância do solo em alta velocidade).

Assim, o equilíbrio aerodinâmico é ideal: 46% na frente e o restante atrás, com uma downforce total de cerca de 450 quilos.

O motor V12 biturbo é feito exclusivamente para o Utopia, de acordo com as especificações dadas pela Pagani à Mercedes-AMG, e desenvolve 864 cv e 1.100 Nm (limitado eletronicamente). Ele é casado a uma transmissão Xtrac de sete velocidades montada transversalmente para reduzir o momento polar de inércia. Pode-se optar pelo câmbio automático/sequencial ou pela caixa manual – neste caso, a embreagem (eletrônica e desenvolvida pela Pagani) garante a linearidade do comando em todas as condições de uso.

À carroceria dos citados compostos de carbono, a marca incorpora uma estrutura metálica, resultando em maior rigidez torcional em relação aos antecessores; na dianteira e traseira, quadros de aço cromo-molibdênio sustentam a suspensão em liga de alumínio forjado com disposição quadrilateral, que trabalha junto com as molas helicoidais e os amortecedores coaxiais semiativos.

As enormes rodas são calçadas com pneus Pirelli PZero Corsa 265/35 R21 na frente e 325/30 R22 atrás, enquanto os freios são de carbono-cerâmica, da Brembo, com diâmetro de 410 milímetros e pinça monolítica de seis pistões na frente e 390 milímetros e pinça monolítica de quatro pistões na traseira.

Direção pura

Este extenso prólogo é necessário para contextualizar emoções, fatos e palavras ao descrever como o Utopia se sai na estrada, devolvendo experiências analógicas a cada momento ao volante.
● Não há monitores ou telas para desviar os olhos do motorista da estrada, então dirigir volta a ser dirigir e uma viagem volta a ser uma viagem.
● Entre os instrumentos com ponteiros (feitos com cuidado por relojoeiros, com mecânica notável), há uma única tela para gerenciar a sofisticada eletrônica de bordo.
● Todos os gestos com os quais você interage com o Pagani Utopia foram devolvidos aos botões, para uma ação sempre imediata e física – e uma relação mais verdadeira com o carro.

Há quatro modos de condução, com atitudes diferentes:
● Wet,
● Comfort,
● Sport,
● Race.

Os dois últimos abaixam o carro para deixá-lo ainda mais cirúrgico em curvas (há suspensões gerenciadas eletronicamente), enquanto o primeiro é ajustado para melhor gerenciar a potência e o torque quando a aderência se torna crítica em superfícies mais escorregadias.

Há também um modo mais confortável, o Supersoft. Não é um detalhe trivial, porque também revela um instinto de uso caro a Horacio Pagani: ao ativá-lo, sempre engatando uma marcha mais alta do que a necessária (o torque é enorme) e começando a andar em uma estrada sinuosa, é possível “mergulhar” não só nas curvas, mas também em outra era do automóvel, e voltar a brincar com as sete marchas da caixa manual (com dupla embreagem eletrônica) pelo simples prazer de dirigir.

E isso significa lidar com controles excelentes: da direção aos freios (de carbono-cerâmica), passando pelo peso dos três pedais que, por si só (se possível), já valem o preço do ingresso.

O Pagani Utopia é, enfim, um carro para se dirigir e ser apreciado com dois dedos de vidros abaixados, curtindo o som do V12 e o sopro furioso das turbinas pressurizadas. E tem o grande mérito de lembrar ao mundo que dirigir ainda é uma arte… e uma enorme responsabilidade, neste caso.

(Divulgação)

Pagani Utopia

Motor: traseiro, doze cilindros em V, 6.0, 36V, biturbo (TGV), injeção indireta, intercooler
Combustível: gasolina
Potência: 864 cv a 6.000 rpm
Torque: 1.100 Nm de 2.800 rpm a 5.900 rpm
Câmbio: manual, sete marchas, ou sequencial
Tração: traseira, diferencial autoblocante eletrônico
Direção: elétrica
Suspensão: duplo quadrilátero, amortecedores semiativos
Freios: discos de carbocerâmica (d/t)
Dimensões: 4,67 m (c), 2,06 m (l), 1,16 m (a)
Entre-eixos: 2,79 m
Pneus: 265/35R21 (d) e 325/30R22 (t)
Porta-malas: n/d
Tanque: n/d
Peso: 1.280 kg (a seco)
0-100 km/h: n/d
Velocidade máxima: 350 km/h (limitada)
Consumo médio: 6,6 km/l (Europa)
Nota de consumo: E

Preço na Itália: R$ 20.000.000
Preço no Brasil: (estimado) R$ 40.000.000