Juros elevados: liderança em tempos do cólera

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César Souza: "É, sim, a hora da verdade, de exigir atitudes como espírito de dono, coragem, foco e resiliência mobilizando sócios, parceiros e colaboradores para se apaixonarem pela busca de soluções e não pelos problemas" (Crédito: Divulgação)

Por César Souza

O surpreendente anúncio da possível alta de 3% da taxa de juros nos próximos meses causou um verdadeiro tsunami nos planos estratégicos da enorme maioria das empresas que operam no País.

Trata-se de um “Cavalo de Troia”, embalado como um presente natalino perverso, destruidor de sonhos de projetos de crescimento de algumas empresas, além de forçar outras a cortar na carne para sobreviver ao custo financeiro que corrói a suada produtividade operacional.

A expectativa era de algo em torno de 0,75% na última reunião do Copom. Sabemos que um remédio amargo tanto pode curar doenças quanto causar efeitos colaterais em pacientes, se aplicado em dose elevada, exatamente o que o Banco Central acaba de prescrever para se contrapor ao pacote de ajustes muito xoxo do governo, para prevenir a possível perda do controle da inflação e para combater o irresponsável desarranjo fiscal. Um medicamento indigesto para muitas empresas já combalidas pela insegurança jurídica e pela absurda carga tributária imposta no País.

Essa expectativa de taxa básica de juros de cerca de 15% colocará o Brasil no topo do ranking com o maior spread de juros do mundo. Ou seja, teremos um juro real superior a 9%, a diferença entre a Selic prevista para março e uma inflação que ainda não chegou a 5% ao ano.

Para algumas empresas, o impacto de cada 1% de aumento na taxa de juros implica um incremento de cerca de R$ 50 milhões em custos financeiros. Uma empresa saudável, porém intensiva no uso de capital, terá sua rentabilidade bem reduzida logo nessa primeira subida de juros. Se a taxa subir de fato mais 2 pontos percentuais, nas próximas rodadas do Copom, a empresa entrará em prejuízo, mesmo que aproveite o benefício fiscal dos juros, conhecido como “taxshield”.

Podemos imaginar o impacto nas empresas menores e endividadas que trabalham na realidade para quitar impostos e pagar juros aos bancos.

O que fazer nos “tempos do cólera”, metáfora que parece apropriada para essa época de vacas magras, governo e Congresso gastadores e consequentemente juros altos?

Momento dos líderes empresariais se provarem, pois sabemos que bons marinheiros não se formam em tempos de mar calmo e sim nos momentos de tempestades.

Os líderes precisam fazer o seu dever de casa e utilizar esse período de turbulência para “arrumar a casa”, que deve começar com a tarefa de engajar suas equipes para que foquem nos produtos e serviços mais rentáveis, reduzindo a necessidade de capital de giro e evitando desperdícios.

Além disso, os dirigentes necessitarão:

• Repensar o propósito e o posicionamento da empresa
• Focar nos nichos de mercado e clientes que deseja servir
• Redefinir os resultados desejados, assim como as prioridades de curto e médio prazos
• Buscar o ponto de equilíbrio para o retorno sobre investimentos, pois ficar um ano sem investir pode tornar a empresa sem competitividade quando o novo ciclo chegar
• Aprofundar as competências necessárias para atravessar a tormenta: produtividade e eficiência operacional
• Redefinir a estrutura, equipes e responsabilidades

Não é hora de jogar a toalha nem de pessimismo ou negativismo. Muito menos de complacência.

É, sim, a hora da verdade, de exigir atitudes como espírito de dono, coragem, foco e resiliência mobilizando sócios, parceiros e colaboradores para se apaixonarem pela busca de soluções e não pelos problemas.

Trata-se de aglutinar forças e construir pontes em direção ao futuro para garantir o seu lugar na outra margem do rio onde se encontra o amanhã.

César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda