Agente Smith, é você? A ascensão dos agentes de Inteligência Artificial
Por Luís Guedes
Ainda estamos nos acostumando ao que podem fazer GPTs, Geminis e Copilots e uma nova entidade digital está saindo do imaginário para reorganizar de novo a forma como utilizamos a Inteligência Artificial. Shakespeare escreveu em As You Like It: “O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, entram nele e saem”. No drama do avanço tecnológico, os Agentes de IA serão os mais intrigantes artefatos que teremos visto nos últimos 100 anos. Mas o que são exatamente estes atores digitais?
Fundamentalmente, um Agente de IA é um sistema que percebe seu ambiente e toma ações para atingir objetivos específicos. Parece simples, mas o tema esconde uma complexidade absurda, e a tentativa de uma definição precisa pode ser uma tarefa escorregadia. Andrew Ng, um dos principais pesquisadores de IA da atualidade, sugere que em vez de discutir o que são agentes, deveríamos separar os agentes em níveis, tal como fazemos com os veículos autônomos, que são classificados segundo seu grau de autonomia.
Na extremidade inferior deste espectro, poderiam estar sistemas nos quais uma IA encaminha dados de entrada para fluxos de trabalho específicos, tal como um roteador inteligente e incrivelmente rápido. À medida que se avança na escala, haveria sistemas capazes de tomar decisões cada vez mais complexas de roteamento, em ambientes menos estruturados, inclusive antecipando consequências e tomando decisões sob incerteza.
No topo da hierarquia estariam enfim os agentes verdadeiramente autônomos – entidades digitais que poderiam construir suas próprias ferramentas, lembrar bilhões de ações e resultados, simular incontáveis cenários e tomar decisões em patamares sobre-humanos.
O núcleo dos agentes de IA é um grande modelo de linguagem (LLM) que permite ao sistema compreender e gerar texto de modo praticamente idêntico ao que fazemos nós, humanos. As ações do agente serão fundamentalmente determinadas pela qualidade do LLM e pela eficácia de sua conexão com a rede.
A integração dos agentes de IA aos processos empresariais e à nossa vida pessoal levanta muitas e importantes questões sobre supervisão, privacidade, segurança, responsabilização e deslocamento de postos de trabalho
A CrewAI, startup fundada por um brasileiro, captou recentemente R$100 milhões em investimentos e atraiu a atenção do CEO da OpenAI, que também participou do aporte. A empresa já desenvolve uma plataforma de agentes para automatizar fluxos de trabalho complexos de fim a fim e vai indo de vento em popa.
Tal como Agente Smith, no brilhante Matrix, o Agente de IA entrará na nossa vida de modo insidioso. Logo será o assistente pessoal que irá ajudá-lo, ocupado leitor, a gerenciar seu calendário, ou irá redigir seus e-mails por você, atarefada leitora. Os agentes irão aprender suas preferências, conectar-se aos seus dados pessoais e bancários e se adaptarão a cada dia ao seu estilo de escrita e de vida. Será um caminho sem volta…
A integração dos agentes de IA aos processos empresariais e à nossa vida pessoal levanta muitas e importantes questões sobre supervisão, privacidade, segurança, responsabilização e deslocamento de postos de trabalho. Como poderemos garantir que os agentes estarão sempre alinhados com nossos valores e intenções? Poderemos confiar neles? O desafio de criar sistemas de IA que não sejam apenas inteligentes, mas também éticos e benéficos para a humanidade, é um dos grandes desa os do nosso tempo.
Luís Guedes é professor da FIA Business School