Perspectiva 2025

É preciso gerenciar expectativas, uma tarefa urgente para a economia

Confiança em baixa, pressionada pelo cenário de inflação e pela política monetária e fiscal, pode deixar rastros negativos sobre o crescimento

Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil

Heverton Peixoto: "Além do “mercado” como entidade abrangente dos agentes financeiros, pessoas de todas as faixas de renda e empresários de todos os portes compõem a medida de nervosismo ou esperança de uma população em relação à sua economia" (Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)

O ANO DA COP 30 | CONSUMO E FINANÇAS

Por Heverton Peixoto

A economia brasileira tem superado projeções e crescido a um ritmo acelerado em 2024. Para 2025, no entanto, o cenário mais incerto exige atenção das autoridades para administrar melhor as expectativas e os níveis de confiança, que têm profundo impacto sobre o desempenho da demanda interna – justamente um dos principais puxadores do Produto Interno Bruto (PIB), que deve ser de 3,39% no final do ano, como vimos recentemente.

Neste ano, o consumo tem catapultado a atividade econômica, com mercado de trabalho forte e melhora da concessão de crédito, além das transferências de renda como aposentadorias e benefícios sociais. Também, mesmo com o recuo do agronegócio, os setores de serviços e indústria impulsionaram a atividade do lado da oferta.

Mas as perspectivas são mais árduas para 2025. As expectativas do mercado têm sido impactadas pela curva de juros em ascensão e dúvidas sobre a efetividade do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo. A aceleração de 2024 não terá o mesmo efeito diante do cenário que se desenha em 2025, por uma série de fatores.

Primeiramente, o “choque de juros” dado pelo Banco Central neste final de 2024 superou as projeções mais ousadas, com previsão de duas novas altas na Selic no início do ano que vem, revertendo toda a trajetória recente de redução. Se, por um lado, segura a inflação, por outro, a medida assertiva do BC impõe certas travas de crescimento sobre a economia, ao encarecer o crédito e limitar o investimento e o consumo com uma Selic na faixa de 14% a.a.

Já o agronegócio teve um 2024 mais morno, e há expectativa de que se recupere com força no ano que vem, com avanço de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) previsto para o setor, catalisado pela safra recorde de grãos e a consequente maior exportação. Mas há desafios geopolíticos que podem acometer o segmento globalmente.

É justamente esse ambiente de incerteza e instabilidade global que pode minar todos os setores da economia no mundo todo, ao abalar a confiança do consumidor e do universo empresarial. Não à toa, “ansiedade” foi uma das palavras do ano de 2024 pela 8ª edição da pesquisa “Palavra do Ano no Brasil”, realizada pela consultoria CAUSE e o instituto de pesquisa IDEIA.

A confiança é um fator complexo de se levar em consideração na hora de projetar desempenho econômico, pois flutua de acordo com o noticiário e, mais do que fatos, reflete a impressão que negócios e famílias têm sobre ela. Além do “mercado” como entidade abrangente dos agentes financeiros, pessoas de todas as faixas de renda e empresários de todos os portes compõem a medida de nervosismo ou esperança de uma população em relação à sua economia. Em um círculo vicioso ou virtuoso, os indicadores de confiança mexem nos indicadores de atividade, ao reduzir ou elevar níveis de consumo e investimento.

A mistura de expectativas abaladas, cenário global instável e juros altos locais não ajuda em nada um dos fatores-chave para o crescimento e o desenvolvimento econômico do Brasil: o crédito. Tendo conseguido algum alívio neste ano, o crédito pode ser dificultado pelas altas taxas de juros e o ambiente incerto no próximo, incrementando os níveis de inadimplência e prejudicando especialmente os pequenos e médios empreendedores de menor qualificação em gestão de negócios. Players com conhecimento específico e boa reserva de capital tendem a se manter no mercado, elevando seu marketshare em detrimento aos demais – justamente os negócios que mais precisarão de apoio por entidades de fomento e instituições de crédito não bancário.

Ou seja, no melhor dos cenários, a economia irá andar de lado em 2025. Percebemos como a modulação das expectativas não se trata de uma mera frivolidade para atender ao “mercado”. Se abaladas por uma aversão a risco generalizada, as expectativas da população e dos empreendedores podem impactar fortemente a economia. Pressões de confiança reduzidas, pressionadas pelo cenário de inflação e pela política monetária e fiscal, podem deixar rastros negativos sobre o nosso crescimento não apenas em 2025, mas provavelmente também no próximo triênio.

Ganhos de credibilidade são urgentes para a economia brasileira e passam, inclusive, pela forma com que as medidas são comunicadas. Fazendo a lição de casa, atraindo capital e reduzindo a pressão pela elevação dos juros, podemos superar momentos difíceis – e não lamentar por eles.