A economia circular é, acima de tudo, sobre pessoas
Por Beatriz Luz
Em novembro, Recife foi sede de um evento internacional para debater os caminhos da transição para uma economia mais circular. Pela primeira vez, o Circular Hotspot, criado na Holanda, desembarcou em terras brasileiras, e, entre três dias de palestras, painéis e reuniões multilaterais, uma frase dita no evento por Arno Behrens, economista do Banco Mundial, ecoou na mente de todos os participantes: “Para que a economia circular avance, só precisamos de três coisas: pessoas, pessoas e pessoas”.
De forma muito realizada, afirmo que o Brazilian Circular Hotspot estabeleceu um marco histórico para a circularidade no País. Em 2024, tivemos o lançamento da Estratégia Nacional de Economia Circular e a inserção da economia circular no programa Nova Indústria Brasil. Com o evento, reunimos representantes do governo federal e estadual, da indústria, de instituições financeiras, da academia e de projetos sociais que transformam vidas por meio de um novo olhar para produtos e serviços, trazendo uma perspectiva mais clara de onde estamos e aonde queremos chegar.
O governo do estado de Pernambuco, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e da Secretaria de Relações Internacionais, foi fundamental no engajamento com o tema. Um olhar futuro de comprometimento veio através da assinatura de um Memorando de Entendimento com o governo da Finlândia, para desenvolver ações conjuntas que posicionam a economia circular como prática necessária para reduzir desigualdades e promover resiliência ambiental frente às mudanças climáticas.
Com participantes de diversos lugares do Brasil e de países como Noruega, Eslovênia, Holanda, Finlândia, Áustria, Bélgica e França, o BCH2024 trouxe às mesas de discussão a maturidade do conceito da economia circular, mostrando a importância da visão sistêmica, do redesign de produtos, da integração entre os vários elos da cadeia e da necessidade de rever os processos produtivos com os quais estamos acostumados.
No entanto, o que a fala de Arno Behrens nos ensina, mesmo na perspectiva de uma instituição financeira do porte do Banco Mundial, é que podemos ter o dinheiro, a tecnologia, as ideias e as metas, mas nada temos se não tivermos as pessoas.
E, quando falamos em pessoas, não é só um grupo de especialistas aqui e ali: é a sociedade, em suas diversas camadas; são produtores e consumidores que devem tomar novas decisões; são líderes e trabalhadores em variadas esferas que vão modificar o curso da cadeia; são economistas que definirão novas bases de investimento e retorno. Para enfrentar as crises climáticas e de biodiversidade atuais, devemos começar pelas pessoas e com as pessoas.
São as pessoas que vão desenvolver as políticas públicas para a transição circular e novas matérias-primas. Também são elas que trazem um potencial único de criatividade para alavancar a economia circular, não só na forma de reavaliar o design dos produtos, mas na criação de uma narrativa diferenciada, que tem que acontecer para inspirar a todos para a transição.
O BCH2024 abriu as portas para o Fórum Mundial de Economia Circular, que também acontece de forma inédita no Brasil em 2025, em São Paulo. Também estamos com os olhares voltados para a COP30, em Belém, que precisa posicionar a economia circular como solução para enfrentar os desafios das cidades.
Diante disso tudo, a nossa esperança é que o caminho esteja sendo pavimentado – para que as pessoas se engajem, estabeleçam relações de confiança, cuidem umas das outras, acreditem no potencial do coletivo. A circularidade é equilíbrio, com muito mais sentimento e humanidade (ainda bem!) do que poderíamos prever.
Beatriz Luz é fundadora e diretora da Exchange 4 Change Brasil e do Hub de Economia Circular Brasil