Sobre a importância do modelo de gestão
Por Luís Guedes
Há pouco mais de dez anos o termo “modelo de negócio” entrou de vez no léxico corporativo e acadêmico. Esse modelo descreve as escolhas da organização quanto à geração de receitas e composição de custos, configurando uma fórmula para obtenção sustentável de lucro. Uma mesma empresa pode ter diferentes modelos de negócio, como é o caso das empresas aéreas, e o entendimento do tema é essencial, na medida que dele decorrem muitas decisões estratégicas.
A literatura acadêmica distingue o conceito de modelo de negócio de estratégia. Enquanto essa última tem a ver com o delineamento de um plano para se chegar a uma situação futura desejada, o modelo de negócio é um sistema integrado de atividades que determinam a forma como a empresa gera valor. Em alguma medida, o modelo de negócio é a materialização da estratégia.
Quero chamar sua atenção para um conceito significativamente menos discutido, no entanto: o modelo de gestão. Em essência, representa as escolhas da liderança que irão determinar a forma como o trabalho é executado, incluindo a coordenação das atividades, o padrão para tomada de decisões e formulação de objetivos e os instrumentos de motivação. Amazon, Google e Apple, por exemplo, adotam abordagens muito distintas para coordenar o trabalho de seus colaboradores e parceiros, ainda que sejam concorrentes diretos em diversos mercados. O modelo de gestão se refere às escolhas relacionadas ao “como” o trabalho é realizado.
Em minha jornada estudando e aconselhando organizações, percebi que o modelo de gestão é frequentemente o diferencial entre o sucesso duradouro e o fracasso prematuro. Não se engane: um modelo de gestão não é um conjunto de regras ou procedimentos. É uma filosofia operacional, a manifestação prática da visão dos líderes sobre como o trabalho deve ser realizado, como os objetivos devem ser estabelecidos, os recursos alocados, o padrão para tomada de decisões gerenciais e como o sucesso deve ser medido e recompensado.
O modelo de gestão é frequentemente o diferencial entre o sucesso duradouro e o fracasso prematuro. É somente por meio dele que se pode garantir o aumento sustentável da eficiência operacional e cultivar uma cultura de inovação
A eficácia de um modelo de gestão reside em sua capacidade de ser claro em meio ao caos, de alinhar esforços dispersos em direção a objetivos verdadeiramente comuns e de transformar a estratégia em ação. Arrisco dizer que é somente por meio de um modelo de gestão robusto que se pode garantir o aumento sustentável da eficiência operacional e cultivar uma cultura de inovação e aprendizado contínuo. Ele é o catalisador que transforma um grupo de indivíduos em uma organização coesa e orientada para o futuro.
No entanto, muitas empresas operam com um modelo de gestão não formalmente estruturado e cuidadosamente pensado, mas sim como resultado fracamente acoplado das escolhas que vêm fazendo pelo caminho. Penso que seja tempo disso mudar: o modelo de gestão deve ser deliberado, pensado e escrito com a mesma diligência e atenção do plano estratégico. Deve ser tão dinâmico e adaptável quanto o ambiente de negócios em que opera. Mesmo que bem elaborado, deve ser regularmente examinado, questionado, refinado e, sobretudo, comunicado.
À medida que avançamos para um futuro cada vez mais complexo, a importância de um modelo de gestão bem concebido e adaptável só aumenta. Um modelo de gestão robusto é o chão firme sobre o qual a organização pode pivotar com risco sob controle e com propósito.
Luís Guedes é professor da FIA Business School