A nova guinada de Zuckerberg
Por Marcos Strecker
O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, pode ser criticado por muita coisa, mas não pela falta de ousadia para reinventar seus negócios, que prosperam na onda de super enriquecimento das big techs. Ele até mudou o nome de sua empresa para Meta, na tentativa de liderar o fenômeno do metaverso (que não aconteceu). Atualmente, sua rede social Facebook ainda tem um papel importante, apesar de ser cada vez mais “cringe” (de pessoas velhas), o Instagram ocupou espaço relevante (mas foi desbancado pelo chinês Tik Tok) e o seu Threads cresce à medida que o X (ex-Twitter) encolhe. Com a “virada cultural” causada pela eleição de Donald Trump, como o próprio bilionário acaba de definir, ele resolveu alinhar completamente suas operações com o movimento direitista e antirregulamentação do novo presidente.
O anúncio feito por Zuckerberg, na terça-feira (7), de que acabaria com a “censura” e a moderação de conteúdo nas suas redes foi recebida com entusiasmo por Trump. O republicano admitiu que o cavalo de pau da Meta pode ter acontecido por causa de suas repetidas ameaças aos empresários do Vale do Silício que ainda resistem a abraçar suas políticas disruptivas. Foi uma guinada radical. Desde 2016, quando o Facebook foi acusado de favorecer a primeira eleição de Trump, Zuckerberg chegou a pedir perdão aos americanos e montou uma grande estrutura para combater as fake news em suas redes, ainda que sem grande transparência.
Agora, ele quer surfar com o trumpismo, que tenta tirar qualquer controle sobre a expansão das big techs, inclusive na Europa e na América Latina, regiões que sofrem com ataques à democracia e tentam conter o discurso de ódio e a criminalidade nas redes. Essa pressão para tirar as amarras das companhias certamente terá impacto no mundo, como Trump já estimula em países europeus. Haverá consequências sociais e políticas globais, certamente. Mas, nos negócios, o maior desafio de Zuckerberg é se alinhar a outra mudança de paradigma que lhe escapou: a Inteligência Artificial (IA). Ele vai dançar conforme a música política do momento, mas nos bastidores sua verdadeira luta é para atualizar suas empresas com a nova tecnologia. Nessa corrida, ele ainda está atrasado.
Investimentos
Sem IPOs na B3
A alta de juros nos próximos meses, confirmada pelo aliado do presidente Lula e novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já está preocupando diversos setores, afastando investidores e esfriando o apetite da bolsa pelo risco. Resultado: não deve haver IPOs em 2025. Assim como aconteceu nos últimos anos, operações de abertura de capital na B3 estão descartadas, por enquanto. O último IPO aconteceu em 2021, com a Vittia, empresa de insumos e tecnologia para o setor agrícola. Analistas consideram que a principal razão é justamente a alta da Selic, já antecipada pela autoridade monetária. Uma alternativa é a abertura nas bolsas americanas, que vivem um boom desde a vitória de Donald Trump. Mas não há candidatos na fila, por enquanto.
Macroeconomia
Risco-país da Argentina cai. Já o risco do Brasil…
Javier Milei continua a comemorar os resultados positivos na economia após um ano de gestão. Na última segunda-feira (6), o risco-país da Argentina ficou abaixo de 600 pontos pela primeira vez desde 2018. A inflação em novembro fechou em 2,4%, ante 25,5% em dezembro de 2023. Os números embalam a popularidade surpreendentemente positiva do presidente ultraliberal argentino, contra todas as previsões, mesmo que a pobreza tenha atingido 53% da população. As diferenças são gritantes em relação à economia brasileira, por óbvio. Mas um dado comparativo pode incomodar o governo Lula. O risco-país do Brasil (medido pelo Credit Default Swap de 5 anos), na última semana de 2024, atingiu 205 pontos, expansão acima de 72 pontos em 12 meses. É a maior alta anual desde 2015, ano da recessão no governo Dilma.
Negócios
Ambev vende a marca de sucos Do Bem
A marca de sucos Do Bem deve mudar de mãos. A Ambev, que havia adquirido a fabricante em 2016, decidiu vender a Do Bem para a mineira Tial, que tem como uma das sócias o grupo Pif Paf. A operação não teve o valor divulgado e ainda precisará ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa do Consumidor). É um mercado caracterizado por muitas marcas, várias com penetração regional forte, apesar da concorrência da Coca-Cola com a Del Valle. A Ambev divulgou que nos últimos oito anos sua divisão de não-alcóolicos contou com grandes inovações e expandiu seus pontos de venda, mas deseja agora priorizar outras marcas e segmentos de negócios. Para a companhia, o negócio pode ser confirmado em breve, já que não há forte concentração concorrencial.