Repensando o crescimento econômico
Por Vitoria Saddi
No final do ano, eu procuro ler livros que, por falta de organização e tempo, não consegui. Todo ano, o Financial Times anuncia duas listas dos melhores do ano em todas as disciplinas: a short list e a long list. Dessas duas listas, um grupo de notáveis elege o melhor livro do ano do jornal. Trata-se de uma das mais importantes premiações do mundo para literatura especializada e de ficção. Em 2024, Growth: A Reckoning, de Daniel Susskind, ficou entre os seis melhores do mundo. Lá o autor examina a tensão entre a busca por vertiginoso crescimento que pode aumentar a desigualdade e destruir o meio ambiente e a necessidade de preservar o que valorizamos.
Susskind nos brinda com um esforço válido para persuadir o público em geral de que a política econômica deve ampliar seu foco de visar principalmente impulsionar o crescimento do PIB para considerar também os custos desse crescimento. O autor é professor King’s College London e Oxford e observa que o crescimento econômico trouxe ganhos sem precedentes na prosperidade e bem-estar em todo o mundo há mais de dois séculos. Os governos dão alta prioridade ao crescimento do PIB, considerando-o como um indicador resumido da força econômica associada a maior riqueza, menor pobreza, melhor saúde e outros benefícios.
Mais recentemente, a urgência das mudanças climáticas, da desigualdade e da fragmentação social levou a preocupações sobre o preço do crescimento. Os efeitos colaterais dos combustíveis fósseis, que fornecem grande parte da energia para o aumento da produção, são claros. Em muitos países, o aumento da desigualdade e o esvaziamento das comunidades acompanharam o crescimento e levaram a fraturas sociais e políticas.
Os formuladores de políticas devem agora enfrentar a questão de como administrar as economias de uma forma que aproveite os benefícios do crescimento e reduza os custos. O livro de Susskind faz parte de um crescente corpo de literatura que pede que a política econômica amplie seu foco além da renda para considerações de bem-estar social que sejam mais amplas e que também levem em consideração o futuro.
Algumas pessoas ignorariam os trade-offs entre o crescimento e seus efeitos colaterais indesejáveis – negando que eles existam e continuando com a ênfase do business as usual ou, no outro extremo, revertendo o curso do crescimento –, mas uma discussão mais relevante é como gerenciar os trade-offs. “Cabe a nós confrontar as compensações apresentadas pela promessa do crescimento e seu preço”, escreve Susskind, melhorando-as sempre que possível, mas, quando isso não for possível, aceitando a necessidade de escolher entre objetivos.
Por exemplo, as políticas podem procurar induzir um progresso tecnológico mais ecológico e fornecer incentivos para promover um crescimento menos dependente de combustíveis fósseis. Susskind sugere que impostos e subsídios, leis e regulamentos e narrativas e normas sociais estão entre os instrumentos que podem ser usados. Mas, além de um certo ponto, os formuladores de políticas podem simplesmente precisar aceitar que o cumprimento dos objetivos climáticos e sociais pode exigir um crescimento mais lento. Quando se torna necessário escolher, Susskind sugere deixar essa escolha para o mundo da política. Ele lança seus argumentos em termos de coisas que devemos fazer, o que pode assumir um conjunto comum de interesses. Uma dificuldade prática para tais propostas é que as preferências das pessoas sobre o equilíbrio entre crescimento e outros objetivos diferem acentuadamente – até mesmo dentro dos países, tanto no mundo desenvolvido quanto em desenvolvimento.
Uma parte do livro não será novidade para os economistas, que estão familiarizados com trade-offs entre crescimento e outros objetivos. As agências de fomento como o Banco Mundial, BID e FMI incorporaram a mudança climática em seu trabalho há relativamente pouco tempo, mas há muito reconhecem que a qualidade do crescimento é importante. O livro é bem-vindo quando nos deparamos com o maior incêndio de todos os tempos em Los Angeles, causado por mudanças climáticas. A síntese de Susskind dessas questões é uma adição útil à discussão pública. Como ele diz: “Devemos valorizar o futuro tanto quanto reverenciamos o passado”.
Vitoria Saddi é PHD em economia pela University of Southern California, é estrategista da SMFutures. Atuou como economista-chefe da Roudini Global, do Citibank, da Queluz Asset e do Salomon Brothers