Keynes dos trópicos, Lula III, besteira II: bolsa-geladeira

Por Edson Rossi

Lula é um gênio político. Pena que não se possa dizer isso de sua porção econômica. Por mais que no fim das contas role reeleição, em oito anos à frente do País ele conseguiu parir duas coisas: Dilma e Bolsonaro.

Neste terceiro mandato, depois de jogar dinheiro na mão de montadoras para baixar preço de carros (diga aí a consequência macroeconômica disso), o governo decide agora que a nova transferência de dinheiro será para a chamada linha branca. Ele e o ex-tucano (atual ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) Geraldo Alckmin (hoje PSB) anunciaram que vão reeditar um programa de incentivo à compra de eletrodomésticos da linha branca (geladeira, máquina de lavar, televisões).

Lula anunciou a nova bobajada — que só leva dinheiro aos empresários do setor, não deve gerar um emprego de longo prazo nem mudar nada na economia — na quarta-feira (12). “Até falei para o Alckmin: ‘Que tal a gente fazer uma aberturazinha para a linha branca outra vez?’”

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Coerência, a gente vê por aqui

Elon Musk, CEO da Tesla, da SpaceX e dono do Twitter, anunciou na quarta-feira (12) que terá uma nova companhia, a xAI, empresa de inteligência artificial (IA). O objetivo seria “entender a verdadeira natureza desse universo”. Até aí tudo bem. Cada um investe no que quiser. O lance é que Musk é dos maiores críticos aos poderes negativos da tecnologia de inteligência artificial. O Financial Times relatou em abril que o bilionário já havia feito contratos para uso de milhares de processadores GPU da Nvidia a fim de alimentar um grande modelo de linguagem em IA.

“Microeconomia trata sobre o dinheiro que você não tem. Macroeconomia trata do dinheiro que o governo está sem.”
P.J. O’Rourke (1947-2022), Jornalista político americano

FOCUS
Inflação parece assimilada. Selic e PIB, ainda não

Demonizar o mercado é o papel de dois perfis de pessoas: a multidão que não entende nada de economia e a minoria que entende muito de economia. Com isso colocado, é possível avaliar os sinais que o Relatório Focus semanalmente tem trazido — e economistas de renome sabem que ler o Focus isoladamente é erro, mas entender as pistas traz grandes sinais. Pois o documento divulgado segunda-feira (10) mostra que o mercado acredita sim que o índice de preços irá ficar menor — foi a oitava semana seguida de previsão de queda do IPCA. Desta vez, de 4,98% para 4,95% (era de 5,42% há quatro semanas). Excelente notícia para o Banco Central poder mexer no juro em agosto. Já o crescimento do País e a Selic não mudam de lugar nas projeções para dezembro: PIB de 2,19% e Selic a 12%.

PESQUISA QUAEST
Lula palatável na Faria Lima

Pesquisa Quaest feita na primeira semana de julho, com 94 fundos de investimento sediados no Rio de Janeiro e em São Paulo, mostra que o presidente tem sido mais aceito, apesar de ainda estar distante de agradar à metade do entrevistados.

EUROENCRENCA
Otan gorda? Aceite a Turquia na UE

Jornalisticamente ninguém diz o que rola: a Europa jamais vai aceitar de boa a Turquia.
Por dois motivos:
a) a Turquia, com 85 milhões de habitantes, é maior que qualquer país europeu (a Alemanha tem 84 milhões);
b) a Turquia é muçulmana (no mais cristão dos continentes — nesse jogo a latrino-américa não conta).
Então… isso explica o recado dado segunda-feira (10) pelo presidente turco Recep Erdogan (foto). Ele afirmou que antes de forçar a entrada da Suécia na Otan — e só se entra no clubinho bélico, do qual Ankara faz parte, por unanimidade — será preciso que a União Europeia (UE) aceite a Turquia no bloco. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, falou sobre a decisão da Turquia em Vilnius (Lituânia), onde a aliança se preparava para abrir sua cúpula anual. Agora a mídia ocidental vai dar vozes aos articulistas que colocarem todo tipo de encrenca nas costas de Erdogan. Pode chamar de realpolitik.

As reveladoras declarações de cid (só que não)

Nas fotos, imagens de três momentos de extrema coragem e relevância com a participação do tenente-coronel Cid Mauro (a.k.a. Bolsonaro’s Brother) na terça-feira (11), em seu (não) depoimento à CPMI dos atos golpistas de 8 de Janeiro. Como (quase) todo militar enrascado, ele preferiu ficar calado. Bem calado. Ao contrário das mensagens encontradas em seu celular.

QUEM COMPRA PETRÓLEO RUSSO?
Spoiler: todos, menos os EUA

Exportações de combustíveis fósseis da Rússia (petróleo, gás e carvão) caíram acentuadamente desde a invasão da Ucrânia e o estabelecimento de sanções, em especial dos Estados Unidos e da União Europeia. De um pico de vendas externas diárias de US$ 1,2 bilhão em março de 2022 houve redução de 63% e as vendas diárias hoje estão na casa dos US$ 440 milhões. Ainda assim, o comércio internacional não foi estancado, como desejava Washington. Pior. No começo de julho, Arábia Saudita e Rússia confirmaram a intenção de reduzir a produção de petróleo para aumentar (ou pelo menos não deixar cair) o preço do barril no mercado internacional. Abaixo, os maiores importadores de combustíveis fósseis de Moscou.