Brasil menos presente em Davos
Por Marcos Strecker
Foi bem reduzida a participação oficial brasileira no Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos, que começou na última segunda-feira (20). O evento foi marcado sobretudo pelas notícias vindas de Washington: a volta de Donald Trump ao poder nos EUA, o que causou apreensão nos Alpes suíços. Entre as poucas autoridades brasileiras presentes estavam o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e o governador do Pará, Helder Barbalho. Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente, desmarcou. Também não compareceu Fernando Haddad. Essa representação modesta tem a ver com a temperatura quente em Brasília. A mudança ministerial e a eleição da nova direção na Câmara e no Senado estão concentrando as atenções do Planalto, evidentemente. Além disso, a consolidação da Reforma Tributária segue sendo a prioridade número um da Fazenda, já que se trata do maior legado do atual governo na área econômica, o que será importantíssimo em 2026.
O pequeno protagonismo governamental em Davos, que é um polo importante de atração de investidores, é um sinal ruim também para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA), em novembro. O diplomata André Corrêa do Lago foi nomeado na terça-feira (21) presidente do evento, que é fundamental para o governo Lula. Apesar das manifestações de líderes mundiais (nos palcos, como o secretário-geral da ONU, António Guterres, na foto) e de ativistas (nas ruas, na imagem acima) pela causa ambiental, o Brasil deixou de aproveitar a reunião em Davos para se posicionar e divulgar a conferência da ONU agendada no Pará, ressalvada a participação de Helder Barbalho. Se a presença oficial minguou, o setor privado garantiu um espaço mais robusto. Nesta edição do Fórum Econômico, foi lançado o Brazil House, uma iniciativa liderada por BTG Pactual, Vale, Gerdau, Ambipar, Be8, JHSF e Randoncorp. O novo espaço deveria ser utilizado pelos executivos dos patrocinadores para receber líderes internacionais e divulgar as causas do empresariado nacional até o final do evento, na quinta-feira.
EUA
Dólar despenca (por enquanto) com Trump 2.0
A posse de Donald Trump na segunda-feira (20) atraiu a atenção de todo o mundo. Além da demonstração de popularidade e força, as dezenas de ordens executivas que assinou tiveram enorme repercussão, especialmente as relacionadas à restrição aos imigrantes e ao perdão dos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 2021. Mas a falta de medidas comerciais concretas do novo presidente americano também foi sentida e mexeu com os mercados mundiais. O republicano prometeu tarifar produtos da União Europeia e disse que seu governo deve impor, a partir de fevereiro, uma tarifa de 10% sobre os produtos importados da China. Também citou taxações de 25% para importações do México e do Canadá. Mas tudo ainda está no terreno do possível. O Brasil, porém, foi diretamente impactado, apesar de não ter sido alvo de nenhuma medida inicial (noves fora a citação de desprezo pelo papel do Brasil feita por Trump a uma jornalista da TV Globo). Com a ausência de medidas que catapulta variam o dólar, a moeda americana caiu no mundo, especialmente por aqui. Chegou a despencar para R$ 5,91 na quarta-feira (22), menor valor desde dezembro. Para agentes financeiros e agências de risco, há a expectativa de que o novo presidente imponha tarifas a produtos brasileiros, avaliadas em 5% no caso da Moody’s. Seja qual for o alíquota, isso iria desvalorizar o real e diminuir o saldo da balança comercial brasileira. Apesar do alívio momentâneo com o dólar, portanto, novos solavancos na economia devem acontecer. O setor nacional que pode se beneficiar de forma mais segura, aparentemente, é o agronegócio. As exportações brasileiras podem aumentar, já que os produtores americanos sofreram com a guerra comercial do primeiro mandato de Trump – cenário que deve se repetir agora.