Negócios

DPaschoal expande portfólio para projetos imobiliários e agricultura

Divisão automotiva puxa o crescimento dos negócios da holding que envolvem também imóveis e agricultura

Crédito: Lucas Cersosimo

A gama de serviços disponibilizados pela DPaschoal atrai clientes há mais de 70 anos (Crédito: Lucas Cersosimo)

Por Angelo Verotti

A Companhia DPaschoal de Participações tem 115 anos de história marcada pelo desenvolvimento de projetos em diferentes áreas, como automotiva, imobiliário e agricultura. O grupo conquistou prestígio entre o público brasileiro a partir de 1949, por meio da DPaschoal, especializada na prestação de serviços de manutenção de veículos e que atuou inicialmente sob o nome fantasia Casa dos Pneus.

Quase 75 anos se passaram, a DPaschoal ganhou marcas parceiras que ajudaram a levar o segmento a um faturamento de R$ 2,6 bilhões no ano passado, com previsão de crescimento de ao menos 15% este ano. “Deveremos alcançar R$ 3 bilhões apenas na área automotiva”, afirmou à DINHEIRO Luis Norberto Pascoal, que assumiu a presidência em 1970, então com 23 anos, após a morte do pai e fundador Donato Pascoal.

Com 124 lojas (entre próprias, franqueadas e credenciadas) em mais de 100 municípios em oito estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o grupo DPaschoal tem se destacado pela inovação.

Não à toa criou, ainda em 1980, a Maxxipel, empresa de inovação e tecnologia com autonomia para pesquisar, projetar e implantar soluções.

O princípio de “medir e testar antes de trocar” está no DNA das lojas DPaschoal, graças a ferramentas que avaliam a real necessidade dos clientes — são cerca de 5 milhões na base.

“Meu pai falava: ‘Luís, a gente não pode vender, a gente tem que servir. Se você serve direito, a pessoa volta’.”

O conselho é seguido até hoje pelos 3 mil colaboradores da empresa, sempre atenta também às questões ambientais.

“Se você vende um óleo quando não existe necessidade, além do custo financeiro ao consumidor, tem a questão ambiental, já que o óleo é ruim para o planeta.”

Luis Norberto pascoal, presidente da Dpaschoal

“Se você vende um óleo quando não é preciso, além do custo financeiro ao consumidor, tem a questão ambiental, já que o óleo é ruim para o planeta.”
Luis Norberto pascoal, presidente da Dpaschoal

Com atuação sob a premissa Sustentabilidade, Educação e Responsabilidade Social (SER), o grupo intensificou ao longo das décadas as iniciativas para expansão dos negócios.

Um exemplo foi a Recaltec, criada em 1985 e hoje chamada de Recmaxx, especializada na recapagem pré-vulcanizada de pneus.

“Introduzimos novos padrões de qualidade e de confiabilidade”, disse o empresário. Dois anos depois entrou em operação a DPK, empresa pioneira na operação de televendas.

As estratégias de negócios no mundo digital começaram em 1998 por meio do site Auto Z, que teve inicialmente o objetivo de gerar conteúdo automotivo na internet. Mas diante do crescimento da marca e da necessidade do público em ter um ambiente on-line para a compra de produtos, o portal se tornou o primeiro e-commerce no País especializado na venda de pneus, acessórios e autopeças.

Já em 2016 surgiu a KDP, distribuidora oficial de pneus da bandeira e tempos depois a Kmaxx, que auxilia na busca por peças. “A plataforma oferece um amplo banco de produtos automotivos, o que agiliza o processo”, afirmou o presidente.

Outra novidade foi o site autopecas.com.br, plataforma B2B com distribuidores cadastrados e uma ampla rede de compradores, entre lojistas, varejistas, redes e mecânicos. A solução tem tecnologia de busca por placa e oferece oferta de preço e frete.

A atenção dedicada aos produtos e clientes se estendeu aos prestadores de serviços. Além de ter criado em 1986 o primeiro curso de mecânica para mulheres, a empresa colocou em prática já em 2011 o Maxxi Training, para suprir a demanda de capacitação do segmento automotivo.

A divisão é voltada ao ensino e atualização profissional do setor, além de ser responsável pelo desenvolvimento de talentos e aperfeiçoamento do capital humano já existente na empresa.

Desafios

O investimento no mundo digital, em redes credenciadas e em franquias fez com que a DPaschoal anunciasse, em 2020, o fechamento de várias lojas próprias pelo País, inclusive em São Paulo.

A empresa também fortaleceu o segmento de linha pesada, com atenção maior a caminhoneiros e frotistas, diante da concorrência pesada de produtos asiáticos na linha de pneus para automóveis leves.

“Temos atendidos os caminhoneiros mesmo em dias em que as lojas estão fechadas”, disse Pascoal, que revelou planos para retomar os negócios na capital paulista a partir do ano que vem.

Mesmo aos 76 anos, o presidente garante pique para levar os projetos da DPaschoal adiante. Em meados da década de 2000, ele chegou a deixar o comando da empresa por “cansaço”. Ficou oito anos afastado, mas foi aconselhado por uma consultoria a retomar as rédeas do negócio.

“Demos a volta por cima. E seguimos desenvolvendo os nossos projetos com a política sempre de atender bem e com ética.”

Portfólio

Os negócios do grupo DPaschoal envolvem projetos no setor de desenvolvimento imobiliário. Em 1999, com investimento superior a R$ 10 milhões à época, a companhia inaugurou o Techno Park, primeiro condomínio empresarial de Campinas destinado a indústrias de alta tecnologia e não poluentes.

Atualmente, mais de 70 empresas estão em operação na área superior a 500 mil metros quadrados.

Os colaboradores da DPaschoal têm como foco atender apenas a real necessidade do consumidor (Crédito:Andrea Prado)

O maior sonho e também desafio para o presidente no segmento está na construção de um projeto habitacional em Franca, com total de 18 mil moradias a serem entregues em 18 anos.

Segundo o executivo, a demanda por imóveis chega a 4 mil unidades por ano na cidade do interior paulista. “E nós vamos construir 25% [1 mil]”, disse. As casas e também apartamentos serão destinados às classes C+ e B-.

Com 10% do projeto já desenvolvido, os investimentos ultrapassaram os R$ 60 milhões e devem superar os R$ 2 bilhões até o final. O bairro planejado vai receber também comércios, indústrias, creches, escolas e igrejas. “Um projeto voltado para a educação, para o convívio, com comércio, escolas de todos os tipos, parques e anfiteatros.”

98%
do café produzido no país pela Daterra é exportado para cidades nos Estados Unidos, Europa e Ásia

O projeto é inspirado no Vila Flora, residencial na cidade de Sumaré, região de Campinas. “Do total da área [1 milhão de metros quadrados], 25% vão ficar para proteção ambiental, com ruas largas e prédios baixos. É um sonho mesmo”, afirmou Pascoal.

“Fizemos parceria com o construtor. Ele não precisa pagar o terreno para nós quando entra. Primeiro ele faz a obra, entrega para os donos para depois acertar com a gente. Foi uma mecânica financeira.”

No bule

Antes mesmo de os projetos imobiliários ganharem forma, o grupo DPaschoal voltou a investir num antigo negócio da família: agricultura.

Mais especificamente a cafeicultura. Em 1976, a DPaschoal criou a Daterra com o objetivo de desenvolver projetos agrícolas e ambientalmente sustentáveis. A empresa é especializada no ramo de cafés especiais.

Segundo o presidente, a produção da empresa no Brasil varia de 85 mil a 90 mil sacas de café por ano e, do total, cerca de 98% atendem os mercados internacionais.

Os distribuidores estão nas costas Leste e Oeste dos Estados Unidos, além de Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, Dinamarca e Suécia. “São 92 pontos onde o café chega para distribuir para restaurantes.” Isso se contar clientes no continente asiático como o Japão. Uma prova de que o grupo DPaschoal está preparado para rodar o planeta.