O Brasil em meio à competição entre bancos e fintechs
Por Linconl Rocha
O segmento financeiro e bancário no Brasil vive um dos mais importantes momentos de sua história recente. Passa por uma revolução, ora silenciosa, ora barulhenta. Muitas vezes, o debate propositivo dá lugar a polêmicas desnecessárias. Sobre isso, é essencial estabelecer uma premissa: não há uma guerra entre bancos e fintechs. Um segmento deve atuar em favor do outro, para o bem da sociedade. Mesmo assim, recentemente, organizações relevantes manifestaram suas preocupações com esse ambiente de conflito.
Foi o caso da carta aberta divulgada ao mercado pela Associação de Gestão de Pagamentos Eletrônicos (Pagos), Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Relações Empresariais Internacionais (Ibrei), Associação Nacional dos Facilitadores de Pagamentos (Anfap) e o Núcleo de Estudos do Desenvolvimento Empresarial e Econômico (G100 Brasil). Juntas, essas entidades pedem maior diálogo por parte de todos os agentes envolvidos no ecossistema financeiro.
A digitalização tem tornado mais confusos os limites de cada setor, o que dificulta a identificação de competidores, assim como de novas empresas, clientes e fornecedores. Essa é uma das razões pelas quais estratégias convencionais estão falhando. É preciso que líderes pensem na competição como uma arena definida por uma necessidade do cliente.
Estamos diante de uma oportunidade valiosa de mudar a lógica do crédito, investimento, consumo e da circulação de valores monetários, considerando as mudanças regulatórias e a transformação cultural da sociedade, incluindo a digitalização de nossa forma de viver.
Bancos e fintechs cumprem um papel de alto valor na criação de padrões e soluções financeiras que fomentem novas ideias e amplifiquem as possibilidades e experiências de quem está, verdadeiramente, no centro das atenções: a sociedade.
As fintechs geram uma experiência mais próxima do cliente. Elas estão à frente da criação de produtos digitais intuitivos, fáceis de usar, inteligentes e econômicos. Com uma velocidade incrível, essas startups têm conquistado uma fatia relevante de mercado, porque estão conseguindo alavancar as mídias sociais, integrar dados e orquestrar plataformas escaláveis aos seus respectivos negócios.
Na mesma direção, mas por caminhos diferentes, estão os bancos, que oferecem um portfólio riquíssimo de produtos, além de enorme potencial de investimentos e capacidade de realização de fusões e aquisições, e de movimentos estratégicos, por meio de seus braços de risco em fintechs. A grande maioria dessas instituições também tem trabalhado na oferta de produtos digitais de alto grau de sofisticação.
O resultado dos esforços de bancos e fintechs, ainda que apenas iniciais, é a formação de uma base para um modelo colaborativo de negócios, de geração de valor partilhado e de grande apelo para a inclusão digital. E isso é excelente para o desenvolvimento de um sistema financeiro robusto e seguro, que pode funcionar como espelho para mercados internacionais. Precisamos estar cada vez mais em sintonia com as empresas e lideranças que estão ajudando a reinventar o mundo, dialogando com todos os outros segmentos da sociedade.
As fintechs têm muito a crescer e a contribuir com essa revolução. Ainda há muito chão para percorrer. Porém, a tendência é que as fintechs agreguem cada vez mais produtos e serviços e até se tornem parecidas com bancos, com a promessa de melhorar a experiência do cliente.
Numa analogia à criança que vai ao supermercado – e que alcança apenas as prateleiras próximas ao chão, normalmente, repletas de doces -, o setor bancário e financeiro tende a ganhar envergadura e capacidade de atingir as bancadas superiores das gôndolas, onde a oferta de mercadorias é bem maior. Ainda que crianças em uma jornada de inovação, somos todos protagonistas de outra dimensão, que ainda desconhecemos. Um modelo que sinaliza para um futuro de real desenvolvimento econômico e social.
Linconl Rocha é presidente da Pagos (Associação de Gestão de Pagamentos Eletrônicos)