BC dá umas diretas no governo

Crédito: Diego Grandi/ Sergio Lima

De um lado um Executivo que pensa em equilíbrio fiscal apenas pelo crescimento da receita e apagou a palavra ‘corte’ da narrativa. De outro um BC, sob Roberto Campos Neto, dando recados claros de que isso não bastará. Nesse campo, a ata da reunião de número 254 do Copom traz movimentos à Muhammad Ali: parecem vindos do balé,
mas são diretos. Dividida em quatro blocos (Conjuntura Econômica, Cenários & Análises de Risco, Discussão da Política Monetária e Decisão da Política Monetária), ela contém 23 pontos. Seus cinco principais recados são:

a) “O ambiente externo se mantém adverso e os bancos centrais das principais economias seguem buscando a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.”

b) Então vamos elevar a taxa de juros neutra? “A maioria dos membros do comitê julgou que essa interpretação ainda parece prematura e necessita de corroboração maior dos dados.”

c) Ainda há gatilhos… “Os dados inflacionários mais recentes corroboram a visão de um processo de desinflação mais lento, em linha com a visão de uma inflação movida por excessos de demanda, em particular no segmento de serviços.”

d) Arcabouço Fiscal ajuda? Sim, mas a teoria precisa virar prática. “Não há relação mecânica entre a política monetária e o Arcabouço Fiscal.”

e) “O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária.”
A propósito, o governo acaba de emplacar no BC seu primeiro nome, o do economista Gabriel Galípolo. Ele era o número 2 de Fernando Haddad e será diretor de Política Monetária do BC. O anúncio foi feito na segunda-feira (8).

NA MIRA
Banco mundial aponta o dedo para o fiasco da Zona Franca de Manaus

Lalo de Almeida

Assinado por Marek Hanusch, o Banco Mundial acaba de lançar um vasto estudo sobre a economia da região amazônica e, em particular, aponta o dedo para uma das grandes quimeras nacionais: a manutenção dos benefícios fiscais para a Zona Franca de Manaus. E, segundo o estudo, eles não compensam. “Os incentivos fiscais a atividades industriais na Amazônia Legal não ajudaram a estimular o crescimento da produtividade e devem ser reavaliados.” Essa renúncia de arrecadação corresponde a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Segundo o relatório, “apesar do alto custo fiscal, o Amazonas vem perdendo competitividade, e encontra cada vez mais dificuldade para atrair novas empresas, [assim como] o número de empregos na indústria também vem diminuindo”. E qual seria a saída? Olhar para a logística. “No caso do estado do Amazonas, reduzir os custos de transporte em 12,5% (por exemplo, reformando o sistema de cabotagem) aumentaria o PIB estadual em cerca de 38%. Isso é mais que o valor anual dos atuais incentivos fiscais para a Zona Franca de Manaus.” É o famoso #ficaadica para nossas lideranças públicas e empresariais.

VIDA ANDA DURA
Rentabilidade dos bancos

De acordo com o Banco Central, o retorno sobre o patrimônio líquido (que mede a rentabilidade) do sistema financeiro nacional em 2022 foi de 14,7%, contra 15,7% de 2021. O BC disse que, no último trimestre do ano passado, o Caso Americanas levou à elevação das provisões para inadimplência em 25% na comparação trimestral, o que prejudicou a rentabilidade.

“Não tenho resposta” Fernando Haddad ao ser questionado sobre como
fazer para elevar a isenção do Imposto de Renda a R$ 5 mil, como prometeu o presidente Lula em campanha

Sergio Lima

“A palavra subsídio ficou pejorativa. Quando era para o agro, ninguém reclamava” Ricardo Alban, que assume a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de outubro, em entrevista à Folha de S.Paulo

Valter Pontes/Coperphoto/Sistema FIEB

SEGUE O FIO
Sobrará para Bolsonaro?

Alan Santos

Essa é a pergunta. Depois de se enroscar com vídeos golpistas e na ainda mal explicadíssima querela das joias presenteadas pelos árabes, o lúmpen-ex-presidente Jair Bolsonaro (à dir.) agora vê seu principal braço direito, o militar tenente-coronel Mauro Cid (à esq.), se enroscar cada dia mais. Preso desde o dia 3, na operação da Polícia Federal (PF) sobre falsificação de cartões de vacina, a perícia que está sendo feita em seu celular revela conversas sobre remessas de dinheiro para fora do País. Os valores serão investigados. No dia da operação que levou à prisão de Cid — e outras cinco pessoas — a PF apreendeu na casa do militar US$ 35 mil e R$ 16 mil, tudo em cash. Na mesma operação o ex-presidente JB também foi alvo, mas não teve mandado de prisão contra ele.