Economia

O real já é digital – e se chama Drex

Primo do Pix, Drex será responsável por garantir segurança e lastro on-line para transações entre empresas. Modelo pode ser cartilha para países que ainda batem cabeça com suas criptomoedas

Crédito: Istockphoto

Real digital: Banco Central está na vanguarda do sistema financeiro internacional (Crédito: Istockphoto)

Por Paula Cristina

A história tem nos ensinado que, quando uma revolução está em curso, perde quem não olha para ela — em especial governos e autarquias públicas. Com isso em mente o Banco Central (BC) criou em 2020 grupos de trabalho para a criação de uma versão virtual do real. O projeto entra agora em sua fase de testes. A ideia é aproveitar os excelentes resultados obtidos com o Pix (tanto em sua execução e aplicação quanto na aceitabilidade) para criar uma moeda virtual equivalente ao dinheiro em circulação. E a esse recurso será dado o nome de Drex. Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, todas as soluções de tecnologia aplicadas pelo banco envolvem as premissas de facilitar, regular e gerar novos negócios. “Vamos acompanhar a digitalização da economia de forma segura e prática”, disse.

R$ 1 Será equivalente a 1 Drex. O Lastro do BC irá garantir estabilidade que as cripto normais não possuem

Diferentemente das criptomoedas, cuja cotação é atrelada à demanda e à oferta e tem bastante volatilidade, o Drex terá o mesmo valor do real.

Cada R$ 1 valerá 1 Drex, com a moeda digital sendo garantida pelo Banco Central, enquanto as criptomoedas não têm lastro de nenhuma autoridade monetária.

A moeda também será usada no atacado, não no varejo, ou seja, não será acessado diretamente pelos correntistas, mas por meio de carteiras virtuais atreladas a uma instituição de pagamento, como bancos e correspondentes bancários. O cliente depositará nessas carteiras o correspondente em reais e poderá fazer transações com a versão digital da moeda.

Segundo o coordenador da iniciativa no Banco Central, Fabio Araujo, o Drex tem como objetivo criar uma infraestrutura pública de blockchain em um ambiente regulado.

Nesse sentido, a moeda digital “seria interoperável com a infraestrutura de pagamentos existente e facilitaria novos modelos de negócios”.

Se der certo, a iniciativa pode se tornar a cartilha usada por vários países que ainda não possuem ferramentas virtuais para lidar com a volatilidade e falta de lastro das criptomoedas nas transações entre empresas.

Tal potencial, inclusive, chamou a atenção do Fundo Monetário Internacional (FMI). “O BC está na vanguarda da inovação financeira, com um sistema de pagamentos instantâneos (o Pix) extremamente bem-sucedido e a moeda digital para o atacado.”

Na ponta desse tipo de solução está a China, que já tem em uso, em algumas cidades selecionadas, o yuan digital.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central: “Vamos acompanhar a digitalização da economia com soluções seguras, práticas e eficientes, como foi o Pix” (Crédito:Raphael Ribeiro/BCB)

Na prática, o Drex funcionará como um primo do Pix, mas com diferentes finalidades e escalas de valores. Enquanto:
1) o Pix obedece a limites de segurança e é usado, na maior parte das vezes, para transações comerciais,
2) o Drex poderá ser usado para comprar imóveis, veículos e até títulos públicos.

E por isso o FMI entende que é possível minimizar os riscos de desintermediação financeira por meio de depósitos/contas tokenizados emitidos por instituições como o principal instrumento de pagamento. “Com o tempo, a nova plataforma exigirá a representação digital de mais ativos do mundo real para permitir uma transição para mais transações financeiras baseadas em tokens”, informou o Fundo.

Na onda

A previsão do BC é que a novidade esteja disponível para uso até o fim do ano que vem, e 16 empresas já fazem testes para criação da plataforma onde serão realizadas as transações.

Os testes envolvem operações simuladas e testarão a segurança e a agilidade entre o real digital e os depósitos tokenizados (ativos reais convertidos em digitais) das instituições financeiras.

Os ativos a serem usados no projeto piloto serão os seguintes:
• depósitos de contas de reservas bancárias, de contas de liquidação e da conta única do Tesouro Nacional;
• depósitos bancários à vista;
• contas de pagamento de instituições de pagamento;
• e títulos públicos federais.

Os testes serão feitos em etapas, com as transações simuladas com títulos do Tesouro Nacional sendo feitas apenas em fevereiro do próximo ano.

O SFCoop, consórcio formado pelas cooperativas financeiras Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred, confirmou ter realizado na sexta-feira (4) suas primeiras emissões de tokens Drex como parte do teste supervisionado pelo BC.

O experimento envolveu a conversão de R$ 1,5 mil de um saldo da reserva bancária de uma instituição financeira para a carteira digital do consórcio na Metamask, a plataforma do consórcio.

Ainda faltam testes de emissão de:
real tokenizado,
transferência de ativos entre diferentes carteiras,
e as operações envolvendo títulos públicos tokenizados.

“Já temos uma rede com determinados participantes, alguns contratos inteligentes já foram desenvolvidos e disponibilizados pelo Banco Central nesta rede”, informou o consócio em nota. Ponto para a economia do real, que agora paira no etéreo universo digital.