Construtora Mitre Realty quer crescer com a Daslu
Incorporadora e construtora adquire direitos da tradicional marca de luxo com plano de incrementar receita na alta renda com produtos e serviços
Por Angelo Verotti
Diversificar é a nova base. Com 55 anos de atuação no mercado imobiliário paulista, a incorporadora e construtora Mitre Realty adotou essa estratégia similar ao adquirir, por R$ 10 milhões, os direitos sobre a marca Daslu, antiga varejista para a alta renda que teve a falência decretada em 2021. “Queremos oferecer diferenciais inéditos em empreendimentos também de altíssimo padrão”, disse o CEO, Fabricio Mitre. É um importante reforço no portfólio da companhia, que alcançou a marca de R$ 1 bilhão em vendas brutas em 2022, além de R$ 1,4 bilhão em lançamentos.
A aquisição do espólio da Daslu é um passo fundamental para a expansão dos negócios. A Mitre tem direito sobre as 51 marcas da empresa, casos, por exemplo, do Terraço Daslu, do Daslu Vintage e da Villa Daslu, que oferecem desde itens para animais até decoração, cama, mesa, banho, roupas, cosméticos, bolsas, joias e até administração de imóveis.
“A ideia é trazer uma experiência de lifestyle única, muito mais completa”, afirmou o executivo. Com isso, os clientes combinarão produtos, serviços e experiências.
A Mitre atua na capital paulista num espectro amplo — renda média baixa (linha que chamam de Origem), média (Raízes), média alta (Haus) e altíssima renda (Mitri Exclusive Collection).
O preço das unidades varia de 8 mil a 50 mil o metro quadrado. As linhas Origem e Raízes têm produtos em bairros na Zona Leste e Zona Norte.
Com a Haus, atuam em bairros como Brooklyn, Pinheiros e Perdizes. “E temos também a Mitre Exclusive Collection, com atuação basicamente nos Jardins em empreendimentos de altíssima renda.” São, no total, R$ 5,2 bilhões em bancos de terrenos.
O projeto de crescim0ento envolve também parcerias, como a firmada com a Lucio Engenharia para o desenvolvimento de empreendimentos residenciais de alto padrão. Rodrigo Cagali, VP de Operações e CFO da Mitre, enxerga nessa parceria uma oportunidade de acelerar o crescimento, dividir despesas e diluir riscos. “Com projetos resilientes”, afirmou.
5,2 bilhões de reais
é o valor geral de vendas do banco de terrenos da Mitre na capital paulista
Balanço
As estratégias visam incrementar os negócios da Mitre, que, neste ano, viveu o melhor primeiro trimestre em vendas de sua história.
Foram R$ 242 milhões em vendas líquidas, alta de 58% na comparação anual. Já entre abril e junho o volume chegou a R$ 185 milhões, totalizando R$ 427 milhões no semestre — crescimento de 24,6% em comparação com o mesmo período do ano passado.
O lucro líquido cresceu 441,6% na comparação anual, para R$ 74,6 milhões.
A Mitre promoveu dois lançamentos entre janeiro e junho: o Origem Guilhermina, segundo projeto da linha, com VGV de R$ 297 milhões, e o ML Brooklin, o primeiro empreendimento em parceria com a Lucio Engenharia, com VGV de R$ 210 milhões.
Neste mês, será lançado uma das principais apostas da Mitre para o ano, o Gio Jardins, com VGV total de R$ 261 milhões e 26% comercializados na pré-venda.
O aquecimento nas vendas, aliada à queda da taxa Selic, que impacta nos financiamentos, faz o CEO prever um segundo semestre mais forte. “O setor está em clara retomada, os números de vendas das empresas mostraram isso”, afirmou Mitre. “Num cenário para 2024 com uma queda ainda maior de juros, a economia entrando no eixo, teremos um bom ânimo.”
Os desafios macroeconômicos, no entanto, existem. Um dos principais, na visão de Mitre, é equilibrar as contas públicas sem que isso prejudique a retomada da economia.
“É muito ruim para a economia o poder público imaginar que sempre vai aumentar os impostos e de alguma forma equilibrar o orçamento”, afirmou. “É mais sustentável que tenha uma solução de corte e de racionalização dos custos do governo, para que o próprio governo tenha mais espaço para investir.”