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Como o Brasil virou destaque no Airbnb, segundo Fiamma Zarife, diretora na América do Sul

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Fiamma Zarife: “As pessoas mudaram o comportamento e por isso a gente vê o aquecimento do turismo local e também do turismo doméstico” (Crédito: Divulgação)

Por Lara Sant’Anna

Fiamma Zarife é a diretora geral do Airbnb na América do Sul e guia o crescimento da empresa na região. Em entrevista à DINHEIRO, a executiva comenta sobre o recente relatório de impacto econômico da plataforma no Brasil, realizado pela Oxford Economics, o comportamento do viajante brasileiro pós-pandemia, além da participação do Brasil nos resultados do segundo trimestre do Airbnb.

A plataforma causou uma verdadeira revolução na hospedagem e no turismo desde sua criação em 2008. A ideia simples de abrir sua casa para receber um hóspede evoluiu e profissionalizou anfitriões e hospedagens pelo mundo. Apenas no segundo trimestre de 2023, foram reservadas 115,1 milhões de noites e experiências pela plataforma, que teve faturamento de US$ 2,2 bilhões no período, crescimento de 18% na comparação com 2022.

Neste cenário, o Brasil é um país-chave de desenvolvimento. No segundo trimestre, houve crescimento de 110% no número de noites reservadas, na comparação com o pré-pandemia, em 2019. A estratégia para esses resultados, segundo Fiamma, é incentivar mais pessoas a se tornarem anfitriões e diversificar o tipo de hospedagem e localização, considerando o comportamento de viagem no País.

“Nosso negócio é todo baseado nas pessoas que abrem as suas casas, as suas acomodações para receber, e a gente vem tornando esse trabalho de ser anfitrião cada vez mais simples”, disse.

Quais foram os principais resultados do relatório de impacto que vocês divulgaram?
A gente viu 2022 como um ano de recuperação forte do turismo. O Airbnb participou dessa retomada e a gente queria dimensionar o impacto de toda essa influência dentro do mercado. O que a gente viu com os números são os gastos de US$ 5,2 bilhões no Brasil, sem contar os gastos com as acomodações, o que representa um aumento de 31% em relação ao mesmo período de 2021.

O que impulsionou o crescimento entre 2021 e 2022?
Esse crescimento de 31% foi muito impulsionado pelo turismo doméstico, que cresceu muito durante a pandemia, com as pessoas fazendo viagens mais curtas, o que acabou despertando a curiosidade para conhecer novos destinos locais. A gente vê também as viagens em família no Brasil como uma tendência muito cultural nossa. O brasileiro gosta de viajar em família e em grupos. Essas viagens em 2022, cresceram 130% na comparação com antes da pandemia, e globalmente esse crescimento foi de 60%, então vemos que realmente é algo forte aqui no Brasil. Outra coisa é o impacto na economia local. Esses gastos movimentam o comércio local, restaurantes, atividades culturais. Para cada US$ 10 gasto em acomodação, os hóspedes desembolsam US$ 51 adicionais em outros negócios.

Qual a importância do Brasil para o Airbnb no mundo?
O Brasil é um mercado extremamente relevante para o Airbnb. No primeiro trimestre a gente já tinha divulgado que o Brasil, junto com a Alemanha, é um dos países que mais crescem no Airbnb no mundo, e no segundo trimestre continuamos junto com a Alemanha. Tivemos um aumento de 110% nas noites reservadas, com base na origem dos hóspedes.

O que vocês têm feito para alcançar esses resultados no País?
A gente tem reforçado localmente as prioridades estratégicas do Airbnb. Primeiro a gente quer atrair mais anfitriões para nossa plataforma. O nosso negócio é todo baseado nas pessoas que abrem as suas casas, as suas acomodações para receber, e a gente vem tornando esse trabalho de ser anfitrião cada vez mais simples, cada vez mais fácil e vem acompanhando toda a jornada de hospitalidade.

Quais novidades a plataforma trouxe recentemente para seus usuários?
Em maio nós lançamos mais de 50 funcionalidades na plataforma. Metade foi para hóspedes e metade para os anfitriões. Uma delas foi o anúncio fácil, que é você ter uma mentoria de um anfitrião com um superhost, que é o nosso anfitrião mais qualificado dentro da plataforma, para ele te guiar em cada passo desse caminho. Desde abrir anúncio até como colocar as fotos, como colocar as regras da casa… Esse serviço vem ajudando novos anfitriões a fazerem o seu início na plataforma. A gente também voltou às origens do Airbnb. A gente re-empacotou o Airbnb Quartos, que foi o que deu origem a tudo lá atrás. É mais uma oportunidade, um pouco mais em conta, para que as pessoas viajem.

Como o Airbnb incentiva o turismo sustentável nas comunidades?
A gente notou que depois da pandemia centenas de cidades, justamente por causa dessa funcionalidade de você abrir uma acomodação em qualquer lugar, tiveram a sua primeira reserva através do Airbnb. E são cidades que normalmente não oferecem nenhum tipo de acomodação para hóspedes, então isso acaba ajudando muito o Brasil a redistribuir o turismo por lugares que não tem fluxo normal de turismo. A gente também tem feito muitas iniciativas em torno do turismo sustentável. Lançamos em 2022 o projeto Rotas, que a gente sugere viagens autênticas, sustentáveis para que as pessoas conheçam ecossistemas e destinos que elas não conheciam.

Quais foram as mudanças ocasionadas pela pandemia no comportamento dos turistas e no modelo de negócio?
Eu acho que é esse desejo de ter uma experiência mais autêntica, uma experiência mais local. É muito diferente quando você está dentro de um bairro, e você tem dentro da sua casa o manual que o anfitrião deixou com várias dicas de atividades culturais locais. Então esse turismo mais sustentável, a gente vê uma tendência muito forte. As pessoas depois da pandemia tiveram esse desejo de ficar mais em contato com a natureza, de ter um turismo mais sustentável, depois de tudo que a gente passou. O próprio lançamento do projeto de Rotas foi para atender essa necessidade. As pessoas mudaram o comportamento e por isso a gente vê o aquecimento do turismo local e também do turismo doméstico.

Qual é o espaço de crescimento do Airbnb no Brasil?
A gente tem um caminho ainda muito grande pela frente. O Brasil é o País que está respondendo mais rápido dentro dessa retomada do turismo. O nosso turismo doméstico foi muito resiliente depois da pandemia e ele segue forte.

Como o Airbnb tem se tornado uma opção de hospedagem para viagens mais longas?
Acho que a capilaridade de acomodações que a gente oferece, justamente por ser um negócio baseado em pessoas, em anfitriões espalhados por diferentes lugares do norte ao sul do país, dão essa versatilidade que pode acomodar qualquer bolso, qualquer viagem seja mais longa, ou seja mais curta. Se você quiser ficar num quarto pra você ter mais conexão com o seu anfitrião, se você quiser ficar num espaço inteiro, se você quiser ficar em um castelo. A gente tem acomodações muito versáteis para todo tipo de viagem. Estamos bastante animados com os resultados do último trimestre e também em ver o Brasil sendo um destaque dentro da empresa e dentro do mercado global.

Novos empreendimentos imobiliários possuem unidades pensadas para investimento em locação para hospedagem. Como esse mercado afeta o desenvolvimento do negócio do Airbnb?
A gente é uma oportunidade das pessoas gerarem uma renda extra. Seja através do investimento ou seja através da sua própria casa. A maioria dos anfitriões, 90%, são pessoas que colocam as suas próprias acomodações na plataforma. Então a gente vê como uma maneira de gerar essa renda extra, principalmente num cenário econômico bastante desafiador.