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Segurança pública: Axon vê enorme potencial no Brasil

País é uma das vias de crescimento global da companhia americana de câmeras e dispositivos de segurança. Receita de US$ 1,2 bilhão em 2022 deve saltar para US$ 2 bilhões até 2025

Crédito: Bruno Santos

A Polícia Militar de São Paulo é a terceira maior usuária do mundo de Tasers e câmeras corporais da Axon (Crédito: Bruno Santos)

Por Beto Silva

Duas situações na área de segurança pública têm sido debatidas no Brasil de maneira intensa nos últimos meses. Uma delas é a invasão às sedes do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, no dia 8 de janeiro deste ano, que ficou conhecida como o ataque mais concreto à democracia nas últimas três décadas. A outra é a atuação ostensiva dos órgãos de segurança no combate ao crime, que ganhou ainda mais destaque com a Operação Escudo, das Polícias Civil e Militar de São Paulo, iniciada após o soldado Patrick Bastos Reis ser morto por um tiro durante patrulhamento na Vila Zilda, no Guarujá, litoral paulista. A ação deixou 16 pessoas mortas, 147 presas e 434 quilos de drogas apreendidos.

No centro da investigação dos dois eventos está a análise de imagens dos prédios públicos invadidos na capital federal e das câmeras corporais dos integrantes das forças de segurança paulistas. Muitos desses equipamentos são da empresa americana Axon, líder global em tecnologia na área de segurança pública.

O Brasil tem sido uma esteira de crescimento para a empresa, que em 2022 registrou receita de US$ 1,2 bilhão e prevê faturar US$ 2 bilhões até 2025. “O potencial de crescimento no Brasil é enorme. Até agora, apenas arranhamos a superfície do setor público, e vemos um grande potencial de expansão para o setor privado, como construção, logística e outras áreas”, disse à DINHEIRO Arthur Bernardes, senior account manager da Axon no Brasil, principal executivo da companhia no País. “Esperamos ver um crescimento significativo no Brasil nos próximos anos.”

A Axon é conhecida mundialmente pela criação e disseminação da Taser, uma linha de armas de eletrochoque. No portfólio também há:
* câmeras corporais,
* câmeras de veículos,
* soluções de gerenciamento de evidências digitais hospedadas em nuvem,
* software de produtividade e operações em tempo real.

Segundo a empresa, esses componentes formam o sistema operacional de segurança pública do futuro. “Nosso objetivo ambicioso é reduzir em 50% as mortes relacionadas a armas de fogo entre policiais e o público antes de 2033”, disse Bernardes.

Segundo dados obtidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública junto ao sistema Letalidade Policial em Foco, mantido pelo Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep) do Ministério Público do Estado de São Paulo, houve redução de 62,7% nas mortes por intervenções de policiais militares em serviço entre 2019, período imediatamente anterior a implementação das câmeras, e 2022.

Além da segurança, outros setores têm casos de uso das soluções da Axon, como a Light, empresa de distribuição de eletricidade do Rio de Janeiro (Crédito:Divulgação)

Entre as novas tecnologias e serviços disponibilizados pela Axon estão:
* inclusão de realidade virtual e aumentada para treinamento,
* drones,
* transmissão e captura de vídeo ao vivo,
* software inteligente
* e inteligência artificial e aprendizado de máquina.

A Axon Body 3, por exemplo, um dos principais produtos da companhia, “não é apenas uma câmera, é um dispositivo robusto que permite comunicação constante em todas as chamadas”, disse Bernardes. Possui recursos em tempo real, como mapas de localização de agentes.

Já o Axon Evidence é um sistema de gerenciamento de evidências digitais que inclui software de edição automática, serviços de transcrição, marcação automática e trilhas de auditoria para comprovar a cadeia de custódia.

“A Axon protege vidas conectando dispositivos, aplicativos e pessoas em uma rede centralizada. Nossas tecnologias impactam todos os aspectos da rotina diária de um policial”, disse Bernardes.

Os equipamentos e sistemas são constantemente atualizados pois há uma vulnerabilidade quando se trata da segurança de evidências policiais. “Portanto, a prestação de serviços para atualizações contínuas das funcionalidades do sistema e segurança é essencial.”

Invasão ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro foi registrada por câmeras de segurança, muitas delas da Axon. Imagens fazem parte de processo de investigação (Crédito:Divulgação)

Clientes

No Brasil, a Axon tem como clientes públicos os estados do Espírito Santo e São Paulo (com milhares de Tasers, 10 mil apenas para a PM paulista), Mato Grosso e Goiás (com o Taser X2) e inicia operações no Ceará e no Rio Grande do Sul.

A polícia de São Paulo, inclusive, é a terceira maior usuária de câmeras corporais Axon (Motorola é a concorrente) e Tasers do mundo.

Já no setor privado, a companhia fornece para o Grupo GPS, um dos maiores players de segurança privada do País,e para a Light, empresa de distribuição de eletricidade do Rio de Janeiro.

“Esses projetos são promissores e têm potencial de expansão. O Grupo GPS começou com dez câmeras e agora está considerando expandir para 100, pois o modelo tem sido bem-sucedido”, disse o executivo, ao observar que a Axon também trabalha com organizações de construção e instalação de gás.

“Ao instalar dutos de gás e construir uma vala para o duto, pode haver impacto ou não nas casas vizinhas. Com o uso de câmeras corporais, temos documentação desses casos.”

Entrevista
Arthur Bernardes, senior account manager da Axon no Brasil

Arthur Bernardes: “Policiais não são treinados para atirar para matar” (Crédito:Divulgação)

Qual é o porte da operação da Axon no Brasil?
A Axon chegou ao Brasil há cinco anos e desde então expandiu sua atuação para sete estados, com foco em São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro, mas com planos de expansão para outras regiões. Globalmente, temos 2,5 mil funcionários e escritórios em 11 países.

Qual é a representatividade do País nos negócios globais da empresa?
A maior presença da Axon ainda está na América do Norte, mas a porção internacional agora representa um terço da receita da empresa. Entre os principais mercados da companhia estão comunidades de língua inglesa, como Canadá, Austrália e Inglaterra, e entre as economias emergentes, o Brasil é um dos principais players mundiais. Por exemplo, a Polícia Militar de São Paulo é a terceira maior usuária de câmeras corporais e Tasers do mundo, ocupando uma posição única globalmente.

Qual é o papel da Axon como parte da indústria de segurança pública?
A base de clientes globais em crescimento da Axon inclui socorristas de diversas áreas, como agências internacionais, federais, estaduais e locais de aplicação da lei, bombeiros, agentes penitenciários, serviços médicos de emergência, além do setor de justiça, empresas comerciais e consumidores. Cada produto da Axon, desde armas de energia conduzidas até câmeras corporais e sistemas de gerenciamento digital (Evidence, Justice, Community), integra-se perfeitamente uns aos outros, complementando os sistemas e processos já utilizados pelas forças policiais. Essa conexão não se limita aos produtos da empresa. Com os recursos incorporados nas soluções da Axon, as forças policiais podem se conectar a parceiros, desde autoridades municipais até agências vizinhas e promotores que trabalham em um caso.

Quais são os benefícios proporcionados para o setor?
Os policiais não são treinados para atirar para matar. Eles são treinados para deter uma ameaça. Eles usam as ferramentas que lhes são fornecidas e frequentemente têm menos de um segundo para tomar decisões de vida ou morte. Temos o potencial de contar com fontes de verdade mais objetivas do que nunca. Imagens capturadas por câmeras corporais, drones, smartphones e veículos. Tudo centralizado, editado e compartilhado com uma cadeia de custódia segura. A Axon protege vidas conectando dispositivos, aplicativos e pessoas em uma rede centralizada. Nossas tecnologias impactam todos os aspectos da rotina de um policial.