FMI, Lula, a extrema-direita… Alguém vai conseguir salvar a Argentina?
Sem perspectiva de solução rápida, a economia vizinha afunda em problemas cada vez mais graves. FMI aponta a incerteza política como razão para o aumento da fragilidade
Por Hugo Cilo
Os esforços políticos para reanimar a economia argentina nos últimos meses não têm surtido efeito. Ao contrário. A conjuntura macroeconômica do país vizinho só tem piorado. É o que aponta relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado na sexta-feira (25). A análise da instituição é que, no campo da atividade produtiva, a seca histórica vai retardar qualquer chance de reação do país, o que deve resultar também em queda das receitas fiscais do governo. No campo político, a fonte de incertezas se explica pela ascensão do partido libertário Libertad Avanza, do candidato Javier Milei, que recebeu o maior número de votos nas eleições primárias argentinas, à frente da coalizão de oposição e, na sequência, pelos governistas. “Inflação e pressões externas se intensificaram, com as reservas caindo a níveis perigosamente baixos por causa da seca e ajuste de política insuficiente”, afirmou o FMI. “Derrapagens políticas refletiram, em parte, limitações políticas e considerações eleitorais.”
Prova da angústia dos argentinos em busca de uma ajuda externa é a quantidade de vezes que o presidente Alberto Fernández se encontrou com o Luiz Inácio Lula da Silva. Só neste ano, foram cinco reuniões oficiais, além de outras três no final de 2022, desde a vitória do petista. Com isso, Lula esteve com Fernández mais vezes do que fez com 20 de seus ministros e tem se mostrado um dos principais aliados do líder argentino. Lula tem feito apelos públicos por ajuda, inclusive na recente reunião do Brics na África do Sul, em que o bloco oficializou o convite para ingresso da Argentina.
Conjuntura
A saída para o sufoco, no entanto, parece longe do alcance de Lula ou mesmo dos atores atuais da política argentina. Estrangulada por uma inflação de 120% em 12 meses, a alta de preços é a pior desde os anos 1990.
O PIB não deve crescer acima de 2,5% neste ano. Sem reservas internacionais e apenas no terceiro lugar nas intenções de voto, os peronistas representados pelo economista Sergio Massa tentam fortalecer sua relação com o Brasil — segundo principal parceiro comercial, depois da China — e estancar a sangria do peso, com uso de dólares e reais.
Com a dívida bilionária no FMI, a Argentina se encontra atualmente com suas reservas líquidas negativas em cerca de US$ 7 bilhões (R$ 34 bilhões). Com isso, o país não tem como pagar por suas importações, e parte delas são cruciais para viabilizar as exportações agropecuárias argentinas, já que o país depende em muitos casos de insumos importados.
O resultado desse problema é a escassez de recursos para investimentos ou mesmo custeio da folha de pagamentos do funcionalismo.
Para o economista da Universidade Católica Argentina (UCA) Juan Carlos Rosiello, o iminente colapso da economia vai determinar o resultado das eleições, com o provável fracasso da ala governista. “A recessão e a eleição, juntas, criam o ambiente perfeito para troca de governo, embora as propostas dos que têm liderado não tragam nenhum alento”, disse. “O cenário de rompimento com a China e o aumento do protecionismo, num ambiente de econômica fraca, tendem a agravar a situação.”