Finanças

Juro sobe, e não tem nada a ver com a Selic

Taxa do rotativo atinge o maior nível desde 2017 e bate 445,7% ao ano

Crédito: Istockphoto

Cartão de crédito: não pagou, vai para o parcelamento (Crédito: Istockphoto)

Por Paula Cristina

Enquanto o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem encampado uma cruzada aberta contra as altas taxas de juros cobradas pelos bancos em sua modalidade rotativa do cartão de crédito, um dado do próprio BC colocou luz a essa problemática. Entre junho e julho deste ano o juro médio total cobrado subiu 8,7 pontos porcentuais, passando de 437,0% para 445,7% ao ano, o maior percentual em seis anos. Com a Selic embicando para baixo pela primeira vez nos últimos três anos, e a economia dando sinais de reação, o momento se tornou propício para que o governo federal e o Banco Central jogassem para as instituições financeiras as respostas sobre as taxas de juros.

Apesar de servir como referência para todas as outras taxas praticadas — tanto no crédito quanto nos investimentos — a Selic é só um dos componentes para determinar o valor delas. No caso dos cartões de crédito e cheques especiais, as taxas são livres e estipuladas pelas próprias instituições financeiras, não existindo assim qualquer controle para o valor cobrado.

A única obrigatoriedade é a de informar aos clientes quais são os juros aplicados caso ele decida recorrer a qualquer tipo de crédito. Segundo o BC, no entanto, os bancos e as principais operadores dos cartões não são obrigados a explicar detalhadamente os critérios da taxa.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que apesar de essencial para o avanço da economia, o parcelamento no cartão tem onerado mais do que devia o consumidor, retraindo o consumo.

Campos Neto, por sua vez, disse que o BC estuda uma solução para isso. Trata-se de uma medida para diminuir a taxa de inadimplência do cartão de crédito, que hoje gira em torno de 52%. A ideia então seria encaminhar os devedores diretamente para o parcelamento da dívida, que teria taxas de juros em torno de 9% ao mês.

A solução deverá ser apresentada pelos técnicos do BC nos próximos 90 dias. “Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento”, disse. “E aí cria-se algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento tão logo. Não é proibir, até porque o cartão de crédito é 40% do consumo do Brasil.”

Entre as empresas, o crédito também está crescendo menos. Segundo o BC, houve alta de 2,7% na comparação com o mesmo período em 2022. Um ano antes, a variação havia atingido 3,5%.

Já para as famílias, o avanço interanual foi de 12,1%. Segundo a autoridade monetária, o resultado se deu pela “diminuição de 1,1% no saldo das operações de crédito com pessoas jurídicas, que atingiu R$ 2,1 trilhões, em contraposição ao crescimento de 0,4% no das realizadas com pessoas físicas, R$ 3,3 trilhões”.

Quanto às operações de crédito com recursos livres, a taxa média de juros alcançou 44,3% ao ano em julho — queda de 0,3 ponto percentual no mês e expansão de 3,9 pontos em 12 meses. Para pessoas jurídicas, a taxa média foi a 23,3% (alta de 0,3 ponto no mês), enquanto para pessoas físicas, atingiu 58,5% — redução de 0,6 ponto na comparação com junho.