Internacional

Entenda como o Brasil deve agir no comando do G20

Inédita presidência brasileira no grupo das maiores economias do mundo é oportunidade para recuperar a relevância em temas como combate à pobreza e meio ambiente

Crédito: Ricardo Stuckert / PR

Lula durante a abertura da Cúpula do G20 – Sessão I: “Uma Terra”, no Bharat Mandapam, em Nova Delhi na Índia. (Crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Por Jaqueline Mendes

O cargo é simbólico, mas terá um significado especial para o Brasil. De 1º dezembro deste ano até 30 de novembro de 2024, o País estará na presidência temporária do G20, grupo que reúne 19 das maiores economias do mundo, a União Europeia e, desde a semana passada, a União Africana. No domingo (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o martelo de madeira que representa o comando rotativo do grupo, durante o encerramento da 18ª Cúpula de Chefes de Governo em Nova Delhi, na Índia, país que atualmente preside o grupo. No primeiro discurso, o presidente Lula destacou que as três prioridades da Presidência brasileira, serão:
* combate à fome, pobreza e desigualdade,
* a transição energética e o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões (econômica, social e ambiental),
* reforma do sistema de governança internacional.

“Se quisermos fazer a diferença, temos que colocar a redução das desigualdades no centro da agenda internacional”, afirmou o presidente. Todas essas prioridades, segundo ele, estão contidas no lema de sua gestão no comentado do Brasil: “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável.”

Lula também garantiu que o Brasil irá criar duas forças-tarefa para expandir as iniciativas contra a desigualdade ao longo da presidência do G20: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima.

“Precisamos redobrar os esforços para alcançar a meta de acabar com a fome no mundo até 2030, caso contrário estaremos diante do maior fracasso multilateral dos últimos anos.”
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

“Agir para combater a mudança do clima exige vontade política e determinação dos governantes, e também recursos.” Durante a gestão de Lula, o G20 vai organizar mais de 100 reuniões oficiais, incluindo 20 reuniões ministeriais, 50 reuniões de alto nível e eventos paralelos. A passagem de bastão será na 19ª Cúpula de chefes de Estado e governo do G20, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro, a primeira vez no Brasil.

Para assegurar que o G20 atue de forma inclusiva e coerente, Lula afirma que o Brasil organizará os trabalhos em torno de três orientações gerais. Primeiro, fazer com que as trilhas política e de finanças se coordenem e trabalhem de forma mais integrada. Segundo, ouvir a sociedade. Terceiro, não deixar que questões geopolíticas sequestrem a agenda de discussões das várias instâncias do G20.


Primeira dama quer ter papel de destaque na comunicação e se diz uma voz para mulheres na luta pela igualdade (Crédito:Ricardo Stuckert / PR)

Criado em 1999, o G20 nasceu com a proposta de coordenar as ações integradas dos países-membros. O grupo surgiu depois de uma sequência de crises econômicas internacionais: a crise do México (1994), a crise dos tigres asiáticos (1997) e a crise da Rússia (1998). Em 2008, no auge da crise causada pela quebra do banco Lehmann Brothers, os países fizeram a primeira cúpula de chefes de Estado e governo do G20, em Washington (EUA).

Nos dois anos seguintes, as cúpulas foram realizadas semestralmente: em Londres (Reino Unido) e Pittsburgh (EUA) em 2009, e em Toronto (Canadá) e Seul (Coreia do Sul) em 2010.

A partir da cúpula de Paris (França) de 2011, a cúpula passou a ser realizada anualmente, em cidade designada pelo país que ocupa a presidência. Na avaliação de Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest e ex-secretário de Comércio Exterior, o Brasil terá a chance de propor a agenda para os países mais ricos do mundo, resgatando o protagonismo nas áreas ambientais e sociais. “Como os principais temas serão meio ambiente e desigualdade, o País tem a chance de liderar a agenda estando na presidência do grupo”, disse.

Lula tem investido alto na imagem do Brasil no exterior, e o comando do g20 trará ainda mais visibilidade

A visão positiva é compartilhada também por Marcos Freitas, especialista em gestão empresarial e CEO do grupo Seja Alta Performance. Para ele, o Brasil à frente do G20 traz a visão de País que deseja aumentar sua política e notoriedade internacional.

“O governo petista valoriza e investe muito na imagem do Brasil no exterior, visto que foram gastos quase R$ 30 milhões em viagens nos primeiros oito meses de mandato”, disse. “Isso traz investimentos e melhora a nossa visão do mundo. O que precisamos ficar atentos é o quanto essa política de investirmos em políticas internacionais pode tirar o foco dos problemas severos que temos de educação, tecnologia e credibilidade nos três poderes.”


Lula garante que planos de sua gestão envolvem melhorar as condições humanas e trabalhar pela redução da desigualdade social no mundo (Crédito:Luis Acosta)

Bordões

O fato de o Brasil assumir a presidência do G-20 vai ao encontro da estratégia do atual governo Lula de reposicionar o país como um player multipolar do sistema internacional, caracterizado por um diálogo constante com o maior número de países possíveis, segundo Guilherme Meireles, professor de Relações Internacionais da ESAMC.

Isso foi, inclusive, uma promessa de campanha quando Lula acusava Bolsonaro de ter feito um alinhamento automático com as posições dos EUA em detrimento de uma maior autonomia.

“Dá ainda ao Brasil a possibilidade de levantar bandeiras históricas do atual presidente, como combate à fome no Brasil e que agora deve ser discutido em âmbito global e uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, que encontra resistência dos cinco países que ocupam essas cadeiras [EUA, China, Rússia, França e Reino Unido]”, disse. Uma oportunidade de ouro para um presidente que quer levar sua marca para além das fronteiras.