ESG

O Brasil terá mais um combustível verde

Maior companhia de biodiesel do país lança produto que pretende reduzir em 50% emissão de monóxido de carbono e ajudar nas metas de descarbonização. Com investimento de R$ 80 milhões, Be8 planeja produzir 150 milhões de litros do BeVant, que estará disponível em até 12 meses

Crédito: Diogo Zanatta

Presidente da empresa, Erasmo Carlos Batistella diz que o BeVant poderá ser usado 100% nos tanques de veículos a diesel (Crédito: Diogo Zanatta )

Por Sérgio Vieira

No momento em que o Brasil começa a ganhar protagonismo internacional nas políticas de ações sustentáveis, o País passa a ter mais uma opção de combustível verde, justamente para contribuir no processo ambiental das empresas. Maior produtora brasileira de biodiesel, a Be8 (antiga BSBIOS) lançou na segunda-feira (2) o biocombustível Be8 BeVant, que, segundo a companhia, pode ser usado na mistura ou até ser usado 100% nos tanques de veículos a diesel.

O grande diferencial do novo combustível, que utiliza a mesma matéria-prima do biodiesel convencional (como óleo de soja e gordura animal) e depois passa por vários processos, como a bidestilação, é que ele vai acelerar o ritmo de descarbonização de grandes companhias, principalmente as que atuam com o setor de transportes.

“Muitas empresas já tornaram públicas suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. E é para esse mercado que pensamos o produto, como uma oportunidade rápida de descarbonização”, disse à DINHEIRO Erasmo Carlos Batistella, presidente da Be8. “É uma solução competitiva e sustentável.”

O produto reduz até 50% as emissões de monóxido de carbono (CO), até 85% a emissão de materiais particulares e até 90% de fumaça preta. Segundo o executivo, o BeVant será usado para atender demandas dos setores:
• de logística,
• construção civil,
• agronegócio,
• e de cargas.

“Também poderia servir imediatamente para a frota de transporte público de São Paulo, por exemplo”, afirmou Batistella. Agora, a empresa entrará com pedidos de testes junto à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para que possa ser utilizado em uma grande quantidade de caminhões.

A companhia investirá R$ 80 milhões, direcionados à pesquisa, desenvolvimento e ampliação de uma linha de produção na fábrica de Passo Fundo (RS) para a produção do BeVant.

A capacidade inicial será de 150 milhões de litro ao ano e a expectativa é de que o produto esteja disponível em até 12 meses. “Podemos aumentar bastante essa produção, de acordo com a necessidade do mercado. Vamos testar e dimensionar qual será a demanda.”

Julio Cesar Minelli, diretor da Aprobio (Crédito:Breno Esaki)

“O setor sempre tem buscado o aperfeiçoamento e a Be8, com o BeVant, está dando um passo à frente nessa busca da especificação mais avançada de um biocombustível.”
Julio Cesar Minelli, diretor da Aprobio

Com desenvolvimento feito integralmente por técnicos da companhia gaúcha, a empresa buscou ações desenvolvidas na Europa, com sua fábrica na Suíça, e nos Estados Unidos na fase de estudos do projeto. “Fomos acumulando conhecimento de operar na Europa, além do nosso trabalho de 18 anos de produção de biodiesel no Brasil”, disse o CEO da Be8.

Com avanços em qualidade e desempenho, o produto da Be8 custará 10% acima do que o biodiesel tradicional, mas 60% mais barato do que o biodiesel verde (HVO), que ainda não tem regulamentação para produção no Brasil, ao contrário do que acontece em muitos países.

E a chegada do BeVant acontece justamente em meio ao debate sobre o tema, pleito antigo da categoria, e poucas semanas após o governo federal lançar o programa Combustível do Futuro, que teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e de Batistella.

A proposta, que passará pela Câmara, apresenta um plano para a promoção da mobilidade sustentável de baixo carbono, como o próprio biodiesel verde e o combustível sustentável de aviação (SAF).

O segmento enxerga com otimismo a entrada de mais um combustível sustentável, antes mesmo da aprovação do projeto proposto pelo Executivo.

Julio Cesar Minelli, diretor superintendente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), afirma que o setor sempre tem buscado esse aperfeiçoamento. “A Be8 está realmente dando um passo à frente nessa busca da especificação mais avançada de um biocombustível.”

Para Minelli, a expectativa é de que, nos próximos seis meses, o País já tenha o projeto do Combustível do Futuro aprovado, com as regras para produção do HVO e a consequente liberação para grandes investimentos em biorrefinarias.

“Como esse texto também é uma demanda da própria sociedade, é muito provável que seja aprovado nesse prazo. Caso contrário, poderemos estar perdendo o bonde da história em relação aos combustíveis avançados”, afirmou o dirigente da Aprobio. “Nesse sentido, o Be8 BeVant pode ocupar o espaço neste momento.”

Financiamento Verde

Erasmo Batistella não quis fazer projeção do quanto o novo combustível deve representar futuramente na receita da companhia, mas entende que ele terá uma participação importante. “Vai representar um grande volume”, disse.

A Be8, que em 2022 faturou R$ 9,6 bilhões, obteve, no mês passado, financiamento de R$ 90 milhões junto ao Santander vinculado a compromissos ESG.

É a terceira operação financeira desse tipo da companhia, que solicitou R$ 100 milhões nas duas rodadas anteriores. Os recursos estão sendo investidos no aperfeiçoamento das operações da empresa. Como incentivo, a instituição financeira oferece redução na taxa de juros da operação.

A contrapartida estabelecida com o Santander para esta nova operação foi a utilização de pelo menos 20 mil toneladas de volume de óleo de cozinha (UCO, na sigla em inglês) usado para a produção do biodiesel em 2023, o que representa um aumento de 48% em relação ao volume do ano passado.

“É uma grande alternativa, porque reduz as emissões de gases de efeito estufa, além de impedir a destinação inadequada ao meio ambiente”, disse Batistella.

No Brasil, o volume de UCO para produção de biodiesel cresceu 30%, comparado com o de 2021. No ano passado, foram 148 milhões de litros, contra 114 milhões de dois anos atrás, segundo dados do Painel Dinâmico da ANP.

Para conseguir atingir a meta estabelecida, a Be8 fez convênios com cooperativas de recicladores de Passo Fundo, o que, além de promover a economia circular, contribui na geração de renda extra a esses catadores.

A intenção é de ampliar as ações com outras instituições que fazem esse tipo de trabalho. No início do ano, a Be8 firmou parceria com a rede com o grupo Madero de restaurantes para o recolhimento do óleo de cozinha usado nas cozinhas das 270 unidades da rede.

A estimativa é de recolhimento de 55 mil litros de UCO por mês, que entrega na unidade da Be8 em Marinalva (PR). O plano de descarbonização da própria companhia prevê medidas de redução de emissões para ser carbono neutro até 2030.

“Para avançar nisso, vamos fazer no ano que vem usinas de biogás para nossas lagoas de tratamento de efluentes e utilizar em nossas caldeiras”, disse o presidente da Be8.

Com o novo combustível e com as ações de redução de emissão de gases, a rota sustentável da companhia está traçada.

O novo combustível verde da Be8 será fabricado na unidade da companhia em Passo Fundo (RS), como uma extensão de uma linha de produção existente do biodiesel (Crédito:Divulgação)