Carros: chinesa BYD quer criar um ‘Vale do Silício’ dos elétricos na Bahia
Por Hugo Cilo, de Camaçari (BA)
RESUMO
• BYD inaugura no Brasil primeira unidade de produção de carros elétricos da companhia nas Américas
• Empresa anunciou R$ 3 bilhões em investimentos no País e geração de 5 mil empregos.
• Serão produzidos carros, caminhões e ônibus no complexo baiano que era da Ford
• Marca chinesa está próximo de ultrapassar a Tesla em vendas globais de elétricos
• BYD tem DNA inovador: até julho, havia registrado mais de 40 mil patentes em escala global
O som dos batuques e do berimbau ecoavam de longe na fábrica da chinesa BYD em Camaçari, na Bahia, na segunda-feira (9). O evento de inauguração da primeira unidade de produção de carros elétricos da companhia nas Américas tinha capoeira, baianas do acarajé e roda de samba. Onde desde abril de 2021 reinava o silêncio, um antigo complexo de fábricas da Ford, que deixou de produzir no País por razões de rentabilidade, voltou a ter vida. E a ter carro.
A empolgação era evidente. Chineses arriscavam um gingado. Se saíam até melhor que algumas autoridades políticas brasileiras que compunham o cerimonial. Mas a maior festa da BYD no Brasil ainda está por vir. Líder mundial na fabricação de baterias e veículos de energia limpa no mundo, com mais 5 milhões de veículos produzidos, a empresa anunciou R$ 3 bilhões em investimentos no País e geração de 5 mil empregos.
Em um primeiro momento, o plano é montar três modelos localmente: o Dolphin EV, o SUV Yuan Plus (ambos 100% elétricos) e o híbrido Song Plus, que será o último a entrar na linha de montagem desta fase inicial. A capacidade total será de 150 mil unidades por ano e a previsão do início da operação é no segundo semestre de 2024.
Além de carros, modelos de caminhões e de ônibus serão produzidos no complexo baiano. Uma terceira linha de montagem será utilizada para processamento de lítio e ferro fosfato para exportação, usando a infraestrutura portuária da Bahia.
A fábrica é parte de um conjunto de ações do governo federal para atrair investimentos e gerar empregos, segundo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Ao representar o presidente Lula, que se recuperava de cirurgia, ele afirmou que a BYD é a primeira de muitas plantas que virão ao País para promover a “neoindustrialização” nacional. “A BYD chega à Bahia e ao Brasil com o menor desemprego da última década. Estamos investindo em desenvolvimento inclusivo, com estabilidade e sustentabilidade. A reforma fiscal já está aprovada e a reforma tributária, em boas mãos”, afirmou Alckmin.
A BYD havia demonstrado interesse em incorporar as unidades da Ford no País já em 2021, absorvendo parte da mão de obra da própria montadora americana. Mas os obstáculos diplomáticos gerados pelo então governo Bolsonaro, especialmente na pandemia, fizeram a companhia enterrar o projeto.
Segundo Alexandre Baldy, conselheiro e porta-voz da BYD, a inauguração da planta representa uma virada de página nas diferenças. “Ao reunirmos Brasil e China neste prédio simbólico da indústria automotiva nacional, celebramos não somente as nossas diferenças culturais, mas nossas paixões e sonhos em comum”, disse.
Junto com a fábrica, em Camaçari também haverá um centro de pesquisa e desenvolvimento voltado a estudos de eficiência energética e descarbonização.
O primeiro projeto já anunciado pela BYD para este laboratório é a criação de um sistema híbrido flex com foco no etanol. “O etanol é uma solução verde brasileira e não pode estar fora das pesquisas como um aliado da mobilidade de baixo carbono”, disse Stella Li, CEO da BYD para as Américas, ao lado do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
“O etanol é uma solução verde brasileira e não pode estar fora das pesquisas como um aliado da mobilidade.”
Stella Li, CEO da BYD Américas
Prova da euforia da BYD com a fábrica brasileira é a comparação feita pelo fundador e CEO global da empresa, Wang Chuanfu. Ele afirmou, durante o evento, que tem como desejo transformar a cidade da região metropolitana de Salvador em um Vale do Silício do carro elétrico.
“Vamos instalar centro de pesquisa nessa cidade, desenvolver novas soluções para a transição verde e novos jeitos de movermos veículos. O Brasil se tornará uma referência mundial no setor”, disse Chuanfu.
Expansão
Em todo o mundo, o ritmo de crescimento da BYD impressiona. A marca levou:
• 13 anos para alcançar o primeiro milhão de veículos eletrificados,
• mais 18 meses para chegar a 3 milhões,
• e, surpreendentemente, apenas mais 9 meses para atingir a marca de 5 milhões, em agosto deste ano.
Em 2022, os veículos de energia limpa da BYD tiveram um crescimento expressivo. Foram vendidos ao longo do ano mais de 1,86 milhão de unidades. As vendas seguiram em alta em 2023 e a BYD alcançou a marca de 1,5 milhão de unidades produzidas de janeiro a julho. Deste total, 92.469 carros foram comercializados fora da China, um recorde.
A fabricante chinesa está muito perto de ultrapassar a americana Tesla, de Elon Musk, em vendas globais de veículos elétricos. No último trimestre, a marca automotiva mais vendida na China quase alcançou a de Musk, que registrou sua primeira queda nas entregas em mais de um ano.
A BYD conquistou a marca de 431.603 veículos totalmente elétricos vendidos nos três meses encerrados em 30 de setembro. O número representa um aumento de 23% em relação ao trimestre anterior.
Já a Tesla comercializou 435.059 unidades.
A diferença de apenas 3.456 unidades entre as duas fabricantes marca o ponto mais próximo registrado até o momento.
Desde 2010, a BYD vem expandindo ativamente sua presença global, introduzindo estrategicamente ônibus e táxis de energia limpa para eletrificação do transporte público.
As soluções de transporte público elétrico da BYD estão agora em operação em mais de 400 cidades em mais de 70 países. Enquanto isso, os veículos elétricos e híbridos da BYD já rodam em mais de 54 países. O BYD Yuan Plus, um dos maiores sucessos da marca, lidera há vários meses as vendas de veículos de energia limpa na Tailândia, Israel e Cingapura.
Desde sua fundação em 1995, a BYD está na vanguarda dos avanços tecnológicos no setor. Inovações como a Bateria Blade, o Sistema Super Híbrido DM-i, a e-Platform 3.0, a Tecnologia CTB, a e4 Platform e o Sistema de Controle de Carroceria Inteligente DiSus estabeleceram novos padrões na indústria e solidificaram a posição da BYD como pioneira no mercado de veículos elétricos.
Em 2022, a BYD investiu o equivalente a mais de R$ 13,6 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, um aumento de 90,31% em relação ao ano anterior.
Até julho de 2023, impulsionada por uma equipe de mais de 90 mil profissionais de pesquisa e desenvolvimento, a BYD demonstrou sua capacidade de inovação ao registrar mais de 40 mil patentes em escala global, com mais de 28 mil dessas patentes já aprovadas.