Máquinas para construção: Mills eleva investimentos e amplia área de atuação
Após sobreviver à crise no setor da construção durante a Lava Jato, empresa de locação de maquinário vê receita atingir R$ 1,2 bilhão com diversificação de portfólio
Por Angelo Verotti
É possível persistir e prosperar quando o desejo de crescer é maior do que o medo de se reinventar. A frase do CEO Sergio Kariya no relatório financeiro da Mills é um retrato fiel do posicionamento adotado nos últimos anos pela líder no segmento de locação de plataformas elevatórias na América Latina com o objetivo de recolocar os negócios nas alturas. Isso porque até 2014 o setor da construção era responsável por 90% do faturamento da empresa, mas os negócios acabaram impactados pelo envolvimento dos então principais clientes, como Odebrecht (agora Novonor), OAS (Metha) e Queiroz Galvão (Álya), na operação Lava Jato. Diante de tal situação, a saída escolhida foi diversificar o portfólio, estratégia que tem dado resultado.
A receita bruta total dobrou e saiu de R$ 576,1 milhões em 2015 (27,5% inferior ao período anterior) para R$ 1,2 bilhão em 2022 (aumento de 49,9% na comparação a 2021). “A expectativa para este ano é de um crescimento de no mínimo 20%, beirando os 30%”, afirmou Kariya.
A ampliação da área de atuação garantiu a presença em setores como indústria, serviços, comércio, transporte e bens de consumo. Há pouco mais de um ano, a empresa anunciou também a entrada em linha amarela, composta por máquinas pesadas, como retroescavadeiras e tratores.
“Hoje estamos entre as 15 maiores locadoras de linha amarela do Brasil e a perspectiva é que a gente continue crescendo nos próximos anos”, disse.
O segmento é bastante disperso no País, sem uma empresa dominante. “O maior player tem apenas 3% dos R$ 40 bilhões movimentados em 2022. Existe uma via enorme de crescimento.”
“Hoje estamos entre as 15 maiores locadoras de linha amarela e a perspectiva é que a gente continue a crescer .”
Sergio Kariya, CEO da MILLS
A investida em linha amarela ficou marcada pela aquisição no ano passado da Triengel Locadora, com forte presença em agronegócio. O investimento à epoca chegou a R$ 360 milhões e incluiu a compra de maquinários (R$ 225 milhões).
“Desde a aquisição, a gente praticamente triplicou o resultado da Triengel dentro da companhia.” Além disso, a Mills tem ampliado a perspectiva, apostando muito no cross selling entre as unidades. “E estamos com um outlook bastante positivo para frente”, disse o CEO.
Kariya tem percebido uma conversão contínua no comportamento do consumidor do segmento, com a substituição da cultura de compra pela de aluguel de equipamentos. “Acho que tem um fator que de certa forma corrobora que é o custo do dinheiro, bastante elevado hoje no Brasil.”
Na visão dele, isso faz com que empresas ampliem o olhar sobre oportunidades de terceirizar. “Em vez de contrair capex, você passa a alugar os ativos”, afirmou.
Existe no País aproximadamente 250 mil máquinas de linha amarela para todos os mercados. Cerca de 75% estão na mão do usuário final, e os 25% restantes seguem disponíveis para locação.
Já na operação de plataformas elevatórias, segmento que faz parte da linha de leves, a principal meta é a conversão do usuário que utiliza escadas, andaimes ou outras formas proibidas de trabalho em altura. O mercado movimentou R$ 3 bilhões no ano passado e, de acordo com o executivo, 30% ficou com a empresa. E há espaço para crescimento.
Frota
Equipamentos não faltarão para os novos clientes e para os 9 mil que já fazem parte da carteira. A Mills tem 11 mil ativos na frota. No segmento de leves existe um pouco mais de giro das máquinas. “De tudo o que eu tenho hoje de leves, 65% estão na mão do cliente. Quando você olha o de pesados, estamos com quase 90% alugados”, disse Kariya. A justificativa? “Porque nestes os contratos são mais de longo prazo, tenho menos giro, então preciso menos de equipamentos à disposição.”
O investimento em maquinário neste ano deve ficar em torno de R$ 600 milhões, com a expectativa de alcançar R$ 700 milhões em 2024.
Além do investimento na frota, o crescimento da Mills inclui a abertura de filiais. A companhia deve fechar 2023 com ao menos 57 unidades atendendo 1,4 mil cidades pelo País. Já os desafios estão relacionados à mão de obra pelo interior do Brasil, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. Uma busca pela qualidade que a empresa pretende levar ao mais alto nível.