Gerdau aposta em cultura da felicidade para crescer
Maior produtora de aço do País, Gerdau fatura R$ 82,4 bilhões em 2022, recorde de sua história de 122 anos. Investimentos de R$ 4,3 bilhões em inovação e expansão demonstram a capacidade de transformação
Mineração, siderurgia e metalurgia | Gerdau
Por Beto Silva
São enormes os desafios do setor do aço no Brasil. O crescimento do mercado chinês, considerado por importantes atores do segmento como desleal, é um dos principais. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, há excesso de capacidade de 567 milhões de toneladas no mundo, boa parte concentrada na China. O país asiático fez bem a lição de casa nas últimas quatro décadas, desenvolveu sua indústria siderúrgica e aumentou absurdamente os níveis de produção de aço.
Em 1980, o consumo per capita de aço na China era de 32 quilos por habitante. Em 2020 passou para 691 quilos. No mesmo período de quatro décadas, o Brasil ficou estagnado como uma média de 100 quilos por habitante. Resultado: no ano 2000, a China representava 1,4% das importações brasileiras de produtos siderúrgicos. Hoje, é de 54,2%, ou 1,7 milhão de toneladas.
Com isso, o setor está em fortes tratativas com o governo brasileiro para implementar medidas emergenciais de defesa comercial, com o objetivo de alterar o cenário no comércio internacional. Essa é a parte ruim da história.
A boa está no fato de a indústria siderúrgica ter investido R$ 170 bilhões nos últimos 14 anos, segundo dados revelados recentemente no Congresso Aço Brasil. E projeta investir mais de R$ 63 bilhões nos próximos quatro anos, mesmo com um cenário turbulento e a forte concorrência.
Isso demonstra uma certa confiança do setor no Brasil. Nessa esteira está a Gerdau, maior produtora de aço do País, que investiu R$ 4,3 bilhões em 2022, sendo R$ 2,6 bilhões em manutenção, R$ 1,7 bilhão em projetos de expansão e atualizações tecnológicas — dentro desse investimento também estão R$ 640 milhões para expandir ativos florestais.
O fôlego financeiro veio do faturamento recorde de R$ 82,4 bilhões, que lhe proporcionou alcançar seu melhor momento em 122 anos de história. “A Gerdau demonstrou sua capacidade de se transformar e continuar compartilhando valor com seus clientes e demais stakeholders, oferecendo ao mercado produtos e serviços ainda mais inovadores e sustentáveis”, disse Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, vencedora da categoria Mineração, Siderurgia e Metalurgia deste anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2023. “O ano passado foi extraordinário.”
“Queremos nos conectar mais com os diferentes públicos e ampliar o diálogo com a sociedade, transformando nossa marca de 122 anos em uma brand love da indústria.”
Gustavo Werneck,Presidente da Gerdau
A receita foi 5% superior à de 2021, com o segundo melhor Ebitda ajustado anual, que atingiu R$ 21,5 bilhões. O lucro líquido ajustado foi de R$ 11,6 bilhões. Foram distribuídos R$ 6,1 bilhões para os acionistas da Gerdau S/A (R$ 3,63 por ação) e R$ 1,3 bilhão para os acionistas da Metalúrgica Gerdau S/A (R$ 1,25 por ação).
Mas a companhia não comemorou apenas as vultuosas cifras que deram entrada em seu caixa. A cultura da felicidade avançou na empresa e fez Werneck aprofundar seus conhecimentos na transformação de pessoas em uma imersão ao Butão, em junho deste ano.
O pequeno reino budista é conhecido pelo Gross National Happiness, o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), criado pelo rei Jigme Singye Wangchuk. Trata-se de um conjunto de indicadores que mede a satisfação pessoal e espiritual de pessoas e comunidades. O principal executivo da Gerdau visa aperfeiçoar a relação com clientes, fornecedores e principalmente funcionários.
É uma jornada em que a empresa tem colocado muita energia. Em 2022, a taxa de frequência de acidentes foi de 0,76, a menor já registrada na série histórica. “Esse desempenho reforça o nosso compromisso com a saúde e segurança das nossas pessoas. Na Gerdau, a segurança vem sempre em primeiro lugar, uma vez que nenhum resultado é mais importante que a vida das pessoas”, disse o presidente, ao destacar o desenvolvimento da transformação digital da siderúrgica, que tem investido em iniciativas de inteligência artificial e indústria 4.0 “para aprimorar o monitoramento de tarefas críticas e prevenir acidentes”.
A companhia também comemorou ano passado o fato de o G.Future, programa de trainee da Gerdau, registrar o maior número de inscritos de sua história, com mais de 40 mil candidatos e candidatas. Criado em 2018, o projeto tem o objetivo de formar lideranças e reforçar o compromisso da companhia em empoderar pessoas que constroem o futuro.
Redução de Emissões
Dentro do plano de R$ 4,3 bilhões de investimentos, a Gerdau aportou R$ 640 milhões em 2022 na atualização e aprimoramento de controles ambientais e incrementos tecnológicos que resultaram em eficiência energética e na redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A companhia assumiu o compromisso de reduzir suas emissões dos Escopos 1 e 2 de seu inventário para um valor inferior a 50% da média global da indústria do aço. Para isso, vai:
• ampliar o uso de sucata ferrosa como matéria-prima para a produção de aço,
• expandir sua área florestal responsável pela produção do carvão vegetal, que funciona como biorredutor na fabricação do ferro-gusa,
• crescer no uso de energia renovável, como os parques solares no Brasil e nos Estados Unidos.
“A empresa também investirá em iniciativas de maior eficiência energética e operacional de suas unidades, em novas tecnologias e inovação aberta”, afirmou Werneck, que ressalta a ambição de buscar a neutralidade de carbono em 2050.
Movimentos que fizeram a Gerdau também inovar como marca, segundo o executivo. “A companhia quer se conectar ainda mais com os diferentes públicos e ampliar o diálogo com a sociedade em geral, transformando nossa marca de 122 anos em uma brand love da indústria brasileira e contribuindo para descomoditizar o setor do aço.”
E o que vem pela frente? A estratégia de crescimento da empresa está pautada por uma forte disciplina na gestão de custos e melhoria contínua da competitividade de seus ativos, segundo Werneck.
“Com diversificação geográfica nas Américas e flexibilidade de rotas de produção.”
Mais: a siderúrgica possui uma divisão de novos negócios, a Gerdau Next, com o objetivo de empreender em segmentos adjacentes ao aço, que está estruturada em quatro clusters estratégicos — sustentabilidade, mobilidade, construção e tecnologia. Para continuar a ter um aço forte, resiliente e lucrativo.