O banco que conecta startups
Apostando cada vez mais na inovação, banco BV diversifica receita e vê conexão com startups como estratégia de crescimento em mão dupla
Por Victoria Ribeiro
Criado em 1988 com as primeiras operações restritas ao mercado de distribuição de títulos e valores imobiliários, o BV (ex-Votorantim) passou por grandes transformações até firmar a sua história com o nome atual, em 2019. Com 450 startups conectadas, 13 contratos firmados, mais de 50 experimentações com empresas emergentes apenas em 2022 e um lucro líquido de R$ 284 milhões no segundo trimestre deste ano, o BV vem traçando uma trajetória focada em diversificação de receita e conquista de parcerias através de uma transformação constante: a digital. “Nosso objetivo é gerar negócios e impactar o cliente, seja ele uma pessoa física ou jurídica”, afirmou Ricardo Sanfelice, diretor da área de Inovação e Dados do BV.
Conhecido hoje como banco parceiro de fintechs e startups, os primeiros passos rumo à construção de um ecossistema de inovação aliado a conexões estratégicas aconteceram em 2017, quando a instituição decidiu realizar um investimento de venture capital no Portal Solar, o primeiro de energia solar do Brasil.
Na época, a ideia surgiu principalmente pelo interesse em diversificar receita. E o olhar para as pessoas por trás do negócio, segundo Sanfelice, foi o que movimentou a parceria. “O segredo de apostar em startups é investir mais no time do que na solução”, disse o diretor.
Como resultado da aposta, o banco BV consolidou seu papel como um dos principais financiadores de painéis solares, tornando essa linha de negócios a segunda mais relevante no setor de varejo, superada apenas pelo financiamento de veículos. Até o final de 2022, a instituição havia estabelecido parcerias com mais de 12 mil instaladores e uma carteira de crédito de R$ 4,6 bilhões.
“Todo mundo me pergunta se o BVx é uma área. E não. É maior do que isso. É um ecossistema interno que atravessa o BV por inteiro.”
Ricardo Sanfelice, diretor de inovação e dados do BV
Outro fato marcante nessa trajetória, de acordo com Sanfelice, aconteceu em 2018, quando o BV assumiu a operação de Banking as a Service (BaaS) da fintech Banco Neon. “Foi uma oportunidade que apareceu e a gente pensou: ‘Opa, tem um negócio aí por trás’”.
Dessa parceria, os holofotes se viraram para o open banking e o surgimento do BV Open, uma plataforma de BaaS que disponibiliza serviços financeiros para outras empresas que ofertam esses mesmos serviços a seus clientes finais.
Hoje, a plataforma tem cerca de 100 clientes – entre eles o Abastece Aí, aplicativo do Grupo Ipiranga, e a startup Meu Financiamento Solar – e gera mais de 120 milhões de transações por mês. “Nós temos vários BVs maiores que o próprio Banco Digital do BV, trabalhando através de terceiros.”
Laboratório
Para garantir a expansão e as parcerias, a tecnologia e a inovação foram essenciais. Ainda em 2018, o BV criou o BV Lab, laboratório de inovação com um time focado na conexão com startups, acompanhamento de tendências de mercado e integração com novas soluções.
Através do projeto nomeado Limpa Trilhos, o tempo para realização das provas de conceitos com startups, que engloba processos como passagem pela área de risco e contrato jurídico, foi reduzido em 85%. “Nós demorávamos quase um ano para conseguir fazer uma prova de conceito. Hoje, levamos em média 15 dias”, afirmou Sanfelice.
Apenas em 2022 foram 60 provas de conceito, que renderam mais de dez contratos fechados. “Nós brincamos que o empreendedor brasileiro de startups não quer mais fazer prova de conceito, porque nunca dá em nada, não vira contrato. Então, a gente nem se orgulha mais do número de provas, mas dos contratos fechados”, disse.
Esse olhar para a inovação refletiu em algo ainda maior do que o BV Lab e, recentemente, todos os departamentos do banco foram atingidos pela aposta na transformação digital através do BVx.
“Todo mundo me pergunta se o BVx é uma área. E não. É maior do que isso. É um ecossistema interno que atravessa o BV por inteiro”, afirmou Sanfelice.
Com mais de 100 pessoas envolvidas, o BVx engloba o BV Lab. Além disso, funciona como radar de empresas emergentes, às vezes adicionadas a operações de M&A.
Esse ponto, na visão do diretor, pode ser encarado como um ciclo virtuoso, que agrega valor de mão dupla. “Você fecha o contrato ao mesmo tempo em que agrega valor, porque aquela startup possui capacidades que não temos ou que queremos desenvolver. É uma espiral ascendente”, disse Sanfelice.
Além do BV Lab, dos programas de inovação aberta, das parcerias digitais e das iniciativas de aproximação com as startups, o BVx engloba os investimentos em venture capital e as áreas de Bank as a Service, que se dividem entre aportes diretos em empresas, como Neon e Portal Solar, e a participação de 12 fundos. E não para por aí.
As perspectivas, movimentadas através das possibilidades geradas pela inovação, são muitas. Segundo Sanfelice, quando o assunto são os planos a curto prazo, o objetivo é se tornar um banco completo no varejo. E, na visão dele, estar cada vez mais presente no canal digital é um dos caminhos.
Agora, quando o assunto é médio e longo prazo, o diretor afirma que os planos incluem as teses que devem transformar a indústria financeira, como o open finance, e o chamado dinheiro do futuro, que engloba tokenização de ativos e o Real Digital (Drex). “Nós temos duas certezas sobre a realidade dos bancos brasileiros: a aposta no futuro é necessária e nós temos que estar nesse jogo.”