Estilo

Leilão on-line oferece as obras mais raras de Volpi

Seis telas que integram o espólio do artista nascido na Itália em 1896 e naturalizado brasileiro serão leiloadas por James Lisboa em evento on-line

Crédito: Domingos Giobbi  I  Luan Torres

Alfredo Volpi pintando em seu ateliê no bairro do Cambuci, em São Paulo, com o inseparável cigarro de palha (Crédito: Domingos Giobbi I Luan Torres)

Por Celso Masson

Nascido em Lucca, na Itália, Alfredo Volpi (1896 – 1988) se mudou para o Brasil com os pais quando ainda era bebê. E foi em São Paulo que ele se consagrou como um dos mais importantes pintores de sua época. Ao longo de décadas de atividade, o artista impôs um estilo inconfundível, que elevou seu nomes e suas obras a uma estatura comparável à de nomes como Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfati e Tarsila do Amaral. Apesar do grande volume de sua produção, formada por centenas de desenhos, telas e gravuras, algumas de suas pinturas permaneceram nas paredes de sua casa, um sobrado no bairro paulistano do Cambuci. Curiosamente, seis delas ficaram com seus herdeiros por muitos anos. Isso faz com que sejam as últimas peças praticamente inéditas do artista.

Agora, esse acervo de família, que estava em comodato no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC SP), finalmente poderá ser adquirido por colecionadores. As telas estão expostas desde o dia 23 no escritório de arte James Lisboa — pertencente ao leiloeiro que conduzirá o pregão on-line no próximo dia 31, às 21h, pelo site www.leilaodearte.com e no Canal Arte1.

Segundo o curador Olívio Tavares Araújo, o que torna essa coleção especial é justamente o fato de o pintor nunca ter colocado nenhuma delas à venda enquanto viveu. “Volpi não tinha vocação de colecionador, nem de si nem de outros. Possuía uns cinco quadros trocados com amigos — como um Milton Dacosta, um Barsotti —, e uma dúzia de sua autoria. Destes, seis se encontram reunidos na presente exposição”, afirmou o curador.

Entre eles, destaque para a tela que homenageia a grande companheira do artista, com quem ele viveu a maior parte de sua vida. Embora seu nome fosse Benedita da Conceição, ela era conhecida pelo apelido Judite. De acordo com a filha do pintor, Djanira Volpi, a obra era a “preferida”’ dele, o coração da casa.

O retrato é uma têmpera sobre tela que traz uma iluminada nudez feminina. Pintada na década de 1940 (Volpi não costumava datar suas obras), terá lance inicial de R$ 6 milhões. Na opinião de Araújo, “o quadro é vigoroso e um pouco dramático”.

Emocionada

Outro destaque do pregão, O Retrato Hilde Weber tem lance inicial em R$ 5,5 milhões. Hildegard Wilhelmine Weber (1913-1994) foi uma desenhista alemã que estudou em Hamburgo e chegou no Brasil em 1933. Aqui, se tornou a primeira chargista da imprensa brasileira, com trabalhos publicados nos jornais Tribuna da Imprensa e O Estado de S. Paulo, além das revistas O Cruzeiro e Manchete.

Para a filha Djanira Volpi, a oportunidade de disseminar ainda a obra do pai é motivo de grande prazer. “Fico emocionada, mas muito feliz”, afirmou. Já o leiloeiro James Lisboa disse que a grandiosidade desse pregão está em seu ineditismo: “É como comprar uma obra direto das mãos de Volpi”.

Famoso por suas bandeirinhas que rementem a festas juninas, Volpi nunca abandonou suas origens simples e nem o jeito de pintar que o tornaram um artista reconhecido internacionalmente. Para pintar, calçava tamancos e picava o fumo no qual enrolava seus indispensáveis cigarrinhos de palha.

Araújo recorda que antes de executar uma obra, Volpi fazia pequenos estudos sobre cartão “para testar novas composições ou novos coloridos” e então realizava as versões definitivas em formato maior.

Um desses estudos foi para o painel Dom Bosco, encomendado pelo diplomata Wladimir Murtinho, então encarregado pelo Ministério das Relações Exteriores para formar o acervo artístico do Palácio do Itamaraty, em Brasília. “O painel foi executado in loco pelo próprio Volpi utilizando a difícil técnica renascentista do afresco, a mais adequada à pintura mural”, afirmou Araújo.

Para o leilão, o estudo de Dom Bosco parte com lance de R$ 1 milhão.

Ao alto, O Retrato Hilde Weber, que tem lance inicial de R$ 5,5 milhões. Ao centro, estudo para o painel Dom Bosco, pintado no Palácio do Itamaraty, em Brasília, que parte de R$ 1 milhão. Abaixo, a têmpera sobre tela Judite, homenagem a companheira do artista, cujo lance inicial é R$ 6 milhões