Aprenda a investir com Bill Ackman, o genial gestor do Pershing Square
Por Norberto Zaiet
Há muito tempo não nos deparávamos com tantos desafios ao mesmo tempo. Inflação, déficits fiscais, aperto monetário, ataques terroristas, duas guerras em andamento e, como pano de fundo, uma economia americana que não quer desacelerar. O Federal Reserve vai conseguir trazer a inflação para a meta de 2%? Os déficits fiscais americanos continuarão crescendo exponencialmente? Os EUA sofrerão um ataque terrorista? A economia americana vai entrar em recessão? Ninguém sabe as respostas para essas questões, mas nada nos impede de tentar prever a direção que os eventos podem tomar.
Em fevereiro de 2020, antes de que se conhecesse a seriedade da Covid-19, o bilionário Bill Ackman, gestor do Pershing Square (um dos hedge-funds mais bem-sucedidos do mercado) já havia previsto que a doença seria devastadora. Ackman é um investidor detalhista e metódico, e quando a doença estourou em Wuhan, na China, ele se informou a fundo sobre tudo o que se passava por lá. Conversou com especialistas e analisou o problema de um ponto de vista técnico e objetivo. Em fevereiro montou uma posição enorme, comprando proteção no mercado de derivativos de crédito. Com o crash que aconteceu em março, Ackman ganhou uma fortuna e, com o lucro, comprou suas ações preferidas a preços de liquidação. Ganhou com o crash — e ganhou mais ainda com a recuperação do mercado na sequência. Tacada de mestre.
Ackman acertou em cheio ao apostar que as taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos subiriam, considerando o déficit fiscal crescente em um mercado com cada vez menos compradores de dívida
Ackman não teve sorte, não contou com o acaso e nem com o ‘achismo’. Não concluiu nada baseado em dogmas, crenças ou certezas pré-concebidas. Foi atrás da informação, e isso lhe deu uma enorme vantagem comparativa em relação ao resto do mercado. Ackman é um superforecaster.
Superforecasting é um conceito criado por Philip Tetlock e Dan Gardner em um livro homônimo publicado em 2015. É uma leitura obrigatória para qualquer gestor. Pessoas como Ackman possuem características que Tetlock e Gardner resumiram em um modelo mental.
Os superforecasters são cuidadosos (não têm certeza de nada), humildes e não-determinísticos, ou seja, assumem que nada que acontece estava fadado a acontecer. Têm mente aberta, são intelectualmente curiosos, reflexivos (introspectivos e autocríticos) e confortáveis em expressar-se com números. São pragmáticos, analíticos e valorizam escutar diversas posições diferentes antes de sintetizar em um caminho próprio. São probabilísticos; quando os fatos mudam, suas opiniões mudam também. São cientes dos seus vieses emocionais e cognitivos, acreditam que podem melhorar sempre e não desistem com facilidade.
Para Tetlock e Gardner, a característica mais importante é a capacidade de mudar de opinião. Os superforecasters não são donos da verdade. Têm a humildade para saber que nem sempre estão com a razão. Esse é o modelo mental, o hardware necessário. O software é a busca incessante por dados e informações, além do trabalho analítico minucioso. A combinação desses dois elementos é poderosa.
Recentemente, Ackman zerou suas posições vendidas em taxas de juro americanas. Mais uma vez acertou em cheio apostando que as taxas de juros de longo prazo subiriam, considerando o déficit fiscal crescente em um mercado com cada vez menos compradores de dívida. Tendo zerado a posição, Ackman acredita que chegamos no pico dos juros, pelo menos por enquanto. Vale a pena levar sua opinião a sério.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York