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O medo da alternativa Milei

Crédito: Tomas Cuesta/AFP

Carlos José Marques: "Em uma roteiro de bolsonarização de princípios, Milei prega a escalada armamentista da população" (Crédito: Tomas Cuesta/AFP)

Por Carlos José Marques

Também no setor produtivo brasileiro, entre empresários, financistas e agentes do mercado, reina nos últimos tempos um temor de que o candidato extremista argentino, Javier Milei, ainda arrebate as eleições naquele país e promova o que vem sendo apontada como a receita do caos definitivo — não apenas para lá, com reflexos consideráveis nas demais praças da região também. Milei saiu em segundo lugar das urnas, contrariando as expectativas que o colocavam em primeiro e ainda previa a sua vitória logo no primeiro turno, mas permanecem boas as chances de o candidato garantir a presidência com os votos que podem migrar para o seu lado, advindos da terceira colocada na disputa, Patricia Bullrich, crítica feroz do peronismo que pontifica no atual governo. Analistas dizem que Milei já bateu no teto, porém em uma corrida presidencial tão acirrada e repleta de nuances econômicas que dão o tamanho da crise tudo é possível. E com ele o que pode vir? A dolarização, promessa de campanha, já aplicada com retumbante fracasso lá atrás, seria o pior dos males. Nas esquizofrenias de Milei existe, decerto, muito mais. Por exemplo: O fim do Banco Central, colocando de ponta-cabeça o controle monetário é ideia capaz de colocar em pé os cabelos dos investidores.

O bloco Mercosul, que a figura considera irrelevante, provavelmente será escanteado na sua eventual presidência e, a partir daí, boa parte das relações comerciais que o Brasil mantém com o parceiro. Em uma relação para lá de delicada, Milei não nutre qualquer apreço pelo petista Lula (ao contrário!) e com a ascensão ao poder ele pode mudar o jogo político entre as duas nações de forma perigosa. Milei é tido, na banda do governo brasileiro, como um coquetel intragável de males diversos, quase a repetir o incômodo de aporrinhações gerada tempos atrás pelo capitão Bolsonaro. Em uma roteiro de bolsonarização de princípios, Milei prega a escalada armamentista da população. Irá, caso eleito, aumentar o preço dos transportes, desmantelar estruturas prol direitos humanos na Argentina e rever as relações comerciais internacionais unilateralmente à luz de um pretenso novo pacto que traga incentivos artificiais às exportações do País.

O pesadelo em pessoa, sua figura surgiu no rastro e espaço de um voto de protesto contra o que está aí, mas, ao cabo desse segundo turno, sua vitória pode trazer consequências avassaladoras. A Argentina ainda possui chances concretas de evitar o pior. Com a alternativa Sergio Massa, que largou na frente superando o favoritismo ultraliberal de Milei, o quadro é mais promissor. Candidato da situação, ele carrega certa dose de continuidade, embora se apresente mais ao centro do que o atual presidente Alberto Fernández. A máquina do Estado e uma ampla coalizão partidária jogam a seu favor. Milei, de sua parte, tem a vantagem de supostamente representar renovação, em especial junto à militância juvenil que admira o espírito liberal, roqueiro e irreverente dele.

Nas eleições argentinas, a desilusão misturada aos sentimentos de raiva e medo trazem um grande ponto de interrogação ao processo eleitoral em curso. Para a banca brasileira, o que vem por aí pode significar um terremoto grande.