Capobianco, o ‘síndico’ do Ibirapuera que está mudando a cara do parque
Roberto Capobianco está à frente da Urbia Parques, responsável pela gestão do espaço verde paulistano. Expectativa é encerrar o ano com faturamento de R$ 100 milhões
Por Sérgio Vieira
Em meados da década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o então jovem militar e futuro engenheiro Júlio Capobianco (que em 1955 fundaria a Construcap) adorava acampar na região onde hoje está o Parque Ibirapuera, em São Paulo. Naquela época, nem de longe lembrava a estrutura que conhecemos atualmente. Oficialmente, ele nem existia. Era literalmente uma várzea. Mas ficava claro, naquele período, a paixão de Júlio (que completa 101 anos dia 22 de novembro) com a causa ambiental. Essa proximidade com o local seguiu firme, e o parque tornou-se uma das principais referências de passeio com os sete filhos. Tanto é que um deles virou ambientalista, João Paulo Capobianco, atual secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o primeiro nome abaixo de Marina Silva. Mas esta história é sobre outro filho, Roberto Capobianco, atual comandante da Construcap e presidente da Urbia Parques, concessionária que assumiu, há exatos três anos, justamente a gestão do Ibirapuera. A concessão, de 35 anos, vai até 2055.
Além dos fatores ambiental e sentimental, a concessão do parque tem se mostrado um ótimo modelo de negócio, ao contrário do que muita gente dizia à época, quando ele participou da concorrência da Prefeitura de São Paulo. “Fui chamado de louco e diziam que eu tinha pagado R$ 70 milhões (que foi o valor da outorga) para cortar grama. Mas a gente tinha um modelo de negócios bem definido”, disse Capobianco à DINHEIRO.
“Antigamente eu vinha ao parque a lazer. Agora eu venho a trabalho. Nossa família quer deixar um legado para a cidade de São Paulo.”
Roberto Capobianco, presidente da Urbia
De fato, os números mostram que de louco ele não tinha nada. Para se ter uma ideia do quanto um parque pode gerar resultado, a expectativa é de que a Urbia encerre o ano com R$ 100 milhões de receita com o Ibirapuera.
O faturamento está concentrado em quatro pilares:
• patrocínios de empresas em ações sustentáveis (como a da Braskem), que respondem por cerca de 40% do total,
• eventos,
• ativações de marcas,
• setor de alimentos & bebidas.
“Essa sempre foi uma demanda do público, que não tinha opções de comida e bebidas. Estamos criando toda essa infraestrutura, que está crescendo muito.”
No período, foi inaugurado o Restaurante Selvagem, e há planejamento de entrega, no ano que vem, de um restaurante italiano (Bottega Bernacca) e mais um estabelecimento, ainda não definido.
A Urbia também recuperou as pistas de corrida, que hoje são patrocinadas e construiu uma pista de skate, com apoio da Nike. Tudo isso com entrada gratuita. “Quando entramos, tivemos de lidar com uma polêmica na época, já que diziam que haveria cobrança de ingresso. E isso nunca foi verdade.”
Fora outros ganhos que os frequentadores passaram a ter. Na parceria com a Braskem, está o gerenciamento adequado dos resíduos gerados pelos frequentadores, o que inclui a instalação de uma central de reciclagem. Desde o início da concessão, foram coletadas 10.747 toneladas de resíduos, somando recicláveis e não recicláveis.
“Temos todos os preceitos das práticas ESG. E as marcas têm interesse em estar com a gente”, disse Capobianco.
Neste ano, a Urbia conseguiu adotar o modelo de aterro zero no parque. A iniciativa contempla formatos de reuso, como a geração de adubo, que utiliza resíduos orgânicos, e aproveita o coco verde vendido e consumido no parque.
O plano de investimentos no Ibirapuera é audacioso: chegar a R$ 200 milhões aportados até 2025. De 2020 até agora, já foram alocados R$ 130 milhões, principalmente na revitalização ambiental e na modernização de equipamentos. O custo operacional do Ibirapuera gira em torno de R$ 65 milhões por ano.
Dos R$ 70 milhões restantes dos investimentos previstos, a maior parte será aplicada no ano que vem, quando a cidade de São Paulo completará 470 anos e o Ibirapuera chegará aos 70 anos. Entre as atrações, o relançamento do Planetário, a criação de um selo comemorativo e uma série de atividades culturais.
A empresa também realizou financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 243 milhões, por meio do Fundo Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Além de obras de restauração de edifícios tombados, o recurso será empregado em:
• infraestrutura,
• acessibilidade,
• recuperação ambiental,
• segurança.
Hoje existem 200 câmeras de monitoramento.
O horizonte de crescimento na receita no parque está diretamente relacionado ao aumento significativo do volume de frequentadores. A expectativa é de que o Ibirapuera feche o ano com cerca de 17 milhões de visitantes. No ano passado, foram 14,5 milhões. Somente no feriado prolongado de 7 de Setembro deste ano (quinta-feira a domingo), o Ibirapuera recebeu 600 mil pessoas. Para ter uma ideia do que representa este volume, em setembro inteiro de 2022 foram 800 mil. “O parque é muito agradável. Todo mundo quer passear no Ibirapuera, seja morador de São Paulo ou turista.”
Concessões
No fim do ano passado, a empresa associou-se ao Grupo Cataratas na administração do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Em São Paulo, além do Ibirapuera, a Urbia também assumiu, no pacote da concessão da Prefeitura, a gestão de outros cinco parques paulistanos, de menor tamanho e menos centrais.
“É um projeto de inclusão, de levar os mesmos serviços para esses parques mais distantes. Fazemos manutenção cuidadosa desses espaços também”, disse o executivo.
Como forma de criar mais uma receita relacionada ao espaço público, a Urbia criou um circuito (o 3 Parques em 1 Dia), que inclui passeios no Horto Florestal, Cantareira (também administrados pela empresa, mas em parceria com o Estado), além do Ibirapuera, iniciando por uma visita monitorada, chamada Ibiratour, e saída para os parques na Zona Norte de São Paulo, realizadas aos sábados, com datas divulgadas previamente.
Capobianco não esconde que o Ibirapuera continua sendo um de seus locais preferidos de São Paulo. Mas agora a visão é outra. “Antigamente eu vinha a lazer. Agora eu venho a trabalho. Nossa família quer deixar um legado para a cidade. E não poderia ser mais significativo do que cuidar do Ibirapuera.”